Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Os presidentes do Brasil, França e África do Sul: Lula, Pedro Sánchez, e Cyril Ramaphosa, respectivamente, escreveram, nesta sexta-feira (06/03), um artigo conjunto em defesa do multilateralismo. No Brasil, o texto foi publicado pelo jornal O Globo, e no exterior, pelo Groupe d’études géopolitiques (Grupo de Estudos Geopolíticos), centro de pesquisa da Escola Normal Superior de Paris.

Intitulado “Unindo forças para superar os desafios globais”, o texto afirma que o ano de 2025 será “crucial para o multilateralismo” diante dos desafios como aumento das desigualdades, mudanças climáticas e o déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável.

Classificando esses problemas como “urgentes e interconectados”, Lula, Sánchez e Ramaphosa defendem que apenas serão resolvidos como “uma ação ousada e coordenada, e não um recuo para o isolamento, ações unilaterais ou interrupções”.

Pensando nisso, os mandatários exaltaram “três grandes reuniões globais que oferecem uma oportunidade única de traçar um caminho em direção a um mundo mais justo, inclusivo e sustentável”: a Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4) em Sevilha, na Espanha, que será realizada entre 30 de junho e 5 de julho; a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em Belém, no Brasil, entre 10 e 21 de novembro; e a Cúpula do G20 em Joanesburgo (África do Sul) em 22 e 23 de novembro.

Nesses eventos internacionais, é comum que mandatários do mundo inteiro se reúnam e publiquem um relatório do encontro, firmando compromissos para resolver os desafios mencionados. Mas dessa vez, os presidentes defendem que as reuniões “não devem ser como de costume”, e sim “proporcionar um progresso real”.

Os presidentes reconhecem que as instituições multilaterais que sediam os eventos estão sob uma crise de “confiança” e “sob pressão”, mas pontuam que a “necessidade de diálogo e cooperação global nunca foi tão grande” e que o multilateralismo pode sim oferecer resultados.

“Devemos reafirmar que o multilateralismo, quando ambicioso e orientado para a ação, continua sendo o veículo mais eficaz para enfrentar desafios compartilhados e promover interesses comuns”, defendem.

Mas para isso, é necessário “forte vontade política, a participação plena de todas as partes interessadas relevantes, uma mentalidade criativa e a capacidade de entender as restrições e prioridades de todas as economias”.

Beto Barata/PR
Conferências da ONU neste ano devem gerar “ações concretas” defenderam presidentes

Falando justamente sobre a economia, os presidentes lembraram o constante aumento da desigualdade de renda “tanto dentro das nações quanto entre elas”.

“Muitos países em desenvolvimento lutam com cargas de dívidas insustentáveis, espaço fiscal restrito e barreiras ao acesso justo ao capital. Serviços básicos, como saúde ou educação, precisam competir com taxas de juros crescentes”, afirmaram, defendendo que “isso não é apenas uma falha moral, mas um risco econômico para todos”.

Defenderam assim que “a arquitetura financeira global deve ser reformada para proporcionar aos países do Sul Global maior voz e representação e acesso mais justo e previsível aos recursos”.

Para isso, listaram as prioridades: avançar nas iniciativas de alívio da dívida, promover mecanismos de financiamento inovadores e trabalhar para identificar e abordar as causas do alto custo de capital enfrentado pela maioria dos países em desenvolvimento.

“O G20, sob a presidência da África do Sul, está priorizando essas três áreas”, disseram. Segundo o texto, o FfD4 de Sevilha também trabalhará por uma “cooperação financeira internacional mais forte”, inclusive por meio da tributação de grandes fortunas.

Na pauta das mudanças climáticas, os presidentes afirmaram que “para muitos países em desenvolvimento, as transições climáticas justas continuam fora de alcance devido à falta de fundos e às restrições de desenvolvimento”. Por isso, a COP30 em Belém deve gerar “ações concretas”.

“Precisamos aumentar significativamente o financiamento da adaptação climática, alavancar o investimento do setor privado e garantir que os bancos multilaterais de desenvolvimento assumam um papel mais importante no financiamento climático”, instaram.

“Em Sevilha, trabalharemos para mobilizar o capital público e privado para o desenvolvimento sustentável, reconhecendo que a estabilidade financeira e a ação climática são inseparáveis. Em Joanesburgo, o G20 reafirmará a importância do crescimento econômico inclusivo. E em Belém, estaremos juntos para proteger nosso planeta”, resumiram.

Na conclusão do artigo, Lula, Sánchez e Ramaphosa “conclamaram” todas as nações, instituições internacionais, o setor privado e a sociedade civil a fazer parte de seu plano pelo multilateralismo porque ele “pode e deve dar resultados”, afinal “os riscos são altos demais” caso fracasse.