O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o governo de Barack
Obama participe da discussão sobre o acordo militar entre Estados
Unidos e Colômbia. Durante sua intervenção na cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), realizada hoje (10) em Quito, no Equador, ele expressou preocupação com as novas bases que devem ser estabelecidas em território colombiano e sugeriu uma reunião de emergência.
Lula fez um chamado aos países da Unasul para que cobrem, em bloco, uma explicação do governo dos Estados Unidos. “Isso se resolve com uma conversa”, afirmou o presidente. No entanto, a reunião de hoje terminou sem nenhuma condenação ao acordo militar.
“Ventos de guerra começam a soprar”, alertou o presidente venezuelano Hugo Chávez, que se queixou de a terceira reunião ordinária do bloco não ter incluído o polêmico assunto na declaração final.
Os chanceleres da Unasul haviam decidido não formular nenhum pronunciamento a respeito, pela falta de consenso sobre uma proposta de resolução apresentada pela Bolívia para que o organismo rejeitasse a instalação de bases militares estrangeiras na região.
No entanto, concordaram em convocar uma próxima reunião, ainda em agosto, para que os ministros de Relações Exteriores e da Defesa discutam o assunto e tentem alcançar uma postura comum.
O discurso de Chávez, que chegou a dizer que a Venezuela está se preparando para essa guerra e acusou a Colômbia de defender a tese do ataque preventivo, gerou declarações de outros presidentes.
A argentina Cristina Kirchner advertiu sobre um “estado de beligerância inédito e inaceitável” e se ofereceu como anfitriã para uma cúpula extraordinária da Unasul, em Buenos Aires, para tratar do tema com a presença do presidente colombiano Alvaro Uribe, que não compareceu ao encontro em Quito.A Colômbia não mantém relações diplomáticas com o Equador.
O boliviano Evo Morales afirmou que é “obrigação” da Unasul “salvar o povo colombiano dos militares americanos”, enquanto o paraguaio Fernando Lugo pediu que não “coloquem nenhum governante no banco dos réus”, em alusão a Uribe.
Lula disse que a Unasul convida os EUA “a uma discussão profunda” sobre sua relação com a América do Sul.
Venezuela versus Colômbia
Chávez sugeriu que a Colômbia deixe a Unasul, afirmando que o
presidente Álvaro Uribe mostra ser contrário à união sul-americana, por
“estar subordinado ao mandato do Império”.
“Alguns não querem caminhar. O governo da Colômbia, por
exemplo, não quer a unidade, está atuando contra a união”, afirmou
antes do início da cúpula.
A vice-chanceler colombiana Clemencia Forero, que representou o país na cúpula, respondeu que a negociação entre Colômbia e Estados Unidos só estabelece um acesso limitado de militares norte-americanos.
“Não houve nem haverá bases militares estrangeiras na Colômbia, nem as pedimos nem os Estados Unidos pensam em instalá-las. As bases continuam sendo colombianas, inteiramente sob jurisdição e soberania colombiana”, disse Forero após a intervenção do presidente venezuelano.
O governo da Colômbia considerou “positivo” que não tenha havido nenhuma menção ao acordo militar no documento final da cúpula, segundo um porta-voz da chancelaria consultado pela agência EFE. Ele afirmou que a Colômbia “não considera oportuno” comparecer à reunião entre ministros da Defesa e das Relações Exteriores “pelas mesmas razões” pelas quais o Álvaro Uribe não esteve em Quito hoje.
Sobre a participação do presidente colombiano em uma cúpula de presidentes da Unasul na Argentina, assinalou que ainda não há confirmação.
A Unasul é integrada por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Posse dupla
Além de tomar posse para o segundo mandato como presidente do Equador, Rafael Correa assumiu também a liderança temporária da Unasul. Ele declarou que continuará fazendo o trabalho exercido até hoje pela presidente chilena, Michelle Bachelet.
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No discurso de posse, Correa disse que sua gestão terá uma visão mais “pragmática” e buscará, entre outras coisas, impulsionar a criação do Banco do Sul, eliminar qualquer ato de discriminação, exercer uma integração mais “ágil e concreta”, produzir energia limpa e colocar a região em posição mais destacada no cenário internacional.
Resultados
Apesar de não ter havido um pronunciamento comum sobre as bases militares na Colômbia, os presidentes entraram em acordo sobre a criação dos Conselhos de Infraestrutura e Planejamento, de Luta contra o Narcotráfico, de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovações e de Desenvolvimento Social.
O documento final da terceira reunião da Unasul propõe encorajar o fortalecimento da integração regional, com a possível criação da “cidadania sul-americana” ou de um Conselho Sul-Americano de Direitos Humanos.
(Ampliada às 20h21)
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