O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a defender nesta segunda-feira (05/08) a necessidade do diálogo entre o governo da Venezuela e a oposição, assim como a divulgação das atas eleitorais por mesa de votação como alternativa para superar a crise pós-eleitoral instaurada no país caribenho.
“O respeito pela tolerância e pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados. O compromisso com a paz é que nos leva a conclamar as partes ao diálogo e promover o entendimento entre governo e oposição”, disse o mandatário brasileiro após uma reunião interna com seu homólogo chileno, Gabriel Boric, no Palácio de La Moneda, no centro da capital chilena de Santiago.
Em discurso à imprensa, Lula lamentou que seu país já tenha sido, num passado, conivente à ditadura chilena. Sem mencionar o ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, lembrou ainda que o Brasil passou recentemente por uma combinação de “autoritarismo” e “neoliberalismo”.
“Sabemos que a arbitrariedade é inimiga do bem-estar e que a democracia não se sustenta sem um Estado que garanta direitos. Nos últimos anos, o Brasil experimentou uma versão tacanha da mesma combinação de autoritarismo político e neoliberalismo econômico” afirmou o presidente.
Lula ainda mencionou a nota conjunta divulgada pelo seu governo com os da Colômbia e do México, na semana passada, revelando, sem detalhes maiores, que tem empreendido com os países iniciativas referentes ao processo político venezuelano.
“Expus [em conversa com Boric] as iniciativas que tenho empreendido com os presidentes Gustavo Petro (Colômbia) e Lopez Obrador (México) em relação a processo político na Venezuela”, indicou.
O presidente Gabriel Boric, de esquerda, por sua vez, optou pelo silêncio em questões relacionadas à Venezuela, destacando apenas as oportunidades econômicas e as alianças comerciais firmadas entre seu país e o Brasil
“Essa visita é sobre a relação entre Chile e Brasil. Sei que poderá haver perguntas sobre outros temas, em particular em relação à Venezuela. Vou me referir a isso amanhã à tarde”, disse.
O chefe de Estado chileno foi um dos países latino-americanos que contestou a vitória eleitoral de Maduro, tendo como consequência o seu corpo diplomático retirado de Caracas.
Acordos bilaterais com Chile
Os presidentes do Brasil e do Chile assinaram 19 acordos e outros atos bilaterais em áreas que vão do turismo, ciência e tecnologia, defesa, agropecuária e direitos humanos até as relações comerciais e de investimentos.
Embora os dois países já tenham mais de 90 acordos bilaterais em vigor e um comércio equilibrado, tratava-se num âmbito pouco diversificado. Nesse sentido, as celebrações de hoje tem como objetivo buscar a diversificação.
Em discurso, Lula destacou as colaborações pactuadas para a integração real entre os países sul-americanos, especialmente nas áreas de mudanças climáticas.
“Os desafios representados pelas catástrofes naturais e pelo crime organizado atravessam países. Os incêndios de 2023 no Chile e as enchentes deste ano no Sul do Brasil põem em xeque o negacionismo climático e reforçam a necessidade de cooperação. A proposta chilena de estabelecer um mecanismo regional de resposta a desastres conta com nosso respaldo e nosso apoio”, destacou o presidente brasileiro.
Boric também reforçou a importância de atos que devem ampliar o fluxo comercial e turístico entre ambas as nações, além de ações conjuntas no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Durante o encontro foi assinado um tratado sobre extradição.
Vale lembrar que o Brasil é o terceiro maior parceiro comercial do Chile, com um intercâmbio na área que atinge US$ 12,3 bilhões por ano. O país vizinho exporta para o Brasil, basicamente, cobre, pescados e minérios. Por outro lado, o Chile é o sexto maior destino das exportações do Brasil; petróleo, carne bovina e automóveis são os principais produtos exportados.
Falando de integração, Lula também destacou a colaboração do Chile nos grupos de trabalho do G20, cuja presidência está com o Brasil, incluindo o apoio do país andino no projeto da Aliança Global contra a Fome e Pobreza.
“Ambos acreditamos que a política de valorização do salário mínimo é fundamental para que os benefícios do desenvolvimento sejam compartilhados por todos. O presidente Boric é um aliado natural na garantia dos direitos dos trabalhadores e espero que possa se somar à parceria que lancei, no ano passado, com o presidente Biden”, destacou Lula.
O mandatário chileno também foi convidado a participar da reunião de líderes contra o extremismo, que deve ocorrer à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em setembro, na cidade norte-americana de Nova York. O encontro está sendo encabeçado por Lula e o presidente da Espanha, Pedro Sánchez.
(*) Com Agência Brasil