“A prioridade número um, para mim, passou a ser a escala europeia”, afirmou Macron durante um fórum sobre o futuro da Europa, realizado na capital alemã. “É aqui que podemos desbloquear muito crescimento e potencial”, argumentou.
Depois de ter feito uma série de reformas impopulares na França, como o aumento da idade mínima de aposentadoria para 64 anos, e ter ampliado o número mínimo de meses trabalhados para ter acesso ao seguro-desemprego – medida que prejudica os jovens em início de carreira e desempregados com mais de 50 anos –, Macron tentará manter o pouco de influência que lhe resta no plano europeu.
Na terça-feira (01/10), em seu discurso de política geral na Assembleia do Deputados, o primeiro-ministro Michel Barnier anunciou a intenção de pôr em prática uma série de medidas que eram consideradas uma linha vermelha para o presidente, entre elas um aumento de impostos para as empresas. Em Berlim, Macron afirmou que aprovava “uma tributação excepcional de grandes empresas”, pontuando que a medida deve ter caráter temporário, para não prejudicar o crescimento do país.
“Diante da degradação das contas públicas na França, a solução não deve ser um ajuste de curto prazo que reduza as despesas sociais (…) nem sobretaxas, uma vez que não temos grandes margens de manobra fiscal”, avaliou o chefe de Estado.
Nos últimos sete anos, Macron impôs a seus ministros da área econômica um programa de redução da carga tributária francesa, considerada uma das mais altas do mundo.
Os cortes de impostos beneficiaram multinacionais, pequenas e médias empresas, pequenos empreendedores e pessoas físicas. Macron apostou em uma política de oferta destinada a estimular o consumo e os investimentos. No entanto, a eliminação de alguns impostos não foi compensada por receitas adicionais.
Com a crise gerada pela guerra na Ucrânia e outras tensões geopolíticas, houve acirramento da concorrência internacional e queda nas exportações francesas. Em consequência desses desequilíbrios, a França se encontra com um déficit público projetado de 6,2% do PIB em 2024, uma dívida de € 3 trilhões e submetida a um programa de saneamento fiscal imposto pela União Europeia.
Aposentados podem perder gatilho da inflação
O primeiro-ministro Michel Barnier, que prepara o orçamento de 2025 a ser apresentado no dia 10 de outubro ao Parlamento, informou nesta quarta que pretende fazer os aposentados participarem do esforço fiscal para diminuir o rombo nos cofres do Estado.
Barnier e sua equipe estudam medidas para cortar € 60 bilhões de despesas públicas nos próximos 12 meses. A indexação das pensões de aposentadoria à inflação, uma medida politicamente sensível e que estava prevista para entrar em vigor em janeiro de 2025, será adiada por seis meses, para permitir ao Estado economizar cerca de € 4 bilhões.
A central sindical CGT denunciou uma medida de austeridade fiscal que penaliza os aposentados com pensões modestas, que já enfrentam sérias dificuldades para pagar as despesas de energia, alimentação e saúde. “O governo continua opondo população ativa e aposentados, em vez de tributar os rendimentos exorbitantes do capital”, criticou a CGT em um comunicado.