Quinta-feira, 15 de maio de 2025
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Em entrevista realizada nesta segunda-feira (28/10) em um canal de televisão local, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez acusações contra o Itamaraty e seu papel no rechaço à candidatura venezuelana para ser um dos novos países parceiros do BRICS.

“Não estou trazendo nenhuma novidade quando digo que o Itamaraty tem sido um poder dentro do poder no Brasil, durante anos. É uma chancelaria que nós conhecemos bem e que sempre conspirou contra a Venezuela”, disse o mandatário bolivariano.

Segundo o líder venezuelano, “há uma ideologia muito antibolivariana” no Itamaraty. “O Brasil está mantendo o veto (contra a Venezuela no BRICS) nos mesmos termos usados pelo governo de Jair Bolsonaro, não mudou nenhum ponto, nenhuma palavra, nem uma vírgula do veto imposto por Bolsonaro em quatro anos de governo”, completou.

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Maduro também afirmou que o Itamaraty “é uma chancelaria muito vinculada ao Departamento de Estado dos Estados Unidos desde a época do golpe de Estado contra João Goulart nos Anos 60 (em 1964)”.

“(Naquele então) a ditadura entregou o Itamaraty e o serviço exterior do Brasil ao Departamento de Estado (dos Estados Unidos). Todas as escolas de formação diplomática do Brasil foram instaladas e influenciadas pela diplomacia imperial dos Estados Unidos. Praticamente não há funcionário que não tenha algum tipo de vínculo com o Departamento de Estado”, acrescentou o presidente venezuelano.

Em outro momento da entrevista, Maduro contou que nos Anos 2000, quando ele era chanceler da Venezuela, o Itamaraty também teria colocado obstáculos ao ingresso do seu país ao Mercosul – essa adesão se concretizou em 2012, “graças a uma ação da presidente Dilma, em seu momento, com uma vontade de aço”, segundo o mandatário do país vizinho, durante a mesma entrevista.

Maduro também pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que se manifeste publicamente para explicar o motivo do veto do Brasil à adesão da Venezuela como país parceiro do BRICS.

Cúpula na Rússia

Ao relatar os acontecimentos durante a participação venezuelana na 16ª Cúpula do BRICS, realizada há uma semana, na cidade russa de Kazan, Maduro disse que a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e o chanceler do país, Yván Gil, teriam conversado com representantes do Itamaraty que participaram do evento, e que esses interlocutores teriam assegurado que o Brasil não vetaria a Venezuela.

“Nestas conversas em privado, eles (a diplomacia brasileira) diziam que não vetariam a Venezuela. Mantiveram (a afirmação) uma, duas, três, quatro vezes. O chanceler do Brasil, Mauro Vieira, me disse: ‘presidente Maduro, o Brasil não vetará a Venezuela’”, recordou o líder bolivariano.

Maduro afirmou que um dos funcionários diplomáticos brasileiros, Eduardo Saboia, teria sido o responsável pela decisão de negar a adesão venezuelana ao BRICS.

La Iguana TV
Maduro fez acusações contra o Itamaraty após o Brasil rechaçar o ingresso da Venezuela como país parceiro do BRICS, na última cúpula do bloco.

“Apareceu um funcionário brasileiro chamado Eduardo Saboia, de triste e obscuro passado bolsonarista, muito questionado no Brasil, que afirmou de maneira direta que o Brasil iria vetar a Venezuela, e exerceu um poder de veto imoral e inexplicável”, questionou o mandatário.

O “triste e obscuro passado” mencionado por Maduro foi o caso ocorrido em 2012, quando Eduardo Saboia ajudou o então senador boliviano Roger Pinto Molina, líder do partido de extrema direita Ação Democrática Nacionalista, a conseguir asilo político na embaixada do Brasil em La Paz, e em sua fuga para Brasília, posteriormente.

Pinto Molina alegava ser vítima de “perseguição do regime de Evo Morales”, mas era acusado na Justiça por corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento com o narcotráfico. O político morreu em agosto de 2017, após um acidente de avião no interior de Goiás.

Eduardo Saboia foi um dos membros da comitiva brasileira que participou da Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia.