Centenas de pessoas protestaram na noite desta quinta-feira (09/03) na Cidade da Guatemala, capital do país, contra o governo do presidente guatemalteco, Jimmy Morales, e pediram a responsabilização do Estado pela tragédia no Lar Seguro Virgem da Assunção, abrigo público de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Um incêndio ocorrido no abrigo na quarta-feira (08/03) causou a morte, até agora, de 37 meninas, todas entre 12 e 17 anos, que viviam no centro. Outras 18 seguem internadas em estado grave.
Segundo as primeiras investigações, as próprias jovens atearam fogo em colchões para protestar contra maus tratos e abusos sexuais que sofriam no local, que fica no município de San José Pinula, a 25 km a sudeste da capital guatemalteca. Menores de 18 anos órfãos, vítimas de violência ou cujas famílias não têm condições de criá-los eram encaminhados para o abrigo por ordem judicial.
Agência Efe
Manifestantes diante do Palácio Nacional da Cultura, na Cidade da Guatemala, protestam após mortes de internas em abrigo
Na quinta-feira (09/03), manifestantes se concentraram diante do Palácio Nacional da Cultura à tarde e protestaram contra o descaso do Estado e do governo em relação à situação das crianças e adolescentes internadas neste e em outros abrigos públicos. Diante da Casa Presidencial, manifestantes pediram a renúncia de Morales, presidente do país desde janeiro de 2016.
Um jovem do centro, Daniel, disse à imprensa guatemalteca que as meninas estavam trancadas em uma sala de aula no momento da tragédia, um castigo imposto pelos funcionários do centro pela “revolta” e tentativa de fuga de 40 crianças no dia anterior. Segundo ele, as autoridades do local “não as ajudaram”, demoraram a reagir durante o incêndio e não deixaram os outros jovens do centro ajudar a socorrê-las.
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O Lar Seguro Virgem da Assunção esteve envolvido em polêmica desde outubro do ano passado. Pelo menos 47 jovens fugiram na ocasião, o que levou a secretaria da presidência encarregada da guarda e custódia a destituir o então diretor.
No fim do ano passado, o Mecanismo Contra a Tortura do Estado guatemalteco fez três visitas ao local e elaborou relatórios com recomendações às autoridades para melhorar as condições no abrigo. Algumas foram atendidas, mas entre as que foram ignoradas até agora estavam as referentes à segurança, afirmou Carlos Solórzano, presidente relator do órgão, ao jornal guatemalteco Prensa Libre.
Agência Efe
Manifestantes fizeram vigília diante do Palácio Nacional da Cultura em memória às meninas mortas no incêndio no abrigo Lar Seguro Virgem da Assunção, na Guatemala
O centro abriga 748 meninos e meninas, embora o local tenha capacidade para 400. Entre eles, além de crianças órfãs, vítimas de violência ou cujas famílias não têm condições de criá-los, também há jovens acusados de pertencer a grupos criminosos, segundo denunciaram os familiares. Eles também afirmam que as crianças e adolescentes sofrem agressões físicas no local, tanto por parte de outros jovens internos ou dos funcionários.
O governo ordenou o fechamento temporário do centro e a transferência dos jovens que vivem no local para outros abrigos. O Executivo também decretou três dias de luto e reconheceu que a tragédia poderia ter sido evitada, mas responsabilizou também as autoridades judiciais por não autorizar a transferência dos menores mais problemáticos a outros centros.
O presidente Morales disse ser “verdadeiramente triste e lamentável que dezenas de meninas e meninos possam morrer em uma situação como a que ocorreu”. “Isto pode voltar a acontecer em todos os lugares onde nós, como Estado, não estivermos dando a devida atenção”, declarou durante uma visita à cidade de Quetzaltenango.
*Com informações de Agência Efe