O ícone do futebol argentino e mundial Diego Armando Maradona morreu nesta quarta-feira (25/11), aos 60 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória na cidade de Tigre, na província de Buenos Aires.
Craque de talento único dentro dos gramados, Dieguito também sempre se destacou fora das quatro linhas por nunca esconder seus posicionamentos políticos.
O argentino sempre se declarou uma pessoa de esquerda e manifestou essa identificação em diversos momentos de sua vida, Opera Mundi separou alguns dos melhores momentos políticos de Maradona.
1. Tatuagem de Fidel Castro e Che Guevara
O ídolo argentino demonstrou desde sempre seu vínculo com os revolucionários, mas deixou esse sentimento marcado na pele. Na panturrilha esquerda, tatuou o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, e no ombro direito ,o argentino Che Guevara.
Maradona afirmou que as tatuagens eram por ele também ser “um rebelde neste mundo”. O rosto de Fidel, segundo sua autobiografia, foi uma forma de agradecer ao cubano. O ex-jogador passou um período em Cuba para realizar um tratamento contra a dependência química.
2. Disse que era 'um soldado de Lula e Dilma' após impeachment da ex-presidente
Em 2016, Maradona publicou uma foto segurando uma camisa estilizada da seleção brasileira de futebol em que consta o nome “Lula” e o número 18 e afirmou ser um “soldado de Lula e Dilma”. No ano da postagem, a ex-presidente Dilma Rousseff sofria o impeachment que a afastou do cargo. A petista agradeceu o “apoio e carinho” de Maradona.
Maradona, obrigada pelo apoio e carinho. Muchas gracias por tu apoyo y cariño. Thanks for support and tenderness. pic.twitter.com/qPBKmAxfJM
— Dilma Rousseff (@dilmabr) May 21, 2016
3. Defendia Venezuela e Cuba e era contra o imperialismo norte-americano
Por diversas vezes, Maradona se posicionou ao lado da Venezuela e de Cuba contras as ingerências norte-americanas nos países. Em 2017, manifestou apoio ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e disse que estava pronto “para lutar contra o imperialismo” e atuar como “soldado para uma Venezuela livre”.
A relação de Maradona com Cuba também era positiva. O argentino definiu Fidel como o “maior da história” e lamentou quando o cubano faleceu afirmando que tinha ele como um “segundo pai”.
4. Pediu demissão da Fifa após entidade defender viagem de Mauricio Macri durante pandemia
Em julho deste ano, Maradona pediu demissão de dois postos que ocupava à frente da Fifa. O motivo: a defesa da entidade após uma viagem do ex-presidente da Argentina Mauricio Macri durante a pandemia do novo coronavírus.
O ex-jogador já havia criticado a nomeação de Macri para comandar a Fundação Fifa. Segundo Maradona, Gianni Infantino, presidente da Fifa, o decepcionou ao conceder tal premiação ao ex-mandatário. “Eu renuncio à Fifa. É simples. Macri tem que ir preso. Ele e todos os seus. Macri roubou tudo e não deixou nenhum peso para o Estado nacional”, disse.
Globovisión/Flickr
Maradona com Fidel Castro e Hugo Chávez: sempre jogando na esquerda
5. Apoiou a candidatura das Avós da Praça de Maio ao Nobel da Paz
Maradona também apoiou uma candidatura da associação das Avós da Praça de Maio, grupo de mulheres que buscam crianças desaparecidas pela ditadura militar argentina, ao Prêmio Nobel da Paz.
Á época que defendeu a premiação, o argentino disse que a associação merecia por sua “luta incansável, serena e valente para a restituição de crianças apropriadas pelo terrorismo de Estado”.
O ex-jogador havia afirmado ainda que as Avós seriam merecedoras pelo “amor e cuidado” pelos netos que foram recuperados e pela “permanente busca” por aqueles que ainda não foram encontrados.
Despedimos a Diego. El Diego del pueblo, el que reparaba en las injusticias y el dolor ajeno.
El Diego solidario, q supo decir verdades sin importar las consecuencias. El q nos llenó de alegrías y su partida nos inunda de tristeza. Hasta siempre. Gracias. Vivirás en ntra memoria pic.twitter.com/RUe283do95— Abuelas Plaza Mayo (@abuelasdifusion) November 25, 2020
6. Venceu a Inglaterra na Copa após Guerra das Malvinas
Após o triunfo da Copa do Mundo pela Argentina em 1978, seria apenas em 1986, no México, que o título mundial voltaria à América do Sul – e pela mão de um argentino.
Na partida das quartas-de-final contra a Inglaterra, a Argentina encarou a Inglaterra pela primeira vez após a Guerra das Malvinas, dessa vez dentro de um campo de futebol. Um sentimento de revanche se abatia sobre os argentinos, derrotados no conflito bélico pelo arquipélago que até hoje está sob domínio britânico.
Maradona definiu o jogo com dois gols que entraram para a história. O primeiro, que ficou conhecido La Mano de Dios (A Mão de Deus), foi um gol de mão validado pelo juiz. Minutos depois, Maradona driblou três jogadores e o goleiro em um espaço de dez segundos para marcar o segundo gol – no hoje chamado Gol do Século.
O jogo terminou 2×1 para a Argentina. A vitória sobre a Inglaterra e a conquista do bicampeonato teve um peso simbólico para um sentimento de soberania do povo argentino frente ao imperialismo britânico.
7. Pediu a libertação dos cinco cubanos presos nos EUA
O craque argentino ainda manifestaria seu apoio ao governo revolucionário de Cuba ao pedir, em 2011, ao então presidente dos EUA Barack Obama que libertasse cinco agentes do serviço secreto cubano que haviam sido presos em 1998 em território norte-americano.
Conhecidos mundialmente como “os cinco heróis”, os agentes cubanos trabalhavam nos EUA para prevenir e impedir atentados terroristas de contra Cuba elaborados e realizados por organizações criminosas sediadas nos EUA e apoiadas pela CIA.
“Respeitosamente lhe peço que, fazendo uso de suas faculdades constitucionais, liberte imediatamente a Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Antonio Guerrero, Fernando González e René González, e que finalmente a justiça seja feita”, afirmou Maradona em documento enviado a Obama.
Os cinco heróis cumpriram penas de 15 a 17 anos e só foram soltos em 2014, durante a reaproximação diplomática entre Havana e Washington.