Cerca de 375 milhões de pessoas espalhadas por 27 países da
União Europeia e também residentes fora do continente são elegíveis para votar
nas eleições de 2009 para o Parlamento europeu, que está em curso desde o dia 4
de junho e será finalizada hoje (7). No entanto, analistas esperam que – como
verificado em pleitos anteriores – o comparecimento às urnas seja baixo. Em
2004 somente 45% do eleitorado europeu votou e para esse ano a expectativa é
ainda menor. A preocupação com a crise econômica e com a imigração, porém,
podem incentivar o voto e ainda, culminarem em uma guinada à direita.
“Entendo que as pessoas podem estar cansadas da política”,
afirmou o primeiro-ministro da República Tcheca, Jan Fischer, cujo país ocupa
atualmente a presidência rotativa da União Europeia. “Frequentemente ouvimos
falar de um déficit democrático na UE”, ele acrescentou. “No entanto, não se
pode reclamar de falta de democracia na UE e ao mesmo tempo, deixar de votar”.
“O desemprego está em alta e a proteção social, em baixa. As eleições
mobilizam poucos porque a Europa não traz proveito para as classes
populares”, disse o cientista político espanhol Vicent Navarro, reitor
emérito da Universidade Progressista da Catalunha (Upec), ao Estado de S. Paulo.
A desilusão com as atuais correntes políticas no poder, como
é verificado no Reino Unido e na Holanda – uma das causas principais para o
baixo número de votos – pode ter outro efeito também: a opção por partidos de
extrema direita, contrários à imigração e com aspirações xenófobas.
Recessão
Em países como a Itália e a Holanda, o tema da imigração é
grande. De acordo com Tito Boeri, professor de economia da Universidade de
Bocconi, entrevistado pela BBC, devido à proximidade do país com os países de
onde os imigrantes saem e à geografia – a Itália é rodeada por mar – os
italianos “gostariam que a Europa fosse mais eficaz e apoiasse a proteção às
fronteiras”.
“Até bem pouco tempo atrás a Europa era vista como nosso
porto seguro. Mas hoje há muita decepção. Os italianos não gostam dos políticos
que estão no poder do país, e nem dos que estão no Parlamento. Nenhum os
representa”, conclui.
A conjuntura econômica adversa – a Europa atravessa sua maior
recessão desde o fim da 2ª Guerra – também beneficia os partidos de direita, a
julgar pelas pesquisas de opinião. Na França, onde os socialistas obtiveram 31
cadeiras em 2005 (contra 17 dos conservadores), a União por um Movimento
Popular (UMP), partido de Nicolas Sarkozy, tem 26% da preferência, enquanto o
Partido Socialista (PS) perde terreno e soma 19%.
Na Espanha, o mesmo acontece. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do
premiê José Luiz Rodríguez Zapatero, hoje com 24 assentos, deve deixar a
liderança que dividia com o Partido Popular. Na Alemanha e na Itália as
legendas de direita filiadas ao PPE – a Democracia Cristã, de Angela Merkel, e
a Forza Italia, de Silvio Berlusconi – devem seguir majoritárias. Na Grã-Bretanha,
mesmo tendo abandonado o PPE, os conservadores devem obter a maioria.
“A Europa leva a culpa por todos os males, enquanto
todos os sucessos acabam capitalizados pelos políticos nacionais”, disse
ao Estado de S. Paulo Nicole Gnesotto, especialista em União Europeia do
Conservatório Nacional de Artes e Ofícios (Cnam), de Paris.
Resultados preliminares
Na Holanda, o Partido da Liberdade (PVV), do
primeiro-ministro Geert Wilders, de extrema-direita, pretende sobrepor o
partido em exercício da Democracia Cristã e o Partido Trabalhista e se tornar o
principal representante do país no Parlamento europeu.
De acordo com pesquisas de boca-de-urna, o partido da
Democracia Cristã conquistou a maioria dos votos, ficando com 5 cadeiras. O
Partido da Liberdade ficou em segundo, com 4 assentos.
Wilders foi impedido de entrar no Reino Unido em fevereiro,
acusado de ter incitado por meio de um filme o ódio de muçulmanos. Nele, o
político compara o Islã à violência e o Corão ao livro “Mein Kampf”, de Adolf
Hitler.
O controverso político também enfrenta processo na Holanda
por emitir opiniões anti-islâmicas e deve ir a julgamento no final de junho. O
slogan do Partido da Liberdade é “Para a Holanda” e é extremamente anti-UE.
Wilders disse que não tomará seu assento caso seja eleito ao Parlamento.
Também quarta-feira, eleitores britânicos foram às urnas. A
jornada eleitoral na Grã-Bretanha foi marcada pela crise do Partido Trabalhista
e pela pressão pela renúncia do premiê Gordon Brown, desgastado por um
escândalo de mau uso de verbas públicas.
Pesquisa divulgada quinta-feira pelo jornal londrino Daily Telegraph dava aos
trabalhistas um modesto terceiro lugar com 16% das intenções de voto para o
Parlamento Europeu, atrás dos conservadores (26%) e do Partido da Independência
da Grã-Bretanha (UKIP), com 18%, que defende que o governo britânico abandone o
bloco europeu. Além de eleger 72 eurodeputados, os eleitores da Grã-Bretanha
também participaram ontem das eleições locais que escolherão 34 autoridades
municipais.
Como funciona
Os eleitores decidirão quem irá ocupar os 736 assentos. A
Alemanha ter direito ao maior número de parlamentares – 99 – enquanto Malta, o
menor, com apenas 5.
Os deputados do Parlamento Europeus não estão
organizados em blocos nacionais, mas sim em sete grupos políticos, que
representam todas as perspectivas voltadas para a integração europeia, da mais
federalista à mais abertamente “eurocéptica”.
Os grupos políticos que formam o Parlamento são: PPE-DE –
Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e dos Democratas
Europeus, com 284 deputados; PSE Grupo Socialista no Parlamento Europeu, com
215 deputados; ALDE Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, com
103 deputados; Verts/ALE Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, com 42
deputados; GUE/NGL Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Nórdica Verde, com 41 deputados; IND/DEM Grupo Independência/Democracia, com 24
deputados; UEN Grupo União para a Europa das Nações, com 44 deputados e os Não-inscritos,
com 32 deputados.
Desde que foram realizadas as primeiras eleições europeias
diretas, a participação não parou de cair: foi de 61,99% em 1979; 58,98% em
1984; 58,41% em 1989; 56,67% em 1994; 49,51% em 1999; de 45,47% em 2004. A participação foi
especialmente baixa em 2004 nos estados da Europa central e oriental, que
acabavam de ser incorporados à União Europeia (UE). Na ocasião, apenas 16,97%
dos eleitores da Eslováquia – recorde de baixa – compareceram às urnas, e na
Polônia esse número chegou a 20,87%.
NULL
NULL
NULL