O compromisso brasileiro de redução das emissões de gases causadores do aquecimento global até 2020 deverá manter o nível lançado pelo país na atmosfera em 2007, como mostra relatório obtido pela reportagem. Isso porque os percentuais de corte apresentados pelo governo no dia 13 deste mês, de 36,1% a 38,9% até 2020, são com base na projeção de crescimento das emissões até 2020.
Embora governo, estudiosos e ONGs (organizações não governamentais) concordem que a adoção de números de redução seja uma mudança importante e positiva na posição do Brasil até o momento, vários especialistas de fora do setor público questionam a metodologia usada nos cálculos.
De acordo com os dados apresentados pelo governo, o país emitiu em 1994 (data do último inventário completo das emissões brasileiras) 1.477 milhões de toneladas-equivalentes de gás carbônico (CO2). A estimativa é que, em 2005, as emissões tenham ficado em 1.942 milhões de toneladas de CO2, caindo para 1.690 milhões de toneladas em 2007. É este o nível que o governo se compromete a propiciar em 2020.
Essa queda se deu unicamente em função da redução do desmatamento, cujas emissões diminuíram de 1.060 milhões de toneladas de CO2 em 2005 para 770 milhões em 2007.
Derrubadas na Amazônia
Mesmo com essa redução já verificada, o governo está prevendo, pelo cenário tendencial, um aumento das emissões para 2.703 milhões de toneladas de CO2 em 2020, que representa uma alta de 60% sobre o número de 2007. Segundo o governo, essas seriam as emissões em 2020 se os negócios como são hoje fossem o atual padrão de consumo e de emissões.
O compromisso de corte de 36,1% a 38,9% é firmado sobre as 2.703 milhões de toneladas de CO2 previstas para 2020. Portanto, nesse cenário, o total das emissões nacionais em 2020 ficaria, com o corte proposto, entre 1.728 milhões e 1.651 milhões de toneladas de CO2 – próximo, portanto, dos 1.690 milhões de toneladas verificados em 2007.
Com a meta de reduzir as derrubadas na Amazônia em 80% e no Cerrado em 40% sobre a média do período 1996-2005, as emissões de gases de aquecimento pela derrubada de florestas ficariam em 415 milhões de toneladas de CO2 em 2020.
Segundo o gerente de economia da ONG Conservação Internacional, Alexandre Prado, isso significa um desmatamento aproximado de 3,8 mil quilômetros quadrados. “O governo tenta colocar isso [a redução de 80% das derrubadas na Amazônia] como uma vitória, mas é uma vergonha, o desmatamento na Amazônia deveria ser zero”, disse.
Como o corte real das emissões ficará somente com a redução do desmatamento, nos demais setores da economia o governo admite um aumento nas emissões em relação a 2007. No setor de energia, por exemplo, a estimativa oficial é que as emissões foram de 381 milhões de toneladas de CO2 no ano retrasado e, se os negócios se mantivessem à mesma altura, passariam para 901 milhões de toneladas em 2020. A oferta brasileira é mitigar esse valor em até 7,7% – com isso, as emissões do setor energético seriam de 694 milhões de toneladas de CO2 daqui a 11 anos, 82% a mais que em 2007.
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