A segunda Cúpula da América Latina e do Caribe e a 21ª do Grupo do Rio terminaram ontem (24) com a formação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, a nova organização política regional que exclui os Estados Unidos e o Canadá e que terá o nome definitivo e a estrutura constituídos nos próximos dois anos.
Apesar da discussão da segunda-feira (23) entre os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe, e da polêmica levantada pelo boliviano Evo Morales – que acusou o próprio Uribe de ter sabotado a cúpula -, houve passos importantes em termos de política internacional conjunta entre os países da região.
A tomada de posição a favor da Argentina na questão das Malvinas, a necessidade de intervenção da comunidade latino-americana no desastre do Haiti, o pronunciamento contra o embargo dos EUA a Cuba, entre outros, marcaram o tom crítico dos governos regionais em relação à hegemonia norte-americana.
Em um clima acalorado, destacou-se o silêncio de atores importantes sobre temas indiretos, mas relevantes: a ausência dos EUA e do Canadá na nova entidade.
“O presidente Calderón, sendo anfitrião do encontro, praticamente não mencionou de nenhuma maneira a ausência dos EUA”, comenta o cientista social Roberto Oseguera, da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México), ao Opera Mundi.
Enquanto outros presidentes esclareciam a natureza na nova organização por meio da ausência dos norte-americanos, o México agiu quase como se fosse um árbitro. “Por um lado, as relações tão estreitas com os vizinhos do norte, os 500 mil mexicanos que a cada ano cruzam a fronteira e os outros que enviam as remessas em dólares impedem o presidente de tomar uma posição radical em um cenário já claramente marcado. Por outro lado, como é natural, nem todos os países interpretam a nova entidade da mesma maneira”, acrescenta Oseguera.
“Não é o mesmo papel que pode ter o Brasil, nova potência regional, com Lula, que toma uma posição tão forte contra o golpe em Honduras, evidentemente atacando a escolha diplomática de Washington para a solução do conflito. O México tem bastantes vínculos comerciais, políticos e particulares”, diz o professor. Por isso, o governo Calderón manteve-se cauteloso em reação ao assunto.
A posição causou também polêmicas internas em parte da oposição mexicana, que via o encontro como uma oportunidade para começar a marcar uma distância do vizinho maior.
Posição mexicana
Mas, para o analista político Rubén Aguilar Valenzuela, ex-coordenador geral na Secretaria da Presidência da República no governo de Vicente Fox (2000-2006), o México sai ganhando na cúpula de Cancún.
“Apesar do fato de não se ter decidido mais nada além da unificação de duas organizações já existentes, Calderón pôde melhorar sua imagem e a de seu governo internacionalmente”, explica o analista ao Opera Mundi.
“Ninguém, exceto os países do bloco da ALBA (Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América), pensa que este novo organismo irá substituir a OEA (Organização dos Estados Americanos). E por isso, o Departamento de Estado não se preocupou, evidentemente. Mas também não foram bem sucedidos, embora em nenhuma hipótese estivesse em discussão as relações com os grandes países do continente. Os países da Alba aproveitaram a ocasião da visibilidade internacional para manifestar suas posições. Todos têm a perder em um fracasso das relações com os EUA. E, do meu ponto de vista, Calderón consolida a percepção e a imagem do governo do México em nível regional”, conclui.
Já a senadora Rosario Ibarra, ativista de direitos humanos no México, discorda. Durante um discurso junto a Evo Morales no domingo, ela disse que “o México precisa de uma mudança de atitude em relação à política imperialista, para alinhar aos demais grandes países da América Latina e produzir finalmente uma política comum, forte e democrática”.
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