Sábado, 5 de julho de 2025
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Se uma universidade tem 85 mil alunos e 10,5 mil funcionários, pode-se dizer que existe, nesse local, uma proporção de mais ou menos oito alunos para cada funcionário. A não ser que você seja o presidente da Argentina, Javier Milei.

No afã de defender seu veto ao projeto de lei que aumentava o orçamento das universidades públicas, aprovado pela Câmara dos Deputados no dia anterior, o mandatário argentino comentou nesta quinta-feira (10/10) uma entrevista do reitor da Universidade Federal de Rosário, Franco Bertolacci, na qual o acadêmico, ao criticar a medida presidencial, traz exatamente as estatísticas indicadas acima: a casa de estudos que ele administra possui cerca de 85 mil estudantes e pouco mais de 10,5 mil funcionários.

Porém, ao tentar rebater Bertolacci, Milei fez o seguinte comentário: “Universidade Federal de Rosário: 85 mil alunos, 10,5 mil empregados. Oito empregados para cada aluno? Deixo para que vocês pensem…”.

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Ao inverter completamente a relação de proporcionalidade, cometendo um erro simples de matemática, o presidente despertou uma onda de comentários que ironizaram não só o equívoco em si como também uma das frases que ele costuma utilizar desde a campanha eleitoral, para atacar seus adversários: “esquerdista não sabe fazer contas”.

A jornalista Carla Pelliza, do canal El Destape, satirizou o erro de Milei dizendo que “periga ganhar o Nobel de Economia”.

Já o pesquisador e professor universitário Martín Becerra disse que o episódio mostra “um presidente que vive plagiando e usurpando títulos acadêmicos porque não sabe fazer uma operação de divisão simples”.

Diante da repercussão negativa, a primeira reação de Milei foi escrever uma segunda mensagem, corrigindo o erro, mas dizendo “são um empregado para cada oito alunos”.

O problema é que a correção trouxe um novo erro, agora de gramática. A frase correta seria “é um empregado para cada oito alunos”. Após esse segundo erro provocar outra onda de piadas, o presidente decidiu apagar ambas as mensagens.

Corte do orçamento universitário

O erro de Milei acontece em meio ao debate sobre a decisão tomada nesta quarta-feira (09/10) pela Câmara dos Deputados da Argentina, em sessão que avaliou o veto presidencial ao projeto de lei que aumentaria o financiamento das universidades públicas.

A decisão da maioria do Legislativo argentino foi de respaldar a decisão do mandatário e barrar o reajuste, após uma votação que terminou com 160 parlamentares se posicionando de forma favorável ao veto, enquanto 84 se colocaram contra. Os que se abstiveram foram apenas cinco.

Javier Milei / X
Erro de matemática cometido por Milei causou enxurrada de comentários nas redes sociais ironizando o presidente argetino

A Lei de Financiamento Universitário foi uma iniciativa das bancadas opositoras ao governo, que terminou sendo aprovada no Congresso em 12 de setembro. O projeto previa um aumento do orçamento das universidades públicas para sustentar gastos básicos das entidades estudantis, incluindo o reajuste salarial dos servidores de acordo com a inflação, depois que essa verba foi cortada em maio com a aprovação da Lei Bases, medida com a qual Milei impôs um severo ajuste do gasto público argentino.

A lei aprovada em setembro recebeu o veto do presidente argentino no dia 2 de outubro, decisão que foi tomada apesar de um protesto multitudinário realizado naquele mesmo dia, em Buenos Aires – meios locais estimaram a participação em mais de 100 mil pessoas.

Os protestos continuaram tomando conta da capital nos dias posteriores, em função da perspectiva de veto por parte do presidente de extrema direita, mas não foram capazes de mudar sua decisão.

O resultado desta quarta foi possível graças ao apoio maciço do partido Proposta Republicana, liderado pelo ex-presidente e empresário Mauricio Macri (2015-2019), cuja bancada na Câmara é maior que a do A Liberdade Avança, sigla fundada pelo atual mandatário.