“Quando vocês estiverem assistindo a esse vídeo, eu já estarei morto”. Assim começa a denúncia que causou uma séria crise política na Guatemala, feita pelo advogado Rodrigo Rosemberg, assassinado no último domingo (10). No vídeo, gravado dias antes do crime, ele dizia saber que seria morto a mando do presidente Álvaro Colom, da primeira-dama Sandra Torres e do secretário particular Gustavo Alejos.
Após a divulgação do vídeo na segunda-feira, as manifestações começaram e vêm se tornando cada vez mais intensas na Cidade da Guatemala. Hoje, foram realizadas duas marchas, uma defendendo a inocência dos acusados e a outra pedindo a renúncia do presidente. Ao cabo das passeatas, cerca de duas mil pessoas protestavam em frente ao Palácio Nacional (presidencial), onde passaram a tarde toda.
Assista ao vídeo:
O jornalista e sociólogo guatemalteco Gustavo Verganza afirmou em entrevista ao Opera Mundi que o país não está acostumado a manifestações tão intensas. “É a primeira vez que a população pede a renúncia de um presidente na Guatemala. [Normalmente] vemos manifestações pequenas, de um setor específico, como greves ou pedidos de reforma agrária”.
Apesar da pressão, Verganza não acredita na possibilidade de renúncia, pois as manifestações estão acontecendo apenas na capital. “Ele tem 45% de aprovação, um índice considerado alto aqui, principalmente em tempos de crise econômica. Por enquanto os pedidos de renúncia estão restritos à capital, onde pessoas o apóiam. Em outras regiões, tem boa popularidade”.
Estudantes, militantes, advogados, amigos e familiares de Rosemberg vestidos de preto pediam justiça, fim da violência e que Colom deixasse o cargo. Do outro lado, habitantes dos assentamentos da capital, que recebem apoio do Conselho de Coesão Social, comandado pela primeira-dama, apoiavam o governo, segundo relatos do sociólogo e da imprensa local.
A polícia armou um cordão de segurança para evitar um confronto direto. Não houve repressão até o final da tarde, segundo o jornalista Geraldo Gimenez, do diário Prensa Libre.
O presidente conta com o apoio dos 22 governadores (total) e de 190 dos 332 prefeitos do país, além do partido Unidade Nacional da Esperança, do qual é membro. O líder da oposição, Otto Pérez, membro do Partido Patriota, derrotado por Colom nas últimas eleições, recomendou que seria melhor ele renunciar para que as investigações possam ser feitas com transparência.
Assista ao vídeo das manifestações:
O caso Rosemberg
Balas disparadas por um veículo atigiram Rosemberg enquanto ele andava de bicicleta em uma zona residencial na região sul da capital. No vídeo, gravado pelo jornalista Mario David Garcia, ele afirma que seria assassinado porque era advogado do empresário Khalil Musa e de sua filha Marjorie, assassinados em março. Segundo a vítima, Khalil Musa foi executado por ter se negado a participar de negócios irregulares, após ter sido nomeado presidente do Banco de Desenvolvimento Rural, entidade de capital misto em que o Estado é acionista majoritário.
Rosenberg denunciou também que na instituição financeira são realizadas operações ilícitas em que participam o presidente Colom e sua esposa.
No final da mensagem, o advogado fez um pedido ao vice-presidente Rafael Espada, para que seja “o primeiro a encabeçar um movimento para recuperar a Guatemala, e fazer com que a lei seja cumprida”.
Governo nega
Colom negou as acusações por meio de um comunicado oficial. “Desqualificaremos totalmente o vídeo. Graças a Deus tenho o meu coração limpo”, disse. O presidente afirmou também que não tem um governo de “matadores” e “assassinos” e que dará provas disso.
“Para que a verdade veja a luz do dia, o governo está disposto a pedir apoio a qualquer país ou outro organismo internacional para que se esclareça o crime”, dizia o comunicado. O presidente enviou também as condolências à família.
Atendendo ao pedido do governo, o embaixador Stephen McFarland informou hoje que os Estados Unidos já enviaram um inspetor do FBI para trabalhar na investigação do crime.
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