Martin McGuinness, ex-vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte e antigo comandante do Exército Republicano Irlandês (IRA), morreu aos 66 anos, informou nesta terça-feira (21/03) o partido republicano Sinn Féin.
“É com profundo pesar e tristeza que soubemos da morte de nosso amigo e companheiro Martin McGuinness, que faleceu nesta madrugada, em Derry (Irlanda do Norte). Você será lembrado por todos que te conheceram”, dizia a nota divulgada pelo partido.
Pouco após renunciar ao cargo, em janeiro, anunciou também que estava abandonando a política, por sofrer de amiloidose, doença degenerativa que afetou seu coração.
McGuinness passou da liderança de uma organização empenhada em acabar, por meio da violência, com a presença do Reino Unido na Irlanda do Norte, para apertar a mão da rainha Elizabeth II, em Belfast, em 2012 e jantar com ela no Castelo de Windsor, dois anos depois.
“Estou muito, muito orgulhoso disso”, disse McGuinness, em 1973, ao ser condenado por filiação ao então já inativo IRA, o que confirmou, 28 anos depois, quando confessou que era o “número dois” do grupo, no dia 30 de janeiro de 1972, no denominado “Domingo Sangrento”, em Derry (Irlanda do Norte).
Com a voz embargada pela emoção, veio a dizer o mesmo em 2007, durante uma conferência especial do Sinn Féin, braço político do IRA, embora nessa ocasião puxou seus credenciais republicanas para pedir a seus correligionários que aceitassem, pela primeira vez em sua história, a autoridade da polícia e a justiça norte-irlandesa. Era o fim da linha para uma organização que causou quase 2.000 mortes mais de três décadas de conflito armado na ilha da Irlanda e Reino Unido.
Governo irlandês
Meses depois, o Sinn Féin voltava a entrar no governo norte-irlandês, de poder compartilhado entre católicos e protestantes, embora, nesta ocasião, ao lado do majoritário Partido Democrático Unionista (DUP), do já falecido reverendo Ian Paisley.
Em 2009, o IRA de Continuidade, uma facção dissidente do Exército Republicano Irlandês, assassinou um policial norte-irlandês. O já político McGuinness chegou a qualificar aos atiradores, republicanos como ele, de “traidores”, em uma declaração que surpreendeu as comunidades católica e protestante.
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Agência Efe
Martin McGuinness, líder histórico do IRA, morreu nesta terça-feira (21/03)
Casado e pai de quatro filhos, Martin McGuinness nasceu em 1952 no Bogside, o bairro católico de Derry, e ingressou no IRA em 1969, condição que não lhe impediu iniciar, em 1972, nas negociações secretas com o governo britânico para conseguir um cessar-fogo definitivo do grupo armado, que chegaria em 1997.
Ao contrário do presidente do Sinn Féin, Gerry Adams, McGuinness não provém de uma família republicana, mas se uniu ao movimento motivado pela brutal resposta que receberam os grupos pró-direitos civis nas mãos de forças de segurança no final da década de 60.
Com sua habilidade política e carisma entre os voluntários do IRA, rapidamente se tornou em um dos maiores expoentes da dupla estratégia da “urna e espingarda”: a mistura de política e violência como única via para a reunificação da ilha.
Seus biógrafos contam que, quando já era uma figura política destacada, alojou em uma ocasião a uma unidade do IRA em fuga na fronteira do Condado de Donegal, depois de Adams ter se recusado a fazê-lo.
Decisões controversas
No entanto, sua reputação como estrategista político e militar choca com decisões controversas que tomou em momentos importantes para o secreto processo de paz, antes da assinatura do acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998, quando o IRA ainda exercia considerável influência sobre o Sinn Féin e não vice-versa. Aos olhos de vários observadores, suas iniciativas levaram à organização paramilitar a um beco, onde a única saída era a via democrática e pacífica.
Em 1997 foi eleito deputado na Câmara dos Comuns, posto para o qual seria reeleito em 2001, 2004 e 2010, enquanto que, em 1998, alcançou uma cadeira na Assembleia norte-irlandesa, que manteve até as eleições autônomas do maio passado.
Após a breve restauração da autonomia norte-irlandesa, entre 1999 e 2002, McGuinness atuou como ministro da Educação no governo de poder compartilhado entre católicos e protestantes.
E em 2007 foi a vez de ele reger os destinos da província ao lado de seu eterno inimigo, Ian Paisley, com quem chegou a manter uma boa relação profissional e pessoal, ganhando o apelido de “Irmãos Risadinhas”.
Com o sucessor do reverendo no governo e no DUP, Peter Robinson, não existiu, no entanto, o mesmo “feeling” e as tensões entre seus respectivos partidos desde 2011 marcaram sua convivência no Executivo, até provocar a renúncia de McGuinness, no dia 9 de janeiro deste ano.
O “número dois” do Sinn Féin deixou o cargo de vice-ministro principal em protesto pela gestão de um escândalo financeiro detectado na política de energias alternativas do governo norte-irlandês, liderado pela atual líder do DUP, Arlene Foster.