Domingo, 13 de julho de 2025
APOIE
Menu

A morte do ex-ditador peruano Alberto Fujimori na última quarta-feira (11/09) marca o fim de processos de investigação, julgamento e extradição contra o antigo presidente peruano por crimes contra a humanidade e corrupção.

Mas, conforme destaca o jornal peruano La República, a busca por justiça permanece viva para as famílias das vítimas, muitas das quais ainda não foram encontradas.

“Fujimori morre, condenado por violações de direitos humanos e corrupção, e um governo assassino como o dos anos 90 presta homenagem a ele. Mensagens oficiais de pesar quando há impunidade por seus crimes. Sua memória permanece, meu irmão, e todo o amor pelo qual continuamos a lutar”, disse Gisela Ortiz, membro de uma das famílias afetadas no caso La Cantuta, ao veículo.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Enquanto isso, o Estado peruano enfrenta dificuldades para cobrar a reparação civil de mais de 57 milhões de soles peruanos (mais de 85 milhões de reais), imposta ao falecido em diferentes sentenças por crimes de corrupção e violação de direitos humanos. 

A dívida dificilmente será cobrada dos herdeiros do ex-presidente, que governou o Peru de julho de 1990 a novembro de 2000, uma vez que o Código Civil e a jurisprudência penal determinam que a reparação só pode ser exigida até o limite do patrimônio herdado. 

O ex-ditador não possuia bens registrados em seu nome, exceto uma pequena quantia em soles em uma conta bancária, fruto de sua pensão como ex-presidente, restabelecida pelo Congresso em julho passado.

Estado peruano enfrenta dificuldades para cobrar a reparação civil de mais de 57 milhões de soles peruanos (mais de 85 milhões de reais), imposta ao falecido em diferentes sentenças

Força Aérea dos Estados Unidos
Estado peruano enfrenta dificuldades para cobrar a reparação civil de mais de 57 milhões de soles peruanos (mais de 85 milhões de reais), imposta ao falecido em diferentes sentenças

A legislação peruana proíbe que os filhos sejam responsabilizados pelo pagamento de dívidas com seus próprios bens, já que dívidas não são hereditárias e a responsabilidade criminal é de caráter pessoal. Fujimori morreu sem quitar uma parte sequer das multas impostas.

Com sua morte, os processos judiciais e investigações criminais são formalmente extintos. Um dos julgamentos afetados é aquele pelos assassinatos de seis camponeses em Pativilca, cometidos pelo grupo paramilitar e esquadrão da morte anticomunista Colina, que ainda estava em andamento. 

Outros casos, como o julgamento por tráfico de armas para a guerrilha das FARC e o desvio de US$ 800 mil do extinto Serviço Nacional de Inteligência (SIN) para o empresário Augusto Miyagusuku, também serão arquivados.

Processos no Chile, ações na Comissão Interamericana e CIDH

No âmbito internacional, em junho deste ano a Justiça chilena havia ampliado a extradição de Fujimori para cinco outros casos classificados como crimes contra a humanidade. 

Os casos envolvem, entre outros, os sequestros e assassinatos da família Ventocilla em Huacho, o assassinato de Nicolás Cruz Sánchez durante o resgate de reféns na Embaixada do Japão, e as esterilizações forçadas de mulheres. 

Apesar da morte do ex-presidente, os processos continuam contra os militares acusados de executar os crimes, e as vítimas seguirão exigindo justiça.

No contexto da Comissão Interamericana e da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), os processos por crimes cometidos durante o regime de Fujimori terão continuidade, pois não envolvem apenas a responsabilidade pessoal do ditador, mas também a do Estado peruano. 

Os tribunais internacionais seguirão pressionando o Peru para que o país siga punindo responsáveis por violações de direitos humanos, compensando as vítimas e buscando corpos dos desaparecidos.Assim como diz o La República, a condenação de Fujimori a 25 anos de prisão pelos massacres de La Cantuta e Barrios Altos, além de outros crimes de corrupção, permanece inquestionável. O perdão que lhe permitiu a libertação antecipada não interfere na validade das sentenças já cumpridas.