Movimentos difundem abaixo-assinado em favor de ativistas pró Palestina processados na França
Manifesto inclui firmas de figuras como Sâmia Bomfim, Angela Davis, Yanis Varoufakis, Pablo Iglesias, Silvia Federici, Ricardo Antunes, Norman Finkelstein, Roberto Leher, Kleiton Wagner Nogueira, Eric Cantona, Annie Ernaux e Ken Loach, entre outros
Movimentos sociais de diversos países da Europa, especialmente da França, lançaram nesta quarta-feira (23/04) um manifesto para exigir a absolvição de dois ativistas do movimento Revolução Permanente respondem a processo na Justiça por escreverem publicações nas redes sociais em apoio à causa palestina.
Ambos os envolvidos são ligados a movimentos sindicais e aguardam o julgamento que está marcado para o próximo dia 18 de junho. Um deles é Anasse Kazib, líder sindical dos ferroviários de Paris e pré-candidato presidencial em 2022 pelo Novo Partido Anticapitalista (NPA).
O Estado francês acusa Kazib e seu companheiro de cometer suposta “apologia do terrorismo” nas mensagens difundidas por eles nas redes sociais entre outubro e dezembro de 2023. Eles foram notificados sobre o processo em abril de 2024.
Segundo o manifesto, o processo contra os dois ativistas, “apesar da normalização do uso de medidas antiterroristas contra apoiadores da Palestina, este novo processo pode abrir um precedente, já que possibilita a imposição de penas de prisão por opiniões políticas”.
“Essa política penal é acompanhada por uma verdadeira perseguição, que chega ao ponto de exigir medidas tão severas quanto a perda da nacionalidade, aplicadas a figuras como Rima Hassan. Entretanto, processar o porta-voz de uma organização política nacional não tem precedentes”, acrescenta o texto.
O manifesto descreve o julgamento de Kazib e seu companheiro como “um verdadeiro teste para o Estado”.
“Se resultar em uma condenação, ninguém ficará imune aos procedimentos que permitem que oponentes ou intelectuais críticos sejam condenados ou associados ao ‘terrorismo’”, prevê o manifesto.
Apoiadores
O documento conta com a assinatura de nomes famosos a nível internacional, como a escritora e ativista norte-americana Angela Davis, a filósofa italiana Silvia Federici, o economista grego Yanis Varoufakis, o político e jornalista espanhol Pablo Iglesias, o escritor e ativista judeu pró-Palestina Norman Finkelstein, a escritora francesa e Prêmio Nobel de Literatura Annie Ernaux, o ativista argentino e Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o futebolista francês Eric Cantona, o cineasta britânico Ken Loach e a deputada federal brasileira Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Outros brasileiros que assinaram o manifesto são Kleiton Wagner Alves da Silva Nogueira, pesquisador da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); Ricardo Antunes, sociólogo e professor da Universidade de Campinas (Unicamp); e Roberto Leher, professor e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Mathieu Génon / Reporterre
Leia o texto completo do abaixo assinado:
O genocídio continua, a repressão também – Pela absolvição de Anasse Kazib e todos os ativistas pela Palestina!
Enquanto Trump ataca os estudantes pró-palestina de Columbia, como Mahmoud Khalil, 18 ativistas do movimento Palestine Action continuam presos no Reino Unido aguardando julgamento. Na Suíça, professores universitários continuam sendo demitidos pelas suas posições políticas, enquanto o novo governo de coalizão na Alemanha planeja reforçar a ofensiva em curso no país. Na França, o coletivo Palestina Vencerá acaba de ser dissolvido e as manifestações feministas são proibidas devido à presença de organizações pró-palestinas.
Neste contexto, o Estado francês decidiu dar mais um passo na repressão de opositores políticos. No próximo dia 18 de junho, dois militantes do movimento Revolução Permanente serão julgados por suposta “apologia do terrorismo”, incluindo o seu porta-voz, o ferroviário, sindicalista e antigo candidato a presidente Anasse Kazib. Em abril de 2024, eles foram notificados pela polícia antiterrorista, assim como a eurodeputada Rima Hassan, a presidente do grupo France Insoumise na Assembleia Nacional, Mathilde Panot, e outras personalidades.
Diante desse cenário, o governo francês decidiu dar um passo adiante em sua repressão aos oponentes políticos. Em 18 de junho, dois ativistas do movimento Revolução Permanente serão levados a julgamento por suposta “apologia ao terrorismo”, incluindo o seu porta-voz, Anasse Kazib, um trabalhador ferroviário, ativista do sindicato SUD Rail e ex-candidato presidencial. Em abril de 2024, eles foram notificados pela polícia antiterrorista juntamente com Rima Hassan, membro do Parlamento Europeu, e Mathilde Panot, presidente do partido França Insubmissa na Assembleia Nacional, entre outras figuras proeminentes.
Apesar da normalização do uso de medidas antiterroristas contra apoiadores da Palestina, é preciso dizer que o delito de “apologia ao terrorismo” é exclusivo da França. Introduzido no Código Penal em 2014, em nome da “luta contra o jihadismo”, ele possibilita a imposição de penas de prisão por opiniões políticas. Desde 7 de outubro de 2023, essa disposição, que foi contestada até mesmo pela Corte Europeia de Direitos Humanos e por ex-juízes antiterrorismo como Marc Trévidic, tem sido usada para reprimir estudantes, ativistas, representantes eleitos locais, líderes sindicais como Jean-Paul Delescaut, da Confederação Geral do Trabalho (CGT), e intelectuais como François Burgat, que deverá ser julgado em 24 de abril, por ter opiniões diferentes das defendidas pelo governo.
Essa política penal é acompanhada por uma verdadeira perseguição, que chega ao ponto de exigir medidas tão severas quanto a perda da nacionalidade, aplicadas a figuras como Rima Hassan. Entretanto, processar o porta-voz de uma organização política nacional não tem precedentes. É um verdadeiro teste para o Estado: se resultar em uma condenação, ninguém ficará imune aos procedimentos que permitem que oponentes ou intelectuais críticos sejam condenados ou associados ao “terrorismo”, registrados como tal ou tornados inelegíveis.
Diante dessa repressão, e além de nossas discordâncias políticas, é imperativo que nos mantenhamos unidos a Anasse Kazib, seus companheiros e todos os apoiadores reprimidos da Palestina. A luta contra a opressão do povo palestino é inseparável da luta contra a criminalização de seus apoiadores e das ferramentas que possibilitam estabelecer um verdadeiro delito de opinião e associar a luta pela Palestina ao terrorismo. Nesse contexto, garantir a absolvição de Anasse Kazib e de seu companheiro é vital para o movimento de solidariedade. Em 18 de junho, vamos fazer do julgamento dos ativistas da Revolução Permanente uma oportunidade para denunciar a repressão estatal na França e internacionalmente.
Primeiros signatários
Abby Martin, jornalista
Adèle Haenel, atriz
Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, membro do SERPAJ, Argentina
Alex Callinicos, Professor Emérito, Estudos Europeus, King’s College London
Alexis Antonioli, CGT TotalEnergies Normandie, França
Andreas Malm, escritor e professor associado, Universidade de Lund
Ángel Cappa, técnico de futebol
Angela Davis, professora e escritora
Annie Ernaux, escritora, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura
Assa Traoré, comitê Truth for Adama
Avi Mograbi, diretor de cinema israelense
Axel Personn, trabalhadores ferroviários da CGT, Trappes
Berenger Cernon, trabalhador ferroviário e deputado da LFI
Bhaskar Sunkara, editor-chefe da Jacobin
Camille Etienne, ativista ambiental
Cédric Liechti, CGT energy Paris
Charles Post, professor de sociologia do Borough of Manhattan Community College-CUNY
Chris Hedges, jornalista e autor
Chris Smalls, fundador do Sindicato dos Trabalhadores da Amazônia
Christian Porta, CGT Neuhauser
Corinne Masiero, atriz
David McNally, ativista, professor ilustre de História e Negócios na Universidade de Houston
Denis Robert, escritor, jornalista, fundador da Blast
Elsa Marcel, advogada
Enzo Traverso, professor da Cornell University
Eric Cantona, ex-jogador de futebol
Eric Coquerel, Membro do Parlamento, La France Insoumise
Eric Vuillard, escritor
Etienne Balibar, filósofo
Eyal Sivan, cineasta
Ferat Koçak, membro do Die Linke no Bundestag alemão
Frédéric Lordon, filósofo
Guillaume Meurice, humorista
Grant Miner, estudante de Columbia expulso por seu apoio à Palestina, presidente do Student Workers of Columbia-UAW
Ilan Pappé, historiador israelense e diretor do Centro Europeu de Estudos Palestinos da Universidade de Exeter, na Inglaterra
Irene Montero, deputada do Podemos, ex-ministra da Igualdade
Jean-Paul Delescaut, Secretário da UD CGT du Nord
Jean-Paul Lecoq, senador do PCF, Le Havre
Joey Starr, artista
John Bellamy Foster, editor da Monthly Review
Katie Halper, jornalista
Keeanga Yamahtta Taylor, Universidade de Princeton
Ken Loach, diretor de cinema
Kevin Anderson, Professor de Sociologia, Universidade da Califórnia
Kleiton Wagner Alves da Silva Nogueira, pesquisador do Práxis UFCG
Manuel Bompard, deputado do LFI
Marcel van der Linden, historiador do Instituto Internacional de História Social de Amsterdã
Mathilde Panot, deputada por Val-de-Marne, presidente do grupo parlamentar LFI-NUPES
Michèle Sibony, ativista da UJFP
Mohammed El-Kurd, escritor e poeta palestino
Mona Aljalis, escritora
Momodou Tal, estudante de doutorado em Cornell, forçado a deixar os Estados Unidos por causa de seu apoio à Palestina
Mornia Labssi, inspetora do trabalho
Myriam Bregman, advogada, ex-deputada argentina e ex-candidata presidencial do partido FIT
Nadav Lapid, diretor de cinema israelense
Nancy Fraser, filósofa
Nathan J. Robinson, editor-chefe da Current Affairs
Nicolás del Caño, deputado argentino do partido FIT
Norman Finkelstein, autor
Noura Erakat, professora da Universidade Rutgers
Olivier Besancenot, ativista, escritor e ex-candidato à presidência
Olivier Mateu, secretário da UD CGT 13
Pablo Iglesias, diretor do Canal Red, professor de Ciência Política da Universidade Complutense de Madrid
Paul B Preciado, autor
Philippe Poutou, ex-candidato à presidência
Rachida Brakni, atriz
Rashid Khalidi, historiador palestino-estadunidense, professor emérito de Edward Said na Universidade de Columbia
Ricardo Antunes, professor, sociólogo da Universidade de Campinas
Richard Seymour, escritor
Rima Hassan, deputada do LFI
Robert Brenner, professor emérito de história, diretor do Center for Social Theory and Comparative History da UCLA
Roberto Leher, professor e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Robin D. G. Kelley, historiador da UCLA
Rokhaya Diallo, jornalista e cineasta
Romina del Pla, deputada argentina do partido FIT
Rony Brauman, médico, ensaísta e ex-presidente da Médicos Sem Fronteiras
Sâmia Bomfim, deputada federal brasileira pelo partido PSOL
Silvia Federici, professora da Universidade de Hofstra
Simone Bitton, cineasta israelense
Steven Donziger, advogado
Swann Arlaud, ator
Tardi, cartunista
Tariq Ali, historiador e escritor
Thierry Defresne, CGT TotalEnergies
Timothée Esprit, sindicalista da CGT
Xavier Mathieu, ator e ex-porta-voz da Conti CGT
Yanis Varoufakis, economista e ex-ministro das Finanças da Grécia
Yassine Belattar, comediante
Youlie Yamamoto, porta-voz da ATTAC
Com informações de Politis.
