Ao votar no segundo turno da eleição presidencial no Uruguai, neste domingo (24/11), o ex-presidente José “Pepe” Mujica afirmou que o futuro governo precisará “estar aberto a negociar com a oposição”, uma vez que a esquerda terá maioria no Senado, e a direita, na Câmara, resultado do primeiro turno em 27 de outubro.
O pleito acirrado começou com a abertura das urnas às 8h30 para decidir o próximo chefe do país: Yamandú Orsi, da Frente Ampla, de esquerda e Álvaro Delgado, aliado do mandatário Luis Lacalle Pou, de direita liberal.
“A política não é mais capaz de construir esperanças, os jovens nos veem como velhos privilegiados”, disse ainda o líder progressista ao exercer seu direito de voto na Escola 149 de El Cerro.
Ao ser questionado sobre seu futuro, Mujica, de 89 anos e que luta contra um câncer no esôfago, usou o sarcasmo: “O mais próximo é o cemitério”.
“O meu futuro mais próximo é o cemitério, mas estou interessado no destino de vocês, dos jovens que quando tiverem a minha idade vão viver num mundo muito diferente”, frisou.
Da mesma forma, Mujica insistiu que “temos que nos desenvolver e colocar na cabeça dos nossos netos para que estejam à altura do que está por vir, porque, se não, vamos pertencer ao mundo do irrelevante. Você tem que pensar no futuro, como será”.
Por outro lado, mostrou otimismo ao falar sobre o Uruguai. “Um país pequeno, mas que ganhou o reconhecimento de país estável e com cidadãos que respeitam as instituições, o que não é pouco na nossa pobre e sofrida América Latina”, disse.
Tudo sobre a eleição presidencial no Uruguai
As urnas, distribuídas nas 7.225 seções de voto em todo o país, estão abertas das 8h30 às 19h30 para que os 2.727.120 eleitores possam votar.
O candidato da aliança progressista é Orsi, ex-governador do departamento (província) de Canelones, região que conforma boa parte do que se considera como a Grande Montevidéu. Sua gestão marcada por uma alta aprovação o ajudou a vencer as prévias frenteamplistas contra a prefeita da capital Carolina Cosse, cujo governo também é muito bem avaliado – Cosse agora é sua candidata a vice-presidente.
Outro fator que favorece Orsi e a Frente Ampla é a comoção em torno do ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015) que sofre de um câncer no esôfago. Apesar de estar submetido a um tratamento, e mesmo aos seus 89 anos, o ex-guerrilheiro tupamaro tem participado dos comícios da coalizão progressista, sempre enfatizando, em seus discursos, que esta eleição marcará sua “despedida da política”.
Já Delgado chega na disputa após cinco anos como ministro porta-voz do atual presidente, o neoliberal Lacalle Pou, cujo governo foi marcado por uma gestão bem avaliada durante a pandemia de covid-19 – ele assumiu o poder em março de 2020, poucas semanas após a chegada do vírus à América Latina –, mas também por um conjunto de reformas econômicas questionadas pela população, especialmente a reforma previdenciária.
Para os resultados do segundo turno, a pesquisa da consultora Cifra, publicada na última quinta-feira (27/11), projeta um pleito apertado, em que Orsi reúne 47% dos votos, e Delgado 46,4%.
Já a porcentagem entre brancos e indecisos é 6,6%.
“É fundamental perceber como é constituído este apoio aos dois candidatos: Orsi tem 39% de votos firmes, de pessoas que dizem que certamente não mudarão o seu voto entre agora e domingo, e outros 8% de votos fracos, de pessoas que poderia mudar o seu voto ou que apenas têm uma fraca preferência por ele. Delgado tem 36,9% de votos fortes e 9,5% de votos fracos”, explica ainda a pesquisa.
Em conclusão com base na análise dos dados, a projeção afirma que “é impossível prever quem vai ganhar”.
“Parece que a eleição – mais uma vez – será muito acirrada e que o vencedor só será confirmado quando os votos forem contados”, finaliza a consultora.
Como foi o primeiro turno?
Na primeira parte da disputa eleitoral, a Frente Ampla recebeu 43,9% dos votos válidos, contra 26,8% do Partido Nacional. Segundo a Corte Eleitoral uruguaia, aquele dia de votação ocorreu sem problemas, com a participação de 88% dos eleitores aptos a votar.
Com a realização das eleições gerais, a população do país também renovou a Câmara dos Deputados e o Senado do país, que resultaram em um complexo panorama para qualquer uma das coalizões que vença o segundo turno.
Na Câmara Baixa, a Frente Ampla elegeu a maior bancada, com 48 representantes. O número, porém, é insuficiente para alcançar a maioria simples entre as 101 cadeiras que compõem a Casa.
Já no Senado, a disputa terminou com a Frente Ampla obtendo maioria simples. A coalizão de esquerda passará a ter 16 senadores a partir de 2025, contra nove do Partido Nacional e cinco do Partido Colorado – que juntos somam 14 vagas.
(*) Com Ansa e TeleSUR