Mulheres são favoritas em prévias que definem candidatura da esquerda no Chile
Candidata do Partido Comunista aparece como uma das favoritas para o pleito deste domingo; partidos de direita e de extrema direita já definiram seus presidenciáveis
O Chile realiza neste domingo (29/06) as eleições prévias que definirão a candidata ou candidato presidencial da coalizão governista Unidade Pelo Chile para sucessão do presidente Gabriel Boric.
O país andino não permite a reeleição para o cargo de presidente, razão pela qual os oito partidos que compõem a aliança se dividiram em torno de quatro pré-candidaturas: a de Carolina Tohá, do Partido Pela Democracia; Gonzalo Winter, do Convergência Social; Jaime Mulet, da Federação Regionalista Verde; e Jeannette Jara, do Partido Comunista.
Essas pré-candidaturas representam os setores de centro-esquerda alinhados com o governo de Boric. Ao menos três outras candidaturas de esquerda devem concorrer às presidenciais (marcadas para novembro e dezembro deste ano), mas elas não se submeterão a estas eleições prévias.
As pesquisas que mediram a disputa dentro da esquerda governista mostram que as duas mulheres são as favoritas para vencer neste domingo, e cada uma tem uma medição recente que a aponta como possível vencedora.
Carolina x Jeannette
O nome mais conhecido é o de Carolina Tohá, que foi ex-prefeita de Santiago (2012-2016), ministra do Interior do governo de Boric e secretária-geral de Governo durante o primeiro mandato de Michelle Bachelet (2006-2010). Sua figura está fortemente ligada à ex-presidenta, que é a principal apoiadora de sua campanha.
Além disso, Carolina é filha de José Tohá, que ocupou os cargos de ministro do Interior e ministro da Defesa durante o governo de Salvador Allende (1970-1973), e foi assassinato em 1974, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Menos famosa, a comunista Jeannette Jara, que foi ministra do Trabalho do governo de Boric (tanto ela quanto Tohá se afastaram de seus cargos devido à disputa das prévias), aparece como surpresa nas pesquisas, com um crescimento importante nas últimas medições.
O principal trunfo da campanha de Jara é o sucesso da lei que reduziu a jornada de trabalho, desenhada por ela e considerada a política mais bem avaliada do atual governo. A medida diminuiu para 40 horas semanais a jornada que antes era de 45 horas. Também foi durante o seu mandato no Ministério do Trabalho que o Chile aprovou a Lei Contra o Acosso no Trabalho.
Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, o cientista político Claudio Fuentes, da Universidade Diego Portales, considera acirrada a disputa entre as duas pré-candidatas.
“No começo da campanha, Tohá era a preferida da opinião pública, por ser uma pessoa com maior trajetória, mais conhecida, ela vem do coração da antiga Concertação (coalizão de centro-esquerda que governou o Chile entre 1990 e 2010), mas no último mês, nós vimos Jara crescer muito rapidamente”, analisa Fuentes.
Segundo o acadêmico, “o perfil da pré-candidata comunista possui um fator que a torna muito atraente para certos setores do eleitorado, que é o fato de ela não pertencer às elites políticas do país, sua origem social é de setores populares, o que a ajuda a conquistar votos entre os mais jovens e também entre as mulheres das classes baixas, que se identificam pessoalmente com ela”.

El Dínamo
Últimas pesquisas
No Chile, a lei permite a publicação de pesquisas até duas semanas antes do dia da votação, e a partir de então a veiculação delas fica proibida. Sendo assim, as últimas medições conhecidas são de mais de dez dias atrás.
Na mais recente, publicada pelo instituto Panel Ciudadano no dia 14 de junho, Jara aparecia com 40% das intenções de voto, contra 34% de Tohá, 21% de Winter e 5% de Mulet.
Porém, na sondagem do instituto Criteria, publicada em 8 de junho, Tohá tinha 40%, contra 29% de Jara, 24% de Winter e 7% de Mulet.
“Quem vencer esta prévia da esquerda terá uma missão que não é tão simples, que é a de reunir os votos dos diferentes setores da esquerda e montar uma candidatura competitiva até novembro, para pelo menos chegar no segundo turno contra algum dos representantes da direita”, acrescenta Fuentes.
Como funcionam as prévias chilenas
Diferente do que acontece no primeiro e no segundo turno das eleições presidenciais chilenas, no caso das prévias o voto não é obrigatório.
Mas a disputa este ano traz um cenário inusitado, já que, tradicionalmente, as diferentes coalizões utilizam essa instância para definir as candidaturas dos seus setores.
Neste ano, porém, os partidos de direita e de extrema direita decidiram não participar como coalizão. Portanto, não terão os nomes dos seus candidatos nas cédulas de votação.
Isso significa, também, que os representantes desses partidos já estão oficializados como candidatos presidenciais dos mesmos, e garantidos no primeiro turno das eleições presidenciais.
Entre eles estão quatro mais destacados: Evelyn Matthei, da União Democrata Independente (UDI); José Antonio Kast, do Partido Republicano; Johannes Kayser, do Partido Libertário; e Franco Parisi, do Partido das Pessoas.
O cientista político Claudio Fuentes ressalta que, apesar das prévias na esquerda, “no contexto mais amplo, as candidaturas que aparecem mais fortes para as eleições de novembro são as da direita, principalmente Matthei e Kast”.
Além das candidaturas da direita, também há candidaturas de esquerda não alinhadas com o governo Boric, que estarão fora das prévias, mas que devem participar da campanha no primeiro turno. Entre elas estão a de Eduardo Artés, pelo Partido da Ação Proletária; Félix González, do Partido Ecologista Verde; e Marco Enríquez-Ominami, do Partido Progressista.
Também há duas candidaturas consideradas de centro: Ximena Rincón, do Partido Democrata; e Harold Mayne-Nicholls, que concorre como independente, mas com o apoio do Partido Radical Social-Democrata.
Quem votará
Todos os eleitores estão habilitados a votar nas prévias chilenas, a não ser que estejam filiados em algum partido que não pertence à coalizão Unidade Pelo chile – ou seja, uma pessoa com ideias de direita, mas que não está filiada a um partido desse setor, poderá votar, mesmo se tratando de uma votação para escolher o candidato da esquerda.
“O Chile possui cerca de 15 milhões de eleitores, mas as prévias mobilizam muito menos que isso, e como são as prévias só de um setor, provavelmente reunirá menos que a média histórica. As estimativas indicam que poderiam participar cerca de dois milhões de votantes”, prevê Claudio Fuentes.
Vale acrescentar que o primeiro turno das eleições presidenciais do Chile acontecerá no dia 16 de novembro. Caso seja necessário um segundo turno, ele ocorrerá em 14 de dezembro.
Com informações de La Voz de los que Sobran e El Dínamo.