Na Rússia, Bolsonaro se reúne com Putin, saúda agronegócio e evita Ucrânia

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, se encontrou nesta quarta-feira (16/02) com seu homólogo russo Vladimir Putin em visita a Moscou. Na ocasião, ele saudou o agronegócio e não citou a crise na fronteira ucraniana, tema na agenda internacional.

Bolsonaro falou, em coletiva de imprensa após reunião entre os líderes, que o Brasil é uma potência no agronegócio e destacou o interesse no comércio de “fertilizantes” com a Rússia, afirmando também que ambos os países têm uma “colaboração intensa” no âmbito do Brics, agrupamento comercial entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

Em uma alfinetada contra os Estados Unidos e os países da União Europeia, o mandatário agradeceu o apoio de Putin “à soberania nacional do Brasil” quando “alguns países quiseram transformar a Amazônia em patrimônio mundial da humanidade”.

Ele afirmou ainda que compartilha valores comuns com Putin, “como a crença em Deus e a defesa da família”, dizendo ser solidário a países que se empenham “pela paz”. Segundo ele, ambos os países defendem “os interesses de Estados, o respeito de direito internacional”. 

Putin, por sua vez, declarou que ambos defendem a formação de uma “ordem mundial multipolar” com base no direito internacional. “Nós estamos fortemente comprometidos com os princípios de multipolaridade e de regulação de conflitos por via política e diplomática”, ressaltando o papel do Conselho de Segurança da ONU para isso. 

O mandatário russo afirmou que os dois países trabalham “ativamente nos fóruns internacionais” e disse que, apesar de todas as restrições do ano anterior devido à pandemia da covid-19, “o crescimento de nosso comércio bilateral registrou uma alta de 87%”.

Relações Exteriores e Defesa 

Antes do encontro de Putin e Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto Franco França, e o da Rússia, Sergei Lavrov, também se reuniram em Moscou para aprofundar temas na área da defesa e segurança entre os dois países.

Durante a reunião, o chanceler russo expressou solidariedade às famílias das vítimas atingidas por fortes chuvas em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. “Temos interesse no papel da América Latina e da bacia do Caribe na arena internacional e no papel central que o Brasil tem no desenvolvimento dessa importante região”, disse Lavrov. 

Segundo ele, a Rússia confirma seu apoio à inclusão do Brasil na lista de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 

O chanceler brasileiro por sua vez destacou que a Rússia é uma uma referência mundial em desenvolvimento tecnológico, “sobretudo no âmbito de sua indústria de defesa”. 

Bolsonaro comunista?

Mais cedo, o presidente Bolsonaro participou de uma cerimônia no Túmulo do Soldado Desconhecido, monumento que homenageia soldados comunistas mortos na 2ª Guerra Mundial.

No evento, que é protocolo diplomático para chefes de Estado que visitam a Rússia, Bolsonaro acompanhou militares russos, que carregavam uma coroa de flores com o desenho da bandeira do Brasil. O fato é irônico, já que, no Brasil, o presidente diz que atua para “combater o comunismo”.

A visita oficial de Bolsonaro à Rússia vai até o dia 17 de fevereiro e ocorre devido a um convite de Putin. Além da reunião com o presidente russo, Bolsonaro deve encontrar Vyacheslav Volodin, presidente da Duma, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, e participar de uma reunião de empresários russos e brasileiros dos setores de agronegócio, energia nuclear e gás.

Apesar da viagem ocorrer em meio à tensão na fronteira da Ucrânia, o ministro da Defesa do Brasil, Walter Braga Netto, confirmou que nenhum assunto sobre a situação dos países ex-soviéticos seria discutido entre Bolsonaro e Putin. 

(*) Com Brasil de Fato e Sputnik News.