Em discurso na 16ª Cúpula de líderes do BRICS nesta quarta-feira (23/10), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva culpou os países ricos pela crise climática no mundo, defendeu o uso de moedas alternativas ao dólar para transações entre membros do grupo e voltou a condenar o massacre promovido por Israel contra palestinos na Faixa de Gaza.
“O BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvidas de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje”, disse o mandatário, que participou da reunião em Kazan, na Rússia, por videoconferência, após ter cancelado a viagem em função de um acidente doméstico sofrido na residência do Planalto durante o fim de semana.
“É preciso ir além dos US$ 100 bilhões anuais prometidos [pelos países ricos] e não cumpridos e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes”, acrescentou.
Segundo Lula, “cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC” em relação aos níveis pré-industriais. “Na COP30, em Belém, vamos mostrar que é possível conciliar maior ambição em nossas contribuições com o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, destacou.
Desdolarização
Durante o discurso, Lula apontou a necessidade de avançar na criação de meios de pagamento alternativos ao dólar para transações entre os membros do BRICS, que também inclui África do Sul, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã e Rússia.
“Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, salientou o presidente.
O desenvolvimento de um sistema de compensação de pagamentos em moedas locais é uma das prioridades brasileiras no bloco, ficando menos dependente do uso do dólar em suas transações internas.
Segundo ele, o BRICS congrega mais de 3,6 bilhões de pessoas, “que integram um mercado dinâmico e com elevada mobilidade social”, e representa 36% do produto interno bruto (PIB) global por paridade do poder de compra. No entanto, explicou que “os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas”.
“É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do BRICS rompem com essa lógica”, pontuou.
Taxação de super-ricos
Lula não deixou de agradecer o apoio dos membros do bloco às iniciativas do Brasil, que lidera a Presidência do G20. Uma das metas do governo brasileiro é a criação de um mecanismo de tributação sobre grandes fortunas para combater desigualdades.
“Quero agradecer o apoio que os membros do grupo têm estendido à Presidência brasileira do G20. Seu respaldo foi fundamental para avançar em iniciativas que são cruciais para a redução das desigualdades, como a taxação de super-ricos”, disse o presidente, convidando aos outros participantes do encontro a se somarem à “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, uma das prioridades do Brasil no G20.
Genocídio em Gaza
Para finalizar seu pronunciamento, Lula citou uma frase proferida pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que definiu a Faixa de Gaza como “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”.
“Muitos insistem em dividir o mundo entre amigos e inimigos, mas os mais vulneráveis não estão interessados em dicotomias simplistas. O que eles querem é comida farta, trabalho digno e escolas e hospitais públicos de acesso universal e de qualidade. Meio ambiente sadio, sem eventos climáticos que põem em risco sua sobrevivência. É uma vida de paz, sem armas que vitimam inocentes”, disse o mandatário brasileiro.
Lula voltou a defender a necessidade de iniciar imediatamente negociações de paz, uma vez que “essa insensatez” promovida pelo governo de Israel “agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano”. Acrescentou ainda que as discussões para uma desescalada na região também contemplam o conflito entre Ucrânia e Rússia.
“No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, disse.
Presidente Lula participa, por videoconferência, da reunião ampliada da 16ª Cúpula do BRICS https://t.co/a0YM5HtVdD
— Lula (@LulaOficial) October 23, 2024
(*) Com Ansa