As mobilizações nas ruas da província de Gyeonggi, lideradas pelo Sindicato Nacional da Samsung Electronics (NSEU, por sua sigla em inglês), que atualmente representa cerca de 35 mil trabalhadores, têm interrompido as produções em massa e afetado o funcionamento dos aparelhos eletrônicos da gigante sul-coreana, que pela primeira vez em seus 55 anos de história, o maior chaebol — como são chamados os conglomerados sul-coreanos controlados pelas famílias de elite — está em greve.
As reivindicações pelos direitos trabalhistas foram retomadas em junho, mas os executivos, mais uma vez, rechaçaram as negociações. Dessa forma, a organização sindical decidiu prolongar a paralisação por tempo indeterminado, pressionando ainda mais a gestão empresarial. A Opera Mundi, Lee Hyun Kook, vice-líder do NSEU, comentou sobre a greve e de como a empresa trata seus funcionários.
“A Samsung Electronics não respeita seus trabalhadores. Ela nos trata como peças de máquina, apenas como uma ferramenta para redução de custos”, criticou. “Durante 30 anos, nossos trabalhadores contribuíram para tornar a Samsung na empresa número um do mundo […] é um descaso unilateral com o sindicato”.
Segundo ele, de fato “o plano inicial de greve era de três dias”, mas isso ficou para trás após as negociações não resultarem de forma positiva. A organização reivindica um aumento total de 5,6% no salário dos associados, assim como a exigência de maior transparência nas folhas de pagamento, um dia de folga garantido no dia da fundação do sindicato e indenização relativa às perdas econômicas dos trabalhadores que aderiram a greve.
No entanto, de acordo com Hyun Kook, nenhuma das medidas apresentadas até o momento foram atendidas. E não se trata da primeira vez que os funcionários da Samsung pedem por melhores condições de trabalho. Em 2023, por exemplo, a corporação prometeu reajustar o salário dos operários, o que acabou não ocorrendo.
“A empresa eventualmente propôs fundir os salários de 2023 e 2024 e ampliar os dias de férias, mas nem isso foi implementado”, revelou, acrescentando que o órgão sindical tentou “negociar dezenas de vezes” de forma pacífica, mas nunca obteve sucesso.
“Não entramos imediatamente em greve. Realizamos diversos eventos pacíficos para exigir uma mudança. Mas a empresa não deu nenhuma resposta, e o que nos restou foi a greve”, explicou Hyun Kook.
A reportagem verificou que os principais meios de comunicação da Coreia do Sul não têm noticiado de forma clara e regular os protestos, embora se trate de uma greve histórica, uma vez que a Samsung, por ser um chaebol, detém a economia nacional e possui influência sobre os veículos jornalísticos. As informações referentes ao confronto entre os trabalhadores e a empresa são acessíveis graças às atualizações publicadas pelo NSEU em seu portal independente, onde a agenda de manifestações e o estágio de diálogos entre as partes são comunicados diariamente.
Luta pela dignidade do trabalhador
Na manhã desta segunda-feira (22/07), um dia antes de mais uma rodada de negociações com a empresa, o Sindicato Nacional da Samsung (NSEU) realizou a chamada “Assembleia de Resolução sobre a Vitória da Greve Geral” no ginásio da fábrica, em Giheung, na província de Gyeonggi, com a participação de cerca de 1,5 mil membros da organização.
Na reunião realizada antes da marcha, o presidente da associação Son Woo Mok declarou que, por meio da greve geral, “vimos que tipo de poder os trabalhadores podem exercer quando estão unidos”.
“Ganhamos confiança de que podemos entregar nossa voz à empresa e, se 35 mil pessoas trabalharem juntas, certamente seremos capazes de vencer”, afirmou.
Para o protesto desta segunda, as lideranças enviaram ônibus gratuitos a diversas cidades sul-coreanas, incluindo Suwon, Giheung, Hwaseong, Seul e Gumi, assim como ao prédio Digital Samsung Research, com o intuito de facilitar a adesão dos trabalhadores à greve.
Já na terça-feira (23/07), estão previstas novas negociações salariais entre a diretoria da empresa e os líderes do corpo sindical. Trata-se da primeira reunião formal entre as partes desde que a Comissão Nacional de Relações do Trabalho (NLRC, por sua sigla em inglês) — órgão independente responsável pela resolução de disputas trabalhistas e de gestão — fez uma “pós-mediação” na data referente a 27 de junho.
“Esta greve, desencadeada pela ruptura de negociações salariais, não exige simplesmente um aumento no salário. Esta é uma luta para garantir o reconhecimento e a dignidade dos nossos trabalhadores. Todos os produtos industriais que utilizamos são fruto do suor e do esforço dos trabalhadores”, afirmou o vice-líder Hyun Kook a Opera Mundi.