Centenas de pessoas se reuniram no Centro Internacional de Conferências Mahatma Gandhi em Niamei, Níger, em 19 de novembro, para a inauguração de uma histórica “Conferência em Solidariedade com os Povos do Sahel”. A conferência de três dias, organizada pelo Pan Africanism Today e pela Organização dos Povos da África Ocidental, foi inaugurada pelo primeiro-ministro do Níger, Ali Lamine Zeine, que estava representando o general de brigada Abdourahamane Tchiani, chefe de Estado e presidente do governo do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP) da República do Níger.
A conferência ocorre em um momento vital. Nos últimos anos, o Sahel foi palco de uma revolta decisiva contra o imperialismo francês. Levantes militares em Mali, Burkina Faso e Níger colocaram no poder regimes que se recusaram a ceder sua soberania à França. Esses governos, apoiados pelo povo, expulsaram as forças francesas e estão tentando libertar seus países do domínio da França sobre suas economias.
“Enfrentaremos o poder do imperialismo”, disse o governador de Niamei. “Nenhuma potência militar do mundo pode impedir a tentativa de independência e a rejeição da antiga ordem mundial”, acrescentou, dizendo que o que estava acontecendo no Níger era um processo irreversível.
Por seus esforços, esses países enfrentaram o isolamento de seus vizinhos, especialmente os países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que impuseram sanções que causaram grandes dificuldades. Os três países reagiram unindo-se e formando a Aliança dos Estados do Sahel (AES). Essa aliança não apenas apoiou o Níger quando ele enfrentou ameaças de invasão dos países da CEDEAO, mas seus membros também estão intensificando a cooperação econômica.
Foi nesse contexto que os participantes e palestrantes da inauguração estenderam sua solidariedade e apoio ao processo revolucionário na região de Sahel. De todo o mundo, representantes de organizações populares e movimentos sociais reafirmaram a importância da resistência na região.
Dirigindo-se à plateia, Philippe Toyo Noudjenoume, presidente da Organização dos Povos da África Ocidental, disse: “Vocês estão rompendo contratos coloniais e preparando o terreno para que a liberdade e os direitos prevaleçam em seu país. O povo do Sahel é um grande exemplo para os povos da África e do resto do mundo”.
Neuri Rossetto, da Assembleia Internacional dos Povos, falou sobre a importância da necessidade de unidade global na luta contra o imperialismo. “Continuaremos a lutar por nossos direitos básicos. O capitalismo e o imperialismo oferecem morte, destruição e exploração. Nosso compromisso é com nosso povo, não com os capitalistas e imperialistas”, acrescentou.
“É imperativo que nos alinhemos com as necessidades de nosso povo e não com os interesses financeiros do imperialismo”, disse Jonis Ghedi Alasow, do secretariado do Pan Africanism Today. É nesse contexto que a Aliança dos Estados do Sahel se apresenta como um farol de esperança, disse ele, acrescentando que um “avanço do campo popular nesses países é um avanço da classe trabalhadora na África e no mundo inteiro”.
A onda anti-imperialista no Sahel está apenas começando. As tropas francesas e norte-americanas foram forçadas a deixar o Níger, mas as difíceis tarefas de combater o terrorismo e traçar um caminho econômico independente permanecem. Mamane Sani Adamou, da Organização Revolucionária para a Nova Democracia (ORDN – Tarmouwa), no Níger, disse que os acontecimentos recentes marcam um segundo despertar para o povo. “Estamos vivendo uma revolução patriótica, uma luta por uma segunda independência”, disse ele. O próximo passo, segundo ele, é estabelecer a base da soberania econômica. As questões de soberania alimentar, uma moeda independente e a estrutura do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) permanecem diante do povo. “Precisamos adotar uma nova estratégia”, disse ele, acrescentando que ”a diferença hoje é que estamos decidindo por nós mesmos. Não recebemos mais instruções de Paris. Nós recebemos instruções em casa”.
O povo do Sahel e da África ainda tem um caminho a percorrer para alcançar a liberdade, especialmente no atual momento multipolar, como destacou o primeiro-ministro Ali Lamine Zeine. No Sahel, o objetivo do povo é construir a paz, disse ele, pedindo a intensificação do trabalho para mobilizar e educar as pessoas para promover a dignidade humana na África.
Durante a inauguração, poetas e cantores fizeram apresentações centradas na luta pela dignidade e soberania – política, econômica e cultural.
Combatendo o imperialismo
Na tarde do primeiro dia, foi organizado um painel de discussão, “Imperialismo em alta, sinais do fim”. Entre os palestrantes estavam Carlos Ron, do Instituto Simon Bolivar para a Paz e Solidariedade entre os Povos, e Fred M’membe, do Partido Socialista da Zâmbia, além de Mamane Sani Adamou e Jonis Ghedi Alasow, do Secretariado do Pan Africanism Today. Os palestrantes falaram sobre a história do imperialismo e como ele entrou em uma fase de desespero.
“O hiperimperialismo tem tentado desesperadamente manter a hegemonia que tem desde a queda da União Soviética”, disse Carlos Ron. De acordo com Ron, isso coloca em risco todo o planeta e a própria humanidade. Ele acrescentou que cada país deve encontrar sua alternativa para alcançar a liberdade e a dignidade, falando sobre a luta da Venezuela contra o imperialismo dos EUA e o ataque que sofreu como resultado. Ele pediu maior solidariedade e mobilização contra as atrocidades do imperialismo em todas as partes do mundo.
Os povos da África têm sido humilhados e privados de sua dignidade há séculos, disse Fred M’membe. Embora os países da África tenham conquistado a independência, o neocolonialismo continuou, e um estado neocolonial nunca pode ser democrático, acrescentou. Por outro lado, “o que está acontecendo no Sahel é um processo revolucionário que precisa ser defendido e avançado”, disse ele.
(*) Texto originalmente publicado em Peoples Dispatch e traduzido por Opera Mundi.