Durante quase um ano, o senador republicano pelo estado do Arizona, John McCain, criticou o então senador de Illinois, Barack Obama, por tudo e por nada. Foram tempos em que ambos disputaram a corrida pela Casa Branca. Mas esta semana, McCain aparentemente deixou o clima de disputa de lado e elogiou o presidente.
“Desejo-lhe o melhor. Acho que está cumprindo bem o seu trabalho e não tenho nenhuma crítica. Por enquanto’’, respondeu McCain, durante coletiva por telefone para comentar seu apoio ao plano de recuperação econômica do presidente.
O comentário surpreendeu muitos observadores. Ninguém esperava que o veterano senador fosse tão claro em suas opiniões sobre Obama. Após perder a eleição, seu partido vive uma situação difícil. Tanto que McCain não quis falar sobre o assunto.
O que insistiu em mencionar foi a rapidez com que o presidente parece estar colocando em prática seu programa eleitoral. Setenta dias após assumir o poder, Obama fez mais do que outros presidentes.
Desde o plano de recuperação econômica dos mercados financeiros, passando por seu apoio militar ao México, até o envio de uma mensagem surpresa ao Irã que, surpreendentemente, deixou seus dirigentes estupefatos e divididos em como reagir.
No domingo (29) inclusive, enviou um diplomata seu para saudar o embaixador iraniano na conferência sobre o Afeganistão, em Haia, Holanda.
Obama foi a Londres para a cúpula do G20, no fim do mês estará no México e prometeu ir a Moscou e a Pequim antes do fim do ano. Acaba de comprometer os Estados Unidos na luta contra o aquecimento global e obrigou os deputados e senadores a darem marcha-ré em seus planos e aprovarem um reforço substancial na assistência médica infantil nos Estados Unidos.
Tudo isso porque quer que os Estados Unidos sejam “um líder com seu exemplo”, disse ontem (2) em coletiva na capital britânica.
Corrida contra o tempo
“O Obama está no meio de uma corrida contra o tempo. Ele sabe que tem de colocar tudo na direção correta antes que os republicanos se recuperem de sua derrota e comecem a atacá-lo”, comentou ao Opera Mundi o analista da Universidade Internacional da Flórida, Daniel Alvarez.
E não é só isso, acrescenta: “Neste momento, o presidente tem o apoio da maioria da população e ele sabe que isso o coloca em uma corrida contra o relógio. As pessoas ainda estão dispostas a dar-lhe o beneficio da dúvida. Mas ninguém sabe durante quanto tempo”.
O presidente norte-americano está conciente disso. Durante a cúpula do G20, Obama afirmou que “ainda estamos dentro de um benefício da dúvida e devemos trabalhar ainda mais para convencer as pessoas de que há uma solução para seus problemas”, e “os problemas só se resolvem com soluções, não palavras. Estamos nessa”, acrescentou.
Clima de campanha
Mas a rapidez com que Obama está impulsando sua agenda também não deixa de chamar a atenção em outro sentido: o presidente parece que continua em campanha eleitoral. Pelo menos uma vez por semana sai da Casa Branca, viaja ao interior do país e reúne-se com todo tipo de cidadão. Responde a todas as perguntas e escuta as opiniões.
Já realizou três coletivas sozinho, duas em Washington e uma ontem em Londres. E é um fanático da internet. Não só a usa para divulgar sua mensagem semanal, e outras ocasionais, distribuídas com uma lista compilada durante a campanha, como praticamente obrigou seus ministros a aderirem ao seu estilo.
O caso mais emblemático é a secretária de Estado, Hillary Clinton, que escreve um blog quando viaja, renovou o site do ministério e ampliou o número de informações publicadas.
Segundo Robert Gibbs, seu porta-voz, este novo estilo de trabalho chegou para ficar. “É um passo importante para criar uma avenida diferente para se chegar às pessoas”, disse.
Fúria republicana
Os republicanos de extrema direita estão furiosos com Obama. Sem grande margem de manobra, pois o último resultado eleitoral praticamente acabou com a estrutura do partido e destruiu sua liderança, não lhes resta mais nada que críticas de platéia.
Segundo o líder republicano no Senado, o senador Mitch McConnell, do Kentucky, as políticas de Obama vão ser danosas ao novo governo, porque são excessivas.
“O governo não esperava isto dele quando o elegeu. Os norte-americanos estão furiosos com Obama e nós também. Não queremos ver os Estados Unidos transformados num país da Europa Ocidental, onde gastam mais do que podem, aumentam a dívida (interna) e regulam tudo”, disse em entrevista ontem à CNN.
O porta-voz de McConnell não quis comentar as opiniões do senador, pois o político estava numa reunião com líderes democratas, mas afirmou que tudo o que precisava ser dito estava na entrevista à rede norte-americana.
Segundo o senador, ao implementar com tanta rapidez suas políticas, Obama não vai conseguir o que quer. “Não podemos ir tão rápido, temos de nos concentrar no resgate financeiro e residencial, e não tratar de nacionalizar o sistema de saúde, o que não tem nada a ver com o dilema econômico que enfrentamos”, disse McConnell.
Em sua opinião, Obama devia estar em Washington e não viajando. “Estamos resolvendo problemas sérios e ele não está aqui”, acrescentou.
Segundo Mitt Romney, empresário republicano que foi candidato presidencial nas primárias, os norte-americanos não acreditam em Obama.
“Não é a forma de governar. Um presidente tem primeiro que convencer e eu não vejo que ele tenha convencido ninguém”, disse Romney ao Opera Mundi.
Seu estilo já está dando frutos, inclusive dentro das fileiras republicanas. Esta semana, Meggan McCain, a jovem filha do veterano senador, disse a Larry King na CNN: “Apoio o presidente em tudo o que está fazendo. Tudo. Sou uma republicana progressista que sente que ele é meu presidente”.
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