Terça-feira, 10 de junho de 2025
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O crescimento do PIB global deve desacelerar de 3,3% em 2024 para 2,9% em 2025 e permanecer nesse patamar em 2026, segundo projeções divulgadas nesta terça-feira (03/06) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A previsão consta na mais recente edição do relatório Economic Outlook, em que a OCDE revisou para baixo suas estimativas de crescimento mundial. A revisão considera a possibilidade de manutenção das tarifas comerciais vigentes até meados de maio, ou seja, inclui o pacote tarifário de Donald Trump, com suas incertezas e várias disputas legais em andamento.

A OCDE alerta que, se as tendências atuais persistirem —  aumento das barreiras comerciais, o aperto das condições financeiras, a queda na confiança de consumidores e empresários e a incerteza nas políticas econômicas —, isso poderá prejudicar de forma significativa as perspectivas de crescimento global.

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A desaceleração das economias centrais tem efeitos diretos sobre o Brasil. Segundo o relatório, a economia brasileira deve crescer 2,1% em 2025 e 1,6% em 2026.

porto de santos
Contexto global de incertezas pode afetar crescimento do Brasil
(Porto de Santos/Divulgação)

Estados Unidos e Europa em ritmo mais lento

Para os Estados Unidos, a organização projeta uma desaceleração acentuada do crescimento econômico, com o PIB crescendo 1,6% em 2025 e 1,5% em 2026. A OCDE se baseia nas pesquisas de confiança de consumidores e empresários que revelam queda, além das expectativas de inflação que apontam para uma redução “notável” do crescimento real do PIB americano.

Na zona do euro, a projeção é de crescimento de 1% em 2025 e 1,2% em 2026, números idênticos ao de estimativas anteriores. A região, aponta o relatório, terá uma recuperação gradual da demanda externa, com condições financeiras mais favoráveis e preços de energia mais baixos.

Os países do G20 também passam por uma desaceleração da inflação, com uma queda de 6,2% em 2024 para 3,6% em 2025 e 3,2% em 2026. “A inflação nos países do G20 deve moderar gradualmente até 2026, com o impacto inflacionário das barreiras comerciais sendo compensado pela queda nos preços do petróleo”, afirma o relatório.

Segundo o economista-chefe da OCDE, Alvaro Pereira, o protecionismo está contribuindo para pressionar a inflação. Ele observou que as expectativas inflacionárias aumentaram de forma significativa em diversos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação anual deverá subir consideravelmente, chegando a 3,9% até o fim de 2025, à medida que tarifas de Trump sejam aplicadas e repassadas aos consumidores.

Multilateralismo

“Acordos comerciais para resolver tensões existentes e reduzir ou eliminar barreiras devem ser acompanhados de mais esforços para fortalecer a cooperação multilateral”, afirmou Pereira no comunicado.

Já o Secretário-Geral da OCDE, Mathia Cormann, aponta que “a economia global passou de um período de crescimento resiliente e inflação em declínio para um caminho mais incerto”.

“Nossas últimas perspectivas econômicas mostram que a incerteza política atual está enfraquecendo o comércio e o investimento, diminuindo a confiança do consumidor e das empresas e restringindo as perspectivas de crescimento”, afirma.

E recomenda: “os governos precisam se envolver para abordar quaisquer problemas no sistema de comércio global de forma positiva e construtiva por meio do diálogo – mantendo os mercados abertos e preservando os benefícios econômicos do comércio global baseado em regras para a concorrência, a inovação, a produtividade, a eficiência e, em última análise, o crescimento”.

Cenário de incertezas

Como detalhou o economista Andre Roncaglia a Opera Mundi, ao introduzir a questão das tarifas em um cenário já turbulento, Trump adicionou “uma camada de incerteza, ou seja, uma impossibilidade de cálculo, tornando o horizonte de planejamento dos países, quase impossível de ser previsto”.

Ele citou o caso de empresas transnacionais que precisam alocar recursos nos diferentes países e encontram uma imensa dificuldade em maximizar algum retorno. “Isso gerou todo um embaralhamento do ambiente e da prospecção do cálculo econômico, que vai obviamente produzir a volatilidade no mercado de ativos”, avalia.

A suspensão por 90 dias do tarifaço, inclusive, agravou ainda mais o cenário de incertezas. “É, justamente, o encurtamento desse horizonte de planejamento que está produzindo a incerteza. Na dúvida, eu espero os 90 dias, e ninguém mexe em nada de maneira mais brusca”.

Quem mais perde com isso são os países da periferia do sistema, “que acabam sentindo mais fortemente as ondas dessas oscilações, como os países da América Latina, da África, do leste asiático”, afirmou.