Decorridos pouco mais de três meses do terremoto de 7,8 graus de magnitude que matou quase 9.000 pessoas no Nepal, o processo de restauração do país encontra-se praticamente suspenso devido às chuvas de monções que caem desde junho. Nessa circunstância, uma das alternativas criadas pela Cruz Vermelha foi a criação de bases para empoderar e capacitar os nepaleses por meio de repasse de fundos.
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Anne Reynolds / IFRC
Equipe da Cruz Vermelha distribui materiais de cozinha e kits de higiene para população
“Um método que estamos usando é a distribuição de dinheiro, que coloca poder na mão das pessoas para que elas decidam o que mais precisam, além de estimular a economia local”, explica o paquistanês Muhammad Zubair Khan, líder da Equipe Regional de Resposta a Desastres (RDRT, em inglês) da Cruz Vermelha em Katmandu, a capital do país.
Ferramentas, materiais de construção e conselhos técnicos também têm sido repassados pela ONG aos desabrigados. “Apesar de os nepaleses estarem acostumados a viver em um ambiente desafiador, o impacto do terremoto, aliado aos altos níveis de pobreza, levaram seus mecanismos de sobrevivência ao limite”, afirma Khan.
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Até setembro, quando a temporada de enchentes deverá chegar ao fim, as equipes do governo e das organizações internacionais seguirão incapacitadas de levar adiante a recuperação da infraestrutura de cidades atingidas pelos tremores. Por ora, os nepaleses que perderam suas casas têm morado em abrigos temporários ou debaixo de lonas.
Dados fornecidos pela Cruz Vermelha estimam que 5,6 milhões de pessoas foram afetadas pelo terremoto. Mais de 500.000 casas e 4.000 escolas estão destruídas e 310.000 residências ficaram danificadas. Assim que as chuvas cessarem, as equipes terão de correr contra o tempo para fornecer condições adequadas de moradia e infraestrutura antes da brusca queda de temperatura do inverno, cujo início está previsto para dezembro. No vale de Katmandu, a principal região do país, os termômetros chegam a marcar até 3°C no final do ano.
EFE
Equipes de resgate buscam vítimas após deslizamento de terra causado por enchentes que ocorreu na última semana de julho
Outra alternativa encontrada pelas equipes estrangeiras é a implementação de medidas paliativas para evitar problemas de longo prazo. A organização americana Convoy of Hope buscou áreas para erguer estruturas provisórias que servem de escola para cerca de 1.900 estudantes.
“As chuvas de monção complicaram a acessibilidade para todo mundo. É relativamente aceitável na cultural do Nepal que a vida se mova num ritmo mais vagaroso durante esta temporada, pois as chuvas afetam tudo”, afirma o norte-americano Chris Dudley, diretor de resposta a desastres na Convoy of Hope.
Impacto na logística
As organizações tiveram de readequar a logística de suas operações para que as chuvas não interrompessem a circulação de comida e medicamentos até áreas remotas. Embora haja suprimentos para atender as demandas da população, as monções ampliaram o risco de desabamento nas precárias estradas do país e restringiram o acesso a clínicas móveis de saúde.
Anne Reynolds / IFRC
Nepaleses foram filas no distrito de Makwanpur para aliviar condições complicadas em meio às enchentes
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Khan, da Cruz Vermelha, diz que a distribuição de mantimentos é ainda mais complexa, pois muitas pessoas deixaram os vilarejos após suas casas serem destruídas pelo terremoto ou por temerem deslizamentos de terra.
“Nesses casos, precisamos ser suficientemente ágeis para entregar os serviços à população que está se realocando”, explica. Além disso, ressalta, há a preocupação de se alcançar comunidades nas montanhas que ainda não foram atendidas e ficarão isoladas com o avanço das chuvas.
Falta de fundos
Não bastassem as condições climáticas adversas, os socorristas sofrem com a ausência de um financiamento adequado. Um estudo feito em junho pelo BM (Banco Mundial) calculou que o Nepal precisa de US$ 6,6 bilhões (R$22,5 bi) — quantia relativa a um terço da economia do país — para se recuperar do desastre.
EFE
Sobreviventes dos arredores de Katmandu moram em tendas doadas por agências internacionais; para ONU, é necessário mais esforço
O mesmo levantamento apontou que 3% da população nepalesa (mais de 900.000 pessoas) entraram na linha de pobreza devido ao terremoto. “O dinheiro sempre é um problema na resposta aos desastres. A Convoy of Hope é pequena, então precisamos tomar decisões prioritárias para gastar os fundos de forma que o impacto seja maximizado”, argumenta Dudley.
Em maio, a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC, em inglês) lançou uma campanha emergencial para conseguir 85 milhões de francos suíços (R$ 294 milhões) que seriam revertidos em ajuda para 700.000 pessoas.
Até o momento foram levantados 45 milhões (R$ 156 milhões), ou 53% da quantia total. “A comunidade internacional tem coordenado com o governo nepalês a resposta às necessidades mais urgentes. Infelizmente nossos apelos não são completamente atendidos e não seremos capazes de fazer tudo que pretendemos”, lamenta Khan.