Após anos de saga jurídica, Julian Assange foi libertado da prisão no Reino Unido na segunda-feira (24/06) e, nesta terça-feira (25/06), está a caminho de um tribunal federal dos Estados Unidos no Pacífico. No tribunal, Assange deve se declarar culpado nos termos de um acordo que permitirá que ele recupere sua liberdade. A ONU se pronunciou e saudou o fim da detenção de Assange no Reino Unido.
Processado por expor centenas de milhares de documentos confidenciais, o australiano de 52 anos deve comparecer na quarta-feira (26/06) pela manhã em um tribunal federal nas Ilhas Marianas, um território dos EUA no Pacífico, de acordo com documentos judiciais divulgados.
Acusado de “conspiração para obter e divulgar informações relacionadas à defesa nacional”, espera-se que Julian Assange se declare culpado apenas dessa acusação, de acordo com os documentos do tribunal tornados públicos, que também citam o nome de sua cúmplice, a soldado norte-americana Chelsea Manning, que estava por trás do vazamento maciço.
Reações
O advogado francês de Assange, Antoine Vey, destacou à RFI o apoio das Nações Unidas para a soltura. “É uma boa notícia, uma alegria imensa, pelo ser humano extremamente rico, inteligente que é Julian Assange, e por seu apreço pela liberdade. Ele conta com o apoio de ONGs, advogados e juristas. Teve o apoio da ONU, que reconheceu o caráter arbitrário de sua detenção. Muitos países, entre eles a Alemanha, o apoiaram”, enumerou.
“Hoje, podemos nos alegrar que os Estados Unidos tenham conseguido aceitar que podiam fazer parte da solução. O caso de Assange é muito importante, porque recorda a importância das liberdades e principalmente do direito à informação”, continuou Vey.
O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos saudou nesta terça-feira o fim da detenção de Julian Assange: “Nós saudamos a libertação de Julian Assange (…) no Reino Unido e com o progresso significativo feito em direção a uma resolução definitiva deste caso, sem mais detenções”, disse à AFP Elizabeth Throssel, porta-voz do Alto Comissariado.
“Julian está livre!!!”, exaltou sua esposa Stella Assange, expressando “imensa gratidão” àqueles que trabalharam “durante anos” para tornar sua libertação uma “realidade”.
A mãe do fundador do WikiLeaks, Christine Assange, também se pronunciou através da mídia australiana e evidenciou a “diplomacia silenciosa” que levou ao fim da “provação” de Julian Assange: “Muitos usaram a situação do meu filho para promover suas próprias causas. Portanto, sou grata às pessoas invisíveis e trabalhadoras que colocaram o bem-estar de Julian em primeiro lugar”, agradeceu.
WikiLeaks comemora
“Julian Assange está livre” e deixou o Reino Unido e a prisão de alta segurança perto de Londres, onde esteve detido desde 2019, para embarcar em um avião particular no aeroporto de Stansted, publicou o WikiLeaks na rede X, celebrando o fato de que ele se reuniria com sua esposa Stella Assange e seus filhos, como “o resultado de uma campanha global”.
A organização divulgou um vídeo de 13 segundos que o mostra subindo as escadas da aeronave.
De acordo com jornalistas da AFP, o avião aterrissou em Bangcoc na terça-feira, por volta das 12h30 hora local, para uma escala técnica e deve decolar novamente nas próximas horas para Saipan, nas Ilhas Marianas, segundo um funcionário tailandês à AFP sob condição de anonimato.
A diplomacia e a saga no caso de Assange
Espera-se que ele seja condenado a 62 meses de prisão, tempo já cumprido em prisão preventiva em Londres, o que lhe permitiria retornar à Austrália, seu país natal, em liberdade.
O governo australiano também comentou a soltura, dizendo que o caso de Assange havia “se arrastado por muito tempo” e que não havia mais sentido em mantê-lo detido.
Emma Shortis, pesquisadora do think tank The Australia Institute, disse à AFP que Canberra e Washington “reconheceram que isso tinha que parar”. “Era simplesmente impossível que isso não se tornasse um problema para a aliança entre os EUA e a Austrália”, acrescentou.
Esse acordo põe fim a uma saga que durou quase 14 anos. O acordo ocorreu no momento em que os tribunais britânicos deveriam examinar, em 9 e 10 de julho, um recurso de Julian Assange contra sua extradição para os Estados Unidos, aprovada pelo governo do Reino Unido em junho de 2022.
Assange estava lutando para evitar ser entregue à justiça norte-americana, que o está processando por tornar públicos, a partir de 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas norte-americanas, especialmente no Iraque e no Afeganistão.
Esses documentos incluem um vídeo que mostra civis, incluindo dois jornalistas da Reuters, mortos por disparos de um helicóptero de combate dos EUA no Iraque em julho de 2007.
Com 18 acusações, ele teoricamente poderia pegar até 175 anos de prisão de acordo com a Lei de Espionagem.
Chelsea Manning foi condenada a 35 anos de prisão por uma corte marcial em agosto de 2013, mas foi libertada depois de sete anos após a comutação de sua sentença pelo presidente Barack Obama.
No mais recente desenvolvimento desse caso de longa duração, que se tornou um símbolo para seus defensores das ameaças à liberdade de imprensa, dois juízes britânicos concederam a Julian Assange o direito de recorrer contra sua extradição em maio. Esse recurso deveria se concentrar especialmente na questão de saber se ele se beneficiaria da proteção da liberdade de expressão como estrangeiro no sistema jurídico norte-americano.
O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, após passar sete anos na embaixada equatoriana em Londres para evitar a extradição para a Suécia em uma investigação de estupro que foi arquivada no mesmo ano.