O que Uribe pretende com sua frenética viagem pela América do Sul? Nada menos que vender uma iniciativa tóxica, para utilizar a linguagem imposta pela crise capitalista. Ou seja, justificar a escalada da ofensiva militar do império com o propósito de reverter as mudanças que nos últimos anos alteraram a fisionomia sociopolítica da região.
Ante esta desconcertante realidade, a tática da Casa Branca tem sido a de abandonar a retórica bélica de Bush e ensaiar um discurso igualitário e respeitoso da soberania dos países da região, mas mobilizando novas bases militares, mantendo a Quarta Frota e fortalecendo sem pausa o Comando do Sul.
Neste sentido, Barack Obama, a quem os perpetuamente desorientados “progress” (progressistas) europeus e latino-americanos continuam confundindo com Malcom X, está seguindo ao pé da letra os conselhos de Theodore Roosevelt, o pai da grande expansão imperialista norte-americana no Caribe e América Central, quando dizia “speak softly and carry a big stick”, ou seja, “fale com suavidade mas tenha à mão um porrete”.
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Roosevelt foi um mestre em aplicar essa máxima na hora de construir o Canal do Panamá e alcançar, com a infame Emenda Platt, praticamente a anexação de Cuba aos Estados Unidos. Com sua política de remilitarização forçada da política externa para a América Latina e Caribe, Obama vai pelo caminho traçado por seu predecessor.
A justificativa que Uribe usa para o apoio à sua decisão de conceder às Forças Armadas dos Estados Unidos sete bases militares é a de que se amplia a cooperação com o país norte-americano, para formar um eficaz combate contra o narcotráfico e o terrorismo. Desculpa insustentável à luz da experiência. Segundo uma agência especializada das Nações Unidas, os dois países onde a produção e exportação de papoula e coca mais cresceu são Afeganistão e Colômbia, ambos sob uma espécie de ocupação militar norte-americana. E se algo que a história do último século na Colômbia ensina é a incapacidade para resolver o desafio levantado pelas Farc por via militar.
Apesar disso, o general Freddy Padilla de Leon, que gosta de dizer que morrer em combate “é uma honra sublime”, anunciou há alguns dias em Bogotá que as sete bases estariam localizadas em Larandia e Apiay (oeste colombiano); em Tolemaida e Palanquero (centro); em Malambo (no Atlântico, na costa norte); em Cartagena, Caribe colombiano e a sétima em um lugar não determinado na costa do Pacífico.
O Congresso dos Estados Unidos já aprovou a soma de 46 milhões de dólares para instalar seu pessoal e equipamentos bélicos e de acompanhamento nas novas bases com o objetivo de substituir as instalações que tinham em Manta, Equador. Na verdade, já há na Colômbia 800 homens das Forças Armadas dos Estados Unidos e 600 “empreiteiros civis” (na realidade, mercenários), mas os analistas coincidem em assinalar que a conta real é muito maior que a oficialmente conhecida.
Venezuela rodeada
Não é preciso ser especialista em questões militares para comprovar que com a entrega dessas bases a Venezuela fica completamente rodeada, submetida ao assédio permanente das tropas do império estacionadas na Colômbia, além das nativas e dos “paramilitares”. A isto deve-se incluir o apoio que esta ofensiva contra a Revolução Bolivariana tem com as bases norte-americanas em Aruba, Curaçao e Guantánamo; a de Palmerolas, em Honduras; e a Quarta Frota, que dispõe de recursos suficientes para patrulhar efetivamente todo o litoral venezuelano.
Mas não só Chávez está ameaçado. Correa e Evo Morales também ficam na mira do Império se levamos em conta que Alan García no Peru arde em desejo de oferecer uma “prova de amor” ao ocupante da Casa Branca, outorgando-lhe facilidades para suas tropas.
No Paraguai, os Estados Unidos asseguraram o controle da estratégica base de Mariscal Estigarribia, situada a menos de cem quilômetros da fronteira com a Bolívia, e que conta com umas das pistas de aviação mais extensas e resistentes da América do Sul, apta para receber os gigantescos aviões de transporte de tanques, aviões e armamento pesado de todo tipo que utiliza o Pentágono. O país também dispõe de uma enorme base em Pedro Juan Caballero, a 200 metros da fronteira com o Brasil, mas que, segundo Washington, pertence à DEA (agência antinarcóticos) e tem como finalidade lutar contra o narcotráfico.
A ameaça que representa essa expansão sem precedentes do poder militar norte-americano na América do Sul não passou despercebida para o Brasil, que sabe das ambições dos Estados Unidos com relação à Amazônia, região que “da porta pra dentro” os estrategistas imperialistas consideram como um território vazio, de livre acesso, e que será ocupado por quem tecnologicamente tenha a capacidade de fazê-lo.
Reagir com firmeza
Frente a essa ameaças, os países sul-americanos têm de reagir com muita firmeza, exigindo dos Estados Unidos o arquivamento de seus planos bélicos na Colômbia, a desmilitarização da América Latina e do Caribe e a desativação da Quarta Frota. A retórica de diálogo de Obama é incongruente com a existência de semelhantes ameaças, e se quer alcançar o mínimo de credibilidade internacional, deveria ele mesmo dar instruções para dar andamento a essas iniciativas.
Por outro lado, os governos da região reunidos na Unasul e no Conselho de Defesa Sul-Americano deveriam ignorar as falácias de Uribe e ultrapassar o plano da retórica e da indignação moral ao mais concreto da política, conduzindo alguns gestos bem eficazes: por exemplo, ordenando a retirada imediata das missões militares e dos homens fardados estacionados em nossos países enquanto essas políticas não sejam revertidas.
Dessa forma, a mensagem de repúdio ao “militarismo pentagonista” – como precocemente batizou o grande latino-americano, Juan Bosch – chegaria clara e potente aos ouvidos de seus destinatários em Washington. As súplicas e exortações, pelo contrário, somente exacerbariam as ambições do imperialismo.
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