Venezuela: opositor que estava abrigado na embaixada argentina se entrega à Justiça
Fernando Mottola, acusado de conspirar contra governo, se apresentou voluntariamente ao MP; outros cinco continuam na sede diplomática
O Ministério Público (MP) da Venezuela informou nesta sexta-feira (20/12) que efetuou a prisão do empresário e líder opositor Fernando Martínez Mottola, acusado de organizar ações visando desestabilizar a democracia e desconhecer o resultado das eleições presidenciais realizadas em julho passado – que terminaram com a reeleição de Nicolás Maduro para um novo mandato de seis anos.
Segundo o comunicado assinado pelo procurador-geral Tarek William Saab, Mottola se apresentou voluntariamente à sede do MP na noite de quinta-feira (19/12).
Vale lembrar que o opositor se encontrava abrigado no edifício da Embaixada da Argentina em Caracas, junto com outros cinco militantes da extrema direita, todos investigados pelos mesmos crimes atribuídos ao empresário.
Mottola foi ministro do governo do ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, entre os anos de 1992 e 1993. Além disso, ele fez parte da delegação enviada pelo ex-deputado autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, para os Estados Unidos para negociar saídas para a crise política de 2019, tendo a Noruega como mediador.
Após a sua chegada à sede do MP, Mottola “prestou depoimento sobre os graves acontecimentos violentos, conspiratórios e desestabilizadores organizados a partir da referida sede diplomática nos últimos meses”, segundo o texto do comunicado.

Mottola teria se entregado voluntariamente ao Ministério Público, segundo comunicado
“Ele decidiu colaborar ativamente com o sistema de justiça venezuelano, no âmbito do devido processo previsto no artigo 49 da Constituição da República”, acrescenta a nota.
O comunicado do MP conclui dizendo que o trabalho dos procuradores “seguirá firme em seu dever de garantir a justiça e de fortalecer a sua luta contra qualquer grupo ou entidade, nacional ou internacional, que atue fora da lei e que atente contra a paz da nação venezuelana”.
Os outros cinco militantes extrema direita, todos eles ligados ao partido Venha Venezuela, que conforma a aliança opositora Plataforma Unitária, continuam abrigados na Embaixada da Argentina em Caracas.
São eles: Magalli Meda, diretora de campanha da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado; Omar González, Claudia Macero e Humberto Villalobos, do grupo Vente Venezuela; e Pedro Urruchurtu.
Exilados na embaixada argentina
O caso envolvendo os exilados na embaixada argentina se arrasta desde março. Em 11 de dezembro, a Casa Rosada pediu que o governo da Venezuela conceda salvos-condutos para os seis opositores deixem o país.
O governo de Nicolás Maduro aceitou negociar a saída dos opositores depois de uma intermediação da Colômbia.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores colombiano, Luis Gilberto Murillo, os venezuelanos pediram a troca dos exilados pelo ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas, que está preso em Guayaquil.
De acordo com o jornal colombiano El Tiempo, Caracas ainda teria pedido a liberação da líder indígena Milagro Sala, presa na Argentina desde 2016.
Ela é dirigente da organização Tupac Amaru e foi deputada do Parlasul de 2015 até sua prisão. Em 2019, foi candidata pela coligação socialista Frente para a Vitória. Além disso, é integrante da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA).
A troca entre Glas e Sala com os exilados na embaixada ainda não foi confirmada. A embaixada argentina na Venezuela está sendo custodiada pelo governo brasileiro. Na última semana, a chancelaria argentina acusou o governo venezuelano de promover cortes de água e de energia, restrição para a entrada de alimentos e fiscalização das forças de segurança ao redor da embaixada.
(*) Com reportagem de Lorenzo Santigo, do Brasil de Fato.