Orsi, Delgado e Ojeda: quem são candidatos que tentam chegar ao poder no Uruguai
Representante da Frente Ampla de esquerda lidera pesquisa e pode ser eleito neste domingo; candidatos de direita tentam forçar segundo turno e disputam entre si para passar à próxima etapa
O Uruguai realiza neste domingo (27/10) o primeiro turno de suas eleições gerais, no qual 11 candidatos se enfrentam para saber quem será o presidente do país entre março de 2025 e março de 2030.
Porém, apenas três deles aparecem com chances matemáticas de vencer a disputa, segundo as pesquisas: o professor Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda Frente Ampla, o fazendeiro Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional, e o advogado e figura midiática Andrés Ojeda, do conservador Partido Colorado.
Conheça as candidaturas entre as quais será eleito o presidente que governará o Uruguai entre março de 2025 e março de 2030.
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Yamandú Orsi
Quem lidera todas as medições feitas desde agosto, e com enorme vantagem, é Yamandú Orsi, de 57 anos, candidato da Frente Ampla, maior coalizão de esquerda do país.
Professor de história em escolas de ensino médio durante 22 anos, Orsi passou a atuar mais abertamente na política em 2005, quando passou a fazer parte da executiva regional do Movimento de Participação Popular (MPP), partido então liderado por Pepe Mujica – e que, atualmente, é presidido pela esposa do ex-presidente, Lucía Topolansky – no departamento de Canelones.
O ponto de partida é importante para entender a trajetória de Orsi: o departamento (província) de Canelones reúne 32 municípios, a maioria deles pertencentes à chamada Grande Montevidéu, e configuram a segunda região mais populosa do país, com cerca de 600 mil habitantes – atrás dos 1,7 milhão da capital.
Canelones também é, desde 2005, um reduto eleitoral da Frente Ampla, que elegeu os últimos seis governadores do departamento. Orsi foi o penúltimo deles: eleito em 2020, após 15 anos em cargos menores do governo regional, o professor administrou a região até março de 2024, quando se afastou para concorrer nas eleições prévias da Frente Ampla, realizadas em agosto.
Na disputa interna de sua coalizão, Orsi venceu Carolina Cosse, que foi prefeita de Montevidéu também entre 2020 e 2024, e que também se afastou para concorrer nas eleições prévias.
Além da escolha dos candidatos presidenciais, as eleições prévias no Uruguai servem como um termômetro para a eleição presidencial. Naquela jornada eleitoral, realizada no dia 30 de junho, as pré-candidaturas da Frente Ampla juntas somaram 418 mil votos – 247 mil de Orsi, 157 mil de Cosse e 13 mil de outros –, equivalentes a 42% do total.
Nas últimas pesquisas publicadas antes do primeiro turno, o percentual de apoio à coalizão aumentou para entre 45% e 46%. Essas mesmas medições indicam que, segundo os critérios de margem de erro e a projeção de votos válidos, Orsi poderia superar o patamar de 50% e ser declarado como presidente eleito já no primeiro turno.
Álvaro Delgado
O candidato da situação no Uruguai é o fazendeiro Álvaro Delgado, de 55 anos, candidato do Partido Nacional, sigla de direta liberal liderada pelo atual presidente, Luis Lacalle Pou.
Tornou-se figura conhecida no interior do país como especialista veterinário do setor agropecuário, e se envolveu com a política a partir dos Anos 90.
Seu primeiro cargo público foi como inspetor-geral do Ministério do Trabalho, de 1999, durante o segundo mandato do presidente Julio María Sanguinetti (1995-2000) até 2004, no governo de Jorge Batlle (2000-2005), ambos do Partido Colorado, também de direita.
Daí por diante, sua carreira política seguiu um rumo pelo Poder Legislativo: foi eleito deputado por Montevidéu em 2004, reeleito em 2009, e chegou ao Senado em 2014.
Com a chegada de Lacalle Pou ao poder, Delgado passa a formar parte do governo como ministro porta-voz, cargo que o manteve em evidência durante o atual mandato presidencial.
Considerado como figura de confiança do atual mandatário, ele venceu as prévias eleitorais do Partido Nacional contra Laura Raffo, que agora é a sua companheira de chapa.
Vale destacar que, nas eleições prévias, as candidaturas do Partido Nacional reunidas tiveram 331 mil votos – 246 mil de Delgado, 63 mil de Raffo e NN mil de outras –, equivalentes a 33% dos votos emitidos naquela jornada.
Porém, as pesquisas mostram que as intenções de voto no governista após sua nomeação oficial como variam entre 24% e 25%, o que indica uma queda significativa para sua candidatura.

Yamandú Orsi, Álvaro Delgado e Andrés Ojeda são os três principais candidatos presidenciais do Uruguai em 2024
Andrés Ojeda
O candidato do Partido Colorado, outra sigla de direita com viés mais conservador, é o advogado e figura midiática Andrés Ojeda, de 40 anos.
Seu trabalho como advogado do Sindicato dos Policiais e como defensor do ex-guerrilheiro tupamaro Héctor Amodio Pérez – considerado o maior traidor da guerrilha, após ter delatado Pepe Mujica e dezenas de outros companheiros da organização – o levaram a ser requisitado em programas de televisão, e aos poucos foi se tornando participante habitual em programas de canais com linha editorial ultraconservadora.
Sua presença nos meios de comunicação compensa sua falta de experiência política: Ojeda foi vereador em Montevidéu entre 2010 e 2015 e candidato a vice-prefeito da capital uruguaia em 2020, em chapa liderada por Laura Raffo, do Partido Nacional – naquela disputa, a coalizão de direita foi derrotada pela Frente Ampla, cuja candidatura foi encabeçada por Carolina Cosse.
Nas prévias do Partido Colorado, Ojeda obteve 41 mil votos, contra 23 mil de Robert Silva – que tornou-se vice em sua candidatura – e 19 mil de Gabriel Gurméndez e 18 mil de Tabaré Viera.
Ao todo, a legenda reuniu 104 mil votos, cerca de 10% do total. Porém, as pesquisas mais recentes mostram o candidato colorado variando entre 15% e 18% das intenções de voto.
Desde setembro, a campanha de Ojeda insiste no discurso de que ele é a melhor alternativa para vencer Yamandú Orsi em um possível segundo turno, e pede que os eleitores de Delgado façam “voto útil” a favor de sua candidatura.
Outras candidaturas
Além dos três políticos que aparecem nas primeiras posições nas pesquisas, há outras oito candidaturas disputando as eleições presidenciais, que as medições mostram com menos de 5% das intenções de voto.
Uma delas é a do ex-militar Guido Manini Ríos, do partido de extrema direita Cabildo Aberto. Sua plataforma baseada em um discurso carregado de nostalgia à última ditadura civil militar do país – que durou entre 1973 e 1985 – conquistou 11,5% dos votos em 2019, mas parece mobilizar muito menos este ano: as pesquisas recentes indicam variação entre 2% e 4% nas intenções de voto do setor.
O setor progressista tem outros dois nomes concorrendo nestas eleições. Um deles é o de Pablo Mieres, do Partido Independiente, cuja plataforma é de centro-esquerda.
O outro candidato de esquerda é Gonzalo Martínez, representante da coalizão Unidade Popular – Frente dos Trabalhadores, defensora de um projeto anticapitalista e nacionalista de esquerda. A chapa tem como vice a líder sindical Andrea Revuelta.
Outra candidatura de extrema direita é a do advogado Gustavo Salle, do partido Identidade Soberana, que reivindica um discurso descrito pelo próprio jurista como “econacionalista” ou “antiglobalismo verde”.
Salle não é o único ambientalista de extrema direita na disputa. Outro nome que defende plataforma parecida é César Vega, do Partido Ecologista Radical Intransigente (PERI).
O terceiro ecologista de direita é Eduardo Lust, que já foi parte do partido de extrema direita Cabildo Aberto até 2023, mas que deixou a sigla para fundar o Partido Constitucional Ambientalista, com um discurso que apela à direita moderada.
Outras duas candidaturas de direita, mas que não reivindicam a causa ambiental, são as de Guillermo Franchi, do Partido Pelas Mudanças Necessárias, e Martín Pérez Banchero, do partido Avançar Republicano.
