Em menos de 100 dias, o presidente Barack Obama conseguiu mudar, ainda que parcialmente, o rosto do país. Tanto dentro como fora.
Em janeiro, horas depois de assumir a presidência, sua primeira decisão foi mandar fechar a prisão na Base Naval de Guantánamo, em Cuba e proibir a tortura dos prisioneiros das guerras no Iraque e Afeganistão.
As duas promessas de campanha, até então tidas como radicais, tiveram um impacto maior ainda quando o presidente decidiu abrir o debate à opinião pública, um fato impensável no tempo do seu antecessor, George W. Bush.
Aproveitando uma viagem à Europa, para reunir-se com os sócios da OTAN, os parceiros na guerra do Afeganistão, Obama fez no parlamento turco seu primeiro discurso de abertura ao mundo muçulmano.
Naquela ocasião, ele enviou uma mensagem de paz ao Irã, que surpreendeu os diplomatas iranianos, a ponto de ficarem desconcertados durante horas, sem saber o que fazer.
Foi quando Obama começou a desatrelar-se de seu antecessor e anunciou que os Estados Unidos não voltarão a usar expressões como “guerra ao terrorismo” ou “combatentes inimigos”.
Saída do Iraque
A energia com que Obama lançou seu plano de recuperação econômica também fez com que os norte-americanos começassem a ter outra percepção da presidência de seu país.
O mandatário redesenhou as relações entre a empresa privada e o governo federal, assumindo este um maior controle sobre as despesas com fundos públicos.
Ao estabelecer um cronograma fixo para a saída das tropas no Iraque, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos proporcionou um objetivo que Bush nunca tinha antecipado e desviou a preocupação de seus cidadãos sobre a guerra.
Apesar das críticas, o presidente acabou com a proibição do Pentágono à imprensa de filmar e fotografar o regresso aos Estados Unidos dos caixões dos militares mortos. Uma imagem que na década dos anos 60 contribuiu em muito para o movimento contra a guerra do Vietnã.
Republicanos seduzidos
Até agora, Obama tem se guiado pelas promessas de campanha, como se fosse um roteiro cinematográfico. Desde a liberalização do consumo da maconha até à proteção dos direitos dos homossexuais, o presidente se manifestou sobre todos os temas.
Ele não só revogou decisões políticas e filosóficas capitais de seu antecessor, como alterou profundamente o jeito de governar, recorrendo a um artifício muito raro na política norte-americana.
“Normalmente um presidente governa com o pessoal de seu partido. Neste caso, Obama podia ter deixado os republicanos de lado, porque dispõe de maioria paramentar nas duas câmaras. Mesmo assim quis governar com os republicanos”, comentou ao Opera Mundi, o analista da Universidade Internacional da Florida, Daniel Alvarez.
Não teve muito êxito. Mas de todo modo, conseguiu que membros importantes do partido republicano se aproximassem, o escutassem e acabassem aprovando algumas de suas decisões, apesar das críticas de seus correligionários.
É assim como, nesta terça-feira (28), o veterano senador Arlen Specter anunciou que abandonava os republicanos para unir-se aos democratas, porque “neste momento importante da história do país, não vejo que [os republicanos] estejam preocupados em ajudar os norte-americanos”.
Outro apoio decisivo veio do governador da Califórnia, o ator Arnold Schwarzenegger. Este republicano ferrenho, apesar de seu casamento com uma herdeira do clã Kennedy, acabou se transformando num dos aliados mais firmes do presidente.
Obama reforçou as necessidades financeiras do orçamento da Califórnia e apoiou os planos do governador em matéria de meio ambiente e relações com o vizinho do sul, o México. “Nunca a Califórnia teve um acesso tão intenso à Casa Branca como agora”, reconheceu há semanas o governador Schwarzneger.
Trinidad e Tobago
Nestes 100 dias, Obama também estendeu a mão à África. Ele emitiu uma ordem executiva, dando marcha ré na decisão de Bush de proibir o uso de dinheiro público nas investigações com células-tronco.
“Nos últimos anos o nosso governo tomou uma decisão que, na minha opinião, parte de um conceito errado e falso, ao considerar que existe um antagonismo entre a ciência e os valores morais. Não acredito nisso”, justificou o presidente.
Outra novidade foi a vontade de aproximação com a América Latina, Após sua primeira visita ao México neste mês, ele foi a grande atração da cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, onde encontrou todos os lideres da região, inclusive o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
“As veias abertas”
Foi sorrindo que Obama recebeu o livro de Eduardo Galeano, “As veias abertas da América Latina” como presente de Chávez, com quem parece ter estabelecido uma boa comunicação. Esta, porém, é ultrapassada pela relação pessoal que mantêm com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que o visitou em Washington, antes inclusive de Obama tomar posse, em 20 de janeiro.
A grande decisão em relação a América Latina foi a iniciativa do presidente de acabar com as proibições do envio de remessas para Cuba, tal como as viagens dos cubano-americanos na ilha. Esta medida deve rapidamente ser estendida ao resto dos norte-americanos, para evitar discriminações.
Havana acolheu a iniciativa com alguma precaução, mas os primeiros 100 dias de Obama na Casa Branca encerraram esta semana, com diplomatas dos dois países sentados à mesma mesa, numa mansão particular do elitista bairro de Georgetown, na capital norte-americana.
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