Países africanos reagem, com indignação, a veto migratório de Trump
Governo dos EUA anunciou decreto que proíbe cidadãos de 12 nações de entrar no país, sete são africanas
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de barrar a entrada de cidadãos de 12 países, sete deles africanos, gerou uma onda de reações diplomáticas e críticas públicas em diversas nações da África. Autoridades classificaram a medida como arbitrária e prejudicial às relações com Washington.
A medida, chamada pelo críticos de ‘veto étnico’, começa a valer a partir da próxima segunda-feira (09/06). As sete nações africanas afetadas pela proibição total de entrada ao país são Chade, República do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia, Líbia, Somália e Sudão.
Também são alvos Afeganistão, Mianmar, Haiti, Irã e Iêmen. Já os cidadãos do Burundi, Cuba, Laos, Serra Leoa, Togo, Turcomenistão e Venezuela não poderão contar nem com visto de turista, nem de estudante, e estão proibidos de ir ao país de forma permanente.
O presidente do Chade, Mahamat Idriss Déby, foi o primeiro a responder com medidas concretas. Em uma publicação nas redes sociais, ele anunciou a suspensão imediata da emissão de vistos para cidadãos estadunidenses.
“O Chade não tem aviões para oferecer, nem bilhões de dólares para doar, mas tem sua dignidade e orgulho”, escreveu Déby, acrescentando que a decisão foi tomada “em conformidade com os princípios de reciprocidade”.

Africany/ Wikimedia Commons
Outras reações
O Congo também criticou a política anunciada por Trump. O ministro das Comunicações e porta-voz do governo congolês, Thierry Moungalla, afirmou que a inclusão do país na lista é “um mal-entendido” e negou qualquer ligação com terrorismo. “Obviamente, o Congo não é um país terrorista, não abriga terroristas, não tem vocação terrorista”, afirmou, ao destacar que a diplomacia congolesa buscará esclarecimento de Washington.
A União Africana, por sua vez, expressou preocupação com os impactos políticos da decisão. Em comunicado oficial, o bloco continental instou Washington a “engajar-se em diálogo construtivo com os países afetados”, alertando para possíveis danos às relações diplomáticas e à cooperação multilateral entre os EUA e o continente africano.
Em Serra Leoa, alvo de restrições adicionais, o ministro da Informação, Chernor Bah, adotou tom mais diplomático. “Trabalharemos com as autoridades dos EUA para garantir progresso”, afirmou, sinalizando disposição para ajustar processos migratórios exigidos por Washington.
Em nota, a Somália se comprometeu a trabalhar com os EUA para resolver questões de segurança. “A Somália valoriza seu relacionamento com os Estados Unidos e está pronta para dialogar a fim de abordar as preocupações levantadas”, disse Dahir Hassan Abdi, embaixador somali no país.
‘Justificativas’
Trump justifica o veto como uma medida de segurança nacional. Ele evocou o atentado em Boulder, Colorado, no último domingo, quando uma bomba foi lançada contra um grupo de manifestantes pró-Israel. As autoridades acusaram um cidadão egípcio pelo ataque e afirmaram que seu visto de turista estava vencido. O Egito, porém, não consta na lista de proibição.
Vale destacar que no mês passado, Trump protagonizou uma recepção constrangedora do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, na Casa Branca. Ele chegou a acusar o país, que sofreu uma brutal política de segregação racial, durante décadas, de promover um ‘genocídio branco’.
