A declaração final Cúpula Mundial de Segurança Alimentar, realizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) hoje (16), em Roma, compromete os 193 países membros a erradicar a fome. No entanto, não define aumento da verba destinada a este propósito.
“Nós nos comprometemos a fazer com que o número de pessoas que sofrem por causa da fome, da desnutrição e da insegurança alimentar pare imediatamente de aumentar, e diminua consideravelmente”, afirma o texto, aprovado sem a presença dos presidentes das nações mais ricas.
O diretor-geral da FAO, o senegalês Jacques Diouf, lamentou a ausência de metas mais concretas, como a falta de uma data para erradicação da fome, que deve crescer 9% neste ano, ultrapassando a marca de 1 bilhão de pessoas, ou seja, um sexto da população mundial, segundo relatório do próprio organismo.
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Os únicos prazos estipulados foram de reduzir pela metade o número de pessoas que passam fome em todo o planeta até 2015 e aumentar em 70% a produção agrícola até 2050, para alimentar uma população mundial que superará os 9 bilhões de pessoas.
Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que os países destinem recursos ao combate à fome, que, segundo ele, poderia ser erradicada com menos da metade do dinheiro destinado ao salvamento de bancos durante a crise financeira.
Perante a ameaça de um colapso financeiro internacional, causado pela especulação irresponsável e pela omissão dos Estados na regulação e na fiscalização do sistema, os líderes mundiais não duvidaram em gastar centenas e centenas de trilhões de dólares para salvar a queda dos bancos”, disse Lula.
“Com menos da metade desses recursos, seria possível erradicar a fome do mundo. A luta contra a fome segue, no entanto, praticamente à margem da ação dos governos. É por assim dizer invisível”, completou.
ONGs e a própria ONU alertam que a fome mata 24 mil pessoas a cada dia – 70% delas, crianças. A cada cinco segundos, uma criança morre por conta da falta de alimentos, dizem. Ecoando essas estatísticas, o presidente brasileiro qualificou a fome de “a mais temível arma de destruição em massa que existe no nosso planeta”.
“Na verdade ela não mata soldados, não mata exércitos, ela mata sobretudo crianças inocentes que morrem antes de completar um ano de idade”. Lula ainda lamentou que os esforços para socorrer os pobres da miséria, da exclusão e da desigualdade ainda sejam vistos por muitos como “assistencialismo” ou “populismo”.
Após recordar que ele pessoalmente passou fome e que, como milhões de brasileiros, teve que abandonar sua terra natal por essa razão, Lula afirmou que seu governo reduziu em mais de 20 milhões o número de pessoas que sofrem com a fome e diminuiu em 62% a desnutrição infantil, “quebrando o ciclo perverso que perpetua a miséria e a desesperança”.
Jejum
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, abriu seu discurso alertando que somente no dia de hoje, 16 mil crianças morreriam de fome. Pouco antes do evento, no sábado, o secretário jejuou em solidariedade aos que sofrem com a fome ao redor do mundo.
O anfitrião do evento, o presidente italiano Silvio Berlusconi, fez mea culpa e admitiu que, após a promessa dos países ricos de destinar recursos aos mais pobres, é preciso “começar a trabalhar”.
“Precisamos que cada país assuma sua obrigação de forma precisa, que garanta que o dinheiro possa ajudar os agricultores, em especial os pequenos, para elevar a produção de alimentos em todo o mundo”, afirmou.
Segundo a FAO, são necessários investimentos da ordem de 200 bilhões de dólares por ano em agricultura primária nos países em desenvolvimento para atender à demanda global por alimentos até 2050, um aumento de 50% em relação aos níveis atuais. Só a ajuda dos países ricos, diz a FAO, deveria ser de 44 bilhões por ano em agricultura alimentar, – contra 7,9 bilhões gastos atualmente a cada ano.
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