O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou na segunda-feira (03/02) que os navios de guerra norte-americanos terão livre passagem pelo canal país, além de romper o acordo firmado com a China para a construção de uma série de infraestruturas.
O anúncio foi feito após a visita ao país do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
Antes disso, o presidente norte-americano Donald Trump repetiu diversas vezes nas últimas semanas que pensava em retomar o controle do Canal do Panamá pelos preços “exorbitantes” que este cobrava da Marinha e dos navios norte-americanos. Queixou-se também que o controle do canal estava sendo transferido aos chineses.
Enquanto Rubio qualificou de “grande passo” a decisão do Panamá, Trump disse que não estava contente com a situação no país. Ressalvou, porém, que havia se chegado a um acordo “em algumas coisas” e que conversaria na sexta-feira (07/02) com Mulino.
Os responsáveis pelo canal informaram que “otimizarão a prioridade de trânsito” dos navios de guerra norte-americanos. Já um alto funcionário do governo Trump informou que Mulino garantiu a Rubio que esses navios terão livre trânsito.
O presidente panamenho minimizou a importância das tensões com os Estados Unidos e reiterou que seu país não renunciará ao canal porque seu governo fez outras concessões aos Estados Unidos.
Concessões incluíram abdicar de investimentos chineses
Entre as concessões está sair do chamado Cinturão e Rota, um projeto de financiamento de infraestruturas em outros países lançado pela China, em 2013.
Seu objetivo é fortalecer a conectividade global por meio da construção de estradas, ferrovias, portos, telecomunicações e outras infraestruturas. Mais de 150 países e organizações internacionais já aderiram à iniciativa na Ásia, África, Europa e América Latina.
O Panamá foi o primeiro país da América Latina a aderir ao projeto, em 2017, e é agora o primeiro a abandoná-lo. No âmbito do acordo, duas empresas chinesas estão construindo uma ponte sobre uma das entradas do canal.

Navio atravessa o Canal do Panamá, as comportas contornam a diferença de nível entre Atlântico e Pacífico
Outra companhia chinesa, a Landbridge Group, comprou um porto auxiliar perto da entrada atlântica do canal para ampliá-lo e também aumentar sua capacidade logística. Trata-se do Porto de Margarita, localizado na Ilha homônima, uma zona franca na entrada do canal.
Mesmo assim, depois da visita do secretário norte-americano, o presidente do Panamá, além de anunciar que sairá do Cinturão e Rota, sinalizou sua disposição em rever a concessão da operação dos dois portos por 25 anos à uma companhia de Hong Kong.
Renovada em 2021, a concessão agora é criticada por legisladores e pelo governo dos Estados Unidos. Segundo eles, o contrato iria contra um tratado de neutralidade firmado por ambos países em 1977. Não explicam porque os próprios Estados Unidos firmaram a primeira concessão.
A influência chinesa em áreas estratégicas do comércio internacional e da América Latina preocupa o governo dos Estados Unidos.
Fora do âmbito do canal, os investimentos chineses no Panamá incluem outros portos, energia e telecomunicações. Empresas de Pequim, como Huawei e ZTE, têm forte presença no país, fornecendo infraestrutura para telecomunicações e redes 5G.