Sexta-feira, 11 de julho de 2025
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Estatísticas divulgados pelo think thank Ember Energy apontam que o governo da China vendeu U$2,09 bilhões (cerca de R$11,29 bilhões) em itens de energia solar para o Paquistão em 2024, transformando país em uma possível nova potência na área. Os dados apresentados a Opera Mundi foram disponibilizados pela paquistanesa Fiza Naz Qureshi, membro da Big Shift Global, campanha da Climate Action Network Internacional que trata das finanças dos combustíveis fósseis e das finanças públicas para redirecionar os investimentos em energias sujas para energias renováveis.

Qureshi resume a estatística, que mostrou que as exportações chinesas multiplicaram em 23 vezes a capacidade instalada de energia solar no país em 2024, ao afirmar que “os painéis solares extras da China estão abrindo caminho para o Paquistão” no assunto das energias renováveis.

Nesse mesmo ano, quase metade (49%) da energia elétrica no Paquistão veio de fontes térmicas (combustíveis fósseis: Gás Natural Liquefeito Regaseificado, carvão e gás). Uma outra parte veio de hidrelétricas (29%) (sendo as represas de Tarbela e Mangla as grandes responsáveis pelo crescimento), fontes nucleares (17%) e energias renováveis (5%) – onde a energia solar está incluída.

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A especialista do Climate Action Network também explicou que a grande porcentagem de energia vinda de hidrelétricas ocorreu porque o Paquistão se empenhou em promover uma energia renovável e limpa, com o objetivo final de reduzir a dependência da energia térmica.

A Opera Mundi, ela resumiu os cenários no fornecimento energético do Paquistão em: transmissão, problemas na distribuição, cobranças excessivas, devido à corrupção ou interesses políticos.

Na questão da distribuição, Qureshi explicou que as empresas privadas responsáveis pelo serviço estão “quase sempre” nas megarregiões ou nas megacidades, como Carachi e Laore. Mesmo que algumas regiões não tenham tais empresas, elas têm suas próprias distribuidoras, o que não acontece nas áreas mais afastadas. E tais serviços são fornecidos mediante altos preços.

Por que a energia solar?

O Paquistão enfrenta um problema decorrente de contratos antigos de energia. Desde 1919, o país assinou acordos para comprar energia de fontes independentes. Entretanto, estes geraram altos custos à nação e acabaram por endividar o governo. Por esse motivo, recentemente, cinco dos contratos foram cancelados. Contudo, de acordo com Qureshi, não se trata de um processo fácil porque as empresas podem recorrer a tribunais internacionais e processar o país.

Nesse sentido, a especialista ressaltou a Opera Mundi que a energia solar se consolida como uma solução para o Paquistão, já que ela é mais barata, renovável e não depende de grandes obras, como hidrelétricas. Entretanto, sustentou que o maior problema é a falta de “vontade política, finança e capacidade técnica”.

Qureshi também aponta que as hidrelétricas têm causado problemas no país, uma vez que há conflitos entre a nação e a Índia por causa das águas do Rio Indo que, em grande parte, é controlada pelas autoridades indianas.

As grandes barragens construídas no rio estão secando regiões importantes, como o Delta do Indo, e muitas comunidades próximas estão sendo prejudicadas com a escassez de água. Por esta razão, as pessoas estão sendo obrigadas a migrarem. Segundo a especialista, este fator também inclui um dos motivos pelo qual a população não gosta de energias com base em hidrelétricas, apesar de serem uma fonte de energia renovável.

Sendo assim, a China vem como um caminho para ajudar o Paquistão, já que tem tecnologia e recursos capazes de possibilitar a mudança a uma energia mais limpa.

A corrida pela consolidação da energia solar

Um dos principais problemas enfrentados pelo Paquistão com relação à energia elétrica sobrecarregada é o aumento da população e a consequente alta na demanda. Embora o país tenha expandido a sua rede de transmissão em 878 km e aumentado a sua capacidade em 1.270 MVA, em 2024, as linhas seguem sobrecarregadas, especialmente no trajeto Sul-Norte, explicou Qureshi.

Desta forma, a nação entrou em uma espécie de corrida pela consolidação da energia solar. A população encontrou uma alternativa favorável com a instalação de painéis solares, uma vez que as temperaturas naturais do país podem atingir a marca dos 50°C. Além disso, as renováveis conseguem substituir a energia de rede, que recorrentemente apresenta falhas em sua operação, chegando a provocar apagões de até 48 horas.

Painéis de energia solar em Karachi, no Paquistão
Crosji/Wikicommons

“Devido ao grande volume de exportação da China, os preços dos painéis solares no Paquistão caíram. Por isso, as pessoas estão mais propensas a comprar painéis solares”, disse.

A especialista relatou que antes das grandes exportações chinesas, os painéis solares “estavam disponíveis apenas nas grandes cidades do Paquistão” e que agora “há inclusive investidores privados que compraram painéis solares em grande quantidade e agora estão vendendo no mercado, o que também torna o equipamento acessível na área rural”.

E são justamente nas áreas rurais onde a temperatura atinge seus maiores picos, ultrapassando 45 graus, segundo Quresehi, possibilitando um fornecimento de energia pela luz solar em locais que, por serem afastados, sofriam com a defasagem da distribuição, podendo ficar mais de metade do ano sem fornecimento de energia. “O tempo de queda de carga e as contas pesadas levaram as pessoas a optarem por painéis solares. Elas criaram seus próprios sistemas”.

Mudanças e desafios

Outro apoio que tem permitido a mudança vem do próprio governo paquistanês. Em 2016, a administração do país sob a liderança de Nawaz Sharif (2013-2017) aprovou uma política para conceder isenções de impostos sobre os painéis solares. Três anos depois, o então primeiro-ministro Imran Khan (2018-2022) realizou uma “política atraente de medição líquida” para incentivar os usuários a se adaptarem à energia solar.

“Nessa política de medição líquida, o governo disse que as pessoas que adotassem a energia solar poderiam vender para o governo geração excessiva de energia de seus painéis solares para a rede principal. As mulheres também desempenharam um papel muito significativo nisso, porque no cenário doméstico era muito difícil passar o tempo sem eletricidade em um clima muito quente. Portanto, grandes mudanças estão acontecendo com a energia solar no Paquistão”, afirmou.

Por outro lado, ainda há alguns desafios. Qureshi disse que a maioria das pessoas que instalaram painéis solares no Paquistão o fizeram sem o uso de baterias, ou seja, a energia só é fornecida enquanto há incidência de luz solar, ou seja, durante o dia.

“Depois do pôr do sol, elas estão imediatamente correndo para a rede elétrica. Portanto, há uma grande questão de equilíbrio na rede que, durante todo o dia, o uso da eletricidade é muito menor e à noite, quando as pessoas estão voltando dos escritórios para suas casas e, definitivamente, no período noturno, a maioria das pessoas está usando ar condicionado dentro de suas casas, portanto, a carga na rede aumenta muito durante essas horas de trabalho. Portanto, um grande desequilíbrio foi criado devido a essa corrida solar também”, reconheceu.

Um dos grandes desafios também ocorre porque a fonte de energia “é muito diferente durante o dia e, automaticamente, durante a noite”.

“É preciso ver a infraestrutura, bem como as perspectivas políticas, a gestão, o discurso e o setor privado. Portanto, o Paquistão precisa de uma grande transformação para se adaptar a essa corrida solar. Acho que é uma oportunidade. Embora atualmente pareça um desafio para o governo, é uma oportunidade. […] Se eles forem rápidos e obtiverem a capacidade de alguns especialistas técnicos para lidar com essas questões rapidamente, acho que será uma boa jogada. É uma boa oportunidade para o Paquistão transferir todo esse mecanismo de energia para as energias renováveis. Há um potencial. O país pode até mesmo transferir sua carga básica para as energias renováveis, mas definitivamente precisa de capacidade técnica. Precisam de muitos recursos financeiros”, avaliou.