Apesar de alguns atritos com o Itamaraty, Marco Aurélio Garcia nega haver qualquer tensão com o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, pelo qual se derrama em elogios. “Celso é um homem com uma tradição de esquerda, com uma capacidade de criatividade e uma imaginação diplomática única. Na minha opinião, é a melhor escolha que fez Lula no seu governo. Não é por acaso que ele ainda está no governo”.
No gabinete do assessor internacional do presidente Lula, há poucas fotos apoiadas na estante de madeira clara abarrotada de livros e documentos. Numa, aparece ao lado de Amorim; numa outra, conversa com Chávez e Néstor Kirchner. Na mesa de trabalho, um pequeno busto de Simon Bolívar. Marco Aurélio tem uma explicação para o ódio que desperta regularmente: “Sou um homem de esquerda, com princípios de esquerda, uma cultura de esquerda, uma ética de esquerda”.
Para ele, é a mesma razão que explica por que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, virou alvo de ataques desde que começou a despontar como possível candidata à sucessão de Lula. “Dilma é diferente dos outros porque em algum momento, ela apostou a própria vida. Ela agüentou a cadeia, a tortura e estava disposta a pagar com sua vida para manter suas convicções. Isso é insuportável para estas pessoas”, insiste. “Não posso dizer que ela é a candidata de Lula, porque não posso falar em nome do presidente. Mas há muito tempo que Dilma é a minha candidata, porque ela tem todas as qualidades intelectuais, políticas, morais e de gestão”, conclui o gaúcho.
Prever o resultado da eleição de 2010 não é coisa fácil, vai depender muito do impacto da crise na economia, arrisca MAG. Para ele, a questão fundamental é não pensar que a concorrência entre Dilma e o tucano José Serra seja uma disputa pessoal para comandar projetos parecidos. “Não temos o mesmo projeto que o PSDB para o país. Os tucanos podem achar que o PSDB não é um partido de direita, mas acabou sendo o partido da direita”.
Um dos temas sobre os quais os dois campos discordam fortemente é a política externa. “Para Serra, a integração latino-americana seria uma questão secundária. Com Lula, ao contrário, o Brasil decidiu apoiar o próprio desenvolvimento sobre o desenvolvimento da região”.
E quais são os projetos de MAG para 2011? Ele ainda não sabe. Provavelmente voltar a ensinar na Unicamp, para transmitir a outros jovens seu gosto pelos livros e pela política.
Leia os demais trechos do perfil:
Parte 1: “Nunca fui trotskista”
Parte 2: PT achou que o poder fosse um “proverbial palácio de inverno”
Parte 3: Sabe tudo de América Latina, mas é moderado, diz assessor de Chávez
O texto na íntegra
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