Partido da esquerda alemã colaborou para eleger primeiro-ministro de direita
Ines Schwerdtner, co-presidente do Die Linke, disse que 'caos' poderia ajudar a extrema direita
A vitória do chanceler alemão Friedrich Merz, líder da União Democrata Cristã (CDU), contou com a colaboração do Partido de Esquerda (Die Linke) da Alemanha. “Nós somos responsáveis”, afirmou a co-presidente da legenda, Ines Schwerdtner, em entrevista à Deutsche Welle (DW), durante o 9º Congresso do partido, na sexta-feira (09/05).
Merz foi eleito com 325 votos em uma segunda rodada de votações na última terça (06/05), após um ‘fiasco histórico’ na primeira votação no parlamento alemão.
Com 28,5% dos votos, a coalização liderada por ele, que reúne a direita (CDU/União Social-Cristã – CSU) e os social-democratas do SPD, obteve apenas 310 dos 316 votos necessários.
A segunda maior força política do país é o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), classificada pela agência de inteligência da Alemanha como uma organização “extremista de direita”.
“Nós teríamos adorado esperar uns dias mais, mas também sabíamos que o caos criado por eles iria ajudar a extrema-direita, por isso tivemos clareza e assumimos a responsabilidade”, afirmou Schwerdtner à DW.
“Nas próximas decisões políticas, quando precisarem da maioria de dois terços, eles terão de falar conosco e nos levar a sério, porque estamos mais fortes do que nunca e ele não podem nos ignorar”, complementou.
Contrapartida
A contrapartida para o apoio, segundo a líder do Die Linke, é que o novo mandato de Merz não trabalhe em conjunto com a AfD. “Essa foi a condição que pedimos. Só falaremos se não vocês trabalharem com eles. A outra condição é que nos levem a sério nas futuras decisões políticas”, afirmou.

Die Linke / @inesschwerdtner
O tradicional partido da esquerda alemã será um crítico ferrenho ao plano de repressão contra os imigrantes de Merz. Meses atrás, ele aprovou uma moção em apoio a um duro projeto anti-imigração, com forte apoio da AfD.
“Um completo disparate”, afirmou a líder da esquerda, ao destacar que “a guerra cultural da direita e dos conservadores só empurra a sociedade para a direita”.
“Somos o único partido no Parlamento que vota contra qualquer ataque ao direito de asilo e, sem dúvida, defenderemos qualquer pessoa que venha até nós fugindo de guerras ou de qualquer outra situação de pobreza”, destacou.
Ela salientou que o partido usará todas as vias que puderem, em termos judiciais e de mobilização social, para impedir o programa.
Israel X Palestina
Schwerdtner também criticou o apoio dado à Israel neste momento. Ao ser eleito, Merz conversou por telefone com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e, neste final de semana, mandou o chefe das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, para Jerusalém.
Wadephul afirmou que o conflito em Gaza não pode ser resolvido por meios militares e defendeu um acordo de cessar-fogo. Na avaliação de Schwerdtner, no entanto, não há muito o que esperar. “O governo de Israel está cometendo crimes de guerra”, destacou.
E complementou: “se alguma vez Benjamin Netanyahu vier à Alemanha, nós teremos de levá-lo preso porque o Tribunal Penal Internacional está, de fato, procurando por ele”.
Ela também frisou a necessidade de se levar a sério “a responsabilidade que temos do nosso passado para com o povo israelense, mas não para com os criminosos de guerra”.
“Precisamos fazer essa distinção e dizer que somos efetivamente a favor uma solução de dois estados. O povo judeu deve viver em paz e em liberdade, mas o povo palestino também”, afirmou à DW.
