Terça-feira, 15 de julho de 2025
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A África do Sul realizou hoje (22) a quarta eleição desde o fim do “apartheid”, em 1994. A justiça eleitoral do país anunciou que o comparecimento às urnas nas eleições parlamentares foi de 87% dos eleitores inscritos – o mais alto desde o fim do regime de segregação racial. De acordo com o jornal Times, centenas de milhares de sul-africanos começaram a se posicionar em fila do lado de fora das zonas eleitorais ainda de madrugada.

O favorito para a conquista da maioria no Parlamento sul-africano, segundo as pesquisas, é o CNA (Congresso Nacional Africano), partido do ex-presidente Nelson Mandela e que tem como indicado à presidência Jacob Zuma. No entanto, os números também apontam que o partido não conseguirá manter a maioria de dois terços dos assentos.

Na atual Assembleia Nacional, o CNA conta com 279 deputados (69,75%), enquanto a Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês) tem 50 cadeiras (12,50%), o Partido Inkhata da Liberdade (IFP, em inglês) possui 28 (7%) e os demais da oposição somam 43. 

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Sul-africanos fazem fila de madrugada

A principal razão para isso é que, pela primeira vez após 15 anos no poder desde o fim do apartheid, o CNA enfrenta a competição de um partido saído de seu quadro de políticos e liderado por negros, o Cope (Congresso do Povo) e fortes diferenças internas no partido.

Durante a campanha, o Cope tentou ganhar votos do CNA questionando a honestidade de Zuma. “Os líderes do partido governista ganham tratamento especial, só os pobres têm que enfrentar a justiça. Estamos cansados de eleger políticos que ganham bons salários, mas continuam roubando o nosso dinheiro”, acusou Mosiuoa Lekota, presidente do Cope no último comício do partido.

Zuma foi protagonista de quase dez anos de polêmicas nos tribunais. Contudo, no último dia 6, a Procuradoria Geral sul-africana retirou as acusações de corrupção, fraude, extorsão e lavagem de dinheiro. O tribunal considerou que houve manipulação no processo aberto contra Zuma.

“Esta é a eleição mais interessante na África do Sul desde a de 1994, porque o CNA enfrenta muitos problemas de corrupção e tem uma oposição mais forte. Além do mais, com o passar dos anos, o discurso do partido de que ele lutou pelo fim do apartheid perde um pouco da força, as pessoas começam a se interessar mais por empregos e serviços” disse à BBC Brasil a cientista política Yolanda Sadie.

Mandela

Em um claro sinal de que a competição é dura, o CNA organizou um encontro em massa no último dia 18 com a presença surpresa de um fraco Nelson Mandela, aparecendo ao lado de Zuma. O líder e símbolo da luta pelo fim do apartheid vive em Moçambique. O apoio de Mandela era necessário. 


O CNA, além de abalado pela oposição, ainda vive uma guerra interna entre Zuma e o ex-presidente, Thabo Mbeki. Zuma foi demitido por Mbeki da vice-presidência após ser acusado de aceitar suborno, mas fez um retorno meteórico e venceu Mbeki em 2007, tomando a liderança do partido e eventualmente forçando o perdedor a renunciar.

Desmond Tutu, o aposentando arcebispo da Cidade do Cabo, ganhador no prêmio Nobel da Paz por sua atuação durante o apartheid, questionou em entrevista ao Times a capacidade de Zuma assumir o governo. “Não é como nas eleições anteriores. É tão verdade que as pessoas estão se questionando demais antes de depositar o voto”, afirmou após sair da zona eleitoral, sem revelar seu candidato.   

Zuma

Apesar de absolvido pela Justiça, Jacob Zuma, 67 anos, filho dinâmico e autodidata de um trabalhador doméstico, que de pastor de vacas na infância se tornou a cabeça estratégica do CNA, ainda é visto por muitos como uma ameaça para a jovem democracia capitalista, profundamente abalada pela crise econômica mundial.

Seu relacionamento próximo com o principal sindicato do país, o Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (Cosatu) e com o Partido Comunista não ajudaram a curar algumas dúvidas de que o político pode desviar do caminho trilhado por Mandela e Mbeki, a favor do capitalismo.

Mas com a África do Sul enfrentando a primeira recessão após uma década de expansão econômica, poucos especialistas acreditam que Zuma fará uma mudança radical para a esquerda.

Durante a campanha, o candidato tentou apaziguar investidores e líderes de negócios. A robustez das instituições sul-africanas, a liberdade de imprensa e o fato de o país ser um respeitado membro do G20 certamente ajudaram.

Zuma promete criar empregos em um país com 22% de desemprego, continuar a construir casas e expandir o estado de benefício social para ajudar a maioria pobre, incluindo o um terço da população que vive com menos de dois dólares por dia. Isto explica sua popularidade junto às bases pobres do CNA.

Partido de Nelson Mandela tenta manter maioria no Parlamento sul-africano

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