As primeiras projeções divulgadas na noite deste domingo (29/09) apontam para a vitória do Partido da liberdade (FPÖ), de extrema direita, na eleição legislativa na Áustria. No entanto, apesar do resultado, a legenda dependerá da formação de uma coalizão se quiser integrar o governo. O projeto encontra resistência em razão da personalidade do líder do FPÖ.
Segundo as projeções publicadas após o final da votação, o FPÖ, liderado pelo controverso Herbert Kickl, deve conquistar 29,1% dos votos, o que representa 13 pontos a mais que nas eleições de 2019. O conservador Partido popular austríaco (ÖVP), do atual chanceler Karl Nehammer, deve alcançar 26,2% dos votos, seguido do Partido social-democrata (SPÖ), de centro esquerda, com 20,4%.
Em um contexto de ascensão dos partidos radicais na Europa, a legenda fundada por antigos nazistas registra resultados melhores do que apontavam as pesquisas.
O FPÖ foi criado a partir da Federação dos Independentes, formação fundada após a Segunda Guerra Mundial por ex-nazistas. O primeiro líder do partido (1956-1958) foi Anton Reinthaller, um ex-general da SS.
Manifestações
Logo após o anúncio dos resultados parciais, manifestantes se reuniram diante do Parlamento austríaco com cartazes e faixas contra a extrema direita.
Se os números se confirmarem, o partido de extrema direita sai do pleito em posição de força para formar uma coalizão pela primeira vez na Áustria desde a Segunda Guerra Mundial. Mas para isso a legenda terá que encontrar um parceiro.
A aliança mais provável seria entre o FPÖ e o ÖVP, sendo os conservadores do governo os únicos que se mostraram abertos a um acordo com a extrema direita. Os dois partidos compartilham posições comuns sobre regras de imigração mais rígidas e cortes de impostos. No entanto, o radicalismo de Herbert Kickl pode ser um obstáculo.
Kickl, que assumiu a direção da legenda de extrema direita em 2021, conseguiu reestabelecer a imagem do partido, arranhada após um escândalo de corrupção envolvendo seu antigo chefe e então vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, em 2019, graças a uma postura radical, tanto no conteúdo quanto na forma.
Ele usa termos que são referências veladas à linguagem nacional-socialista, assume posições pró-russas, defende posições cada vez mais extremas sobre a imigração e pede uma “orbanização da Áustria”, em alusão ao líder húngaro Viktor Orbán. O chefe da extrema direita, que ficou conhecido do grande público ao se tornar o porta-voz do movimento antivacina durante a pandemia de covid-19, repete constantemente o seu desejo de ter uma “Áustria fortaleza”.
Mas o radicalismo que fez Kickl ganhar fama pode impedi-lo de se tornar chanceler. Karl Nehammer, líder dos conservadores, o partido que poderia unir forças com o FPÖ para governar, não exclui totalmente negociar com o FPÖ, mas já disse que recusa qualquer tipo de diálogo com Herbert Kickl.
Alexander Van der Bellen, o atual presidente austríaco e ex-líder dos Verdes, também expressou suas reservas em relação ao FPÖ e, em particular, seu líder. O chefe de Estado já avisou que não é obrigado a entrar em um acordo. “É uma prática estabelecida, mas, até onde eu sei, não está na Constituição”, disse ele no ano passado.
O FPÖ integrou o Executivo pela primeira vez em 2000, o que gerou protestos no país e sanções da União Europeia.