Liderada pelo partido da esquerda radical França Insubmissa, uma iniciativa para tentar destituir o presidente francês, Emmanuel Macron, foi aprovada nesta terça-feira (17/09) pelo escritório da Assembleia de Deputados, a principal instância da câmara baixa do Parlamento do país, por 12 votos a favor e 10 contra. Com poucas chances de se concretizar, a proposta segue agora para avaliação na Comissão de Leis.
A esquerda obteve o máximo de votos possíveis a favor da proposta. O escritório da Assembleia de Deputados conta, no total, com 22 deputados-membros. Destes, 12 integram a aliança progressista Nova Frente Popular.
O texto original foi assinado por 72 deputados do partido da esquerda radical França Insubmissa, além de uma dezena de outros parlamentares ecologistas e comunistas. Já os socialistas, apesar de terem apoiado a ideia, afirmaram que votarão “de forma unânime” contra a proposta de destituição – uma estratégia para marcar as divergências com a esquerda radical.
A presidente do França Insubmissa, Mathilde Panot, comemorou nesta terça-feira a primeira etapa da iniciativa, classificando-a de “histórica” e lembrando que uma petição em prol da destituição de Macron conta atualmente com mais de 308 mil assinaturas. “É preciso continuar […] Macron tem que ir embora”, completou a vice-presidente do grupo da esquerda radical na Assembleia, Clémence Guetté.
Do lado do campo presidencial, como esperado, a proposta é alvejada de críticas. Para a presidente da Assembleia de Deputados, Yaël Braun-Pivet, a decisão de dar seguimento à iniciativa é “um desrespeito do Estado de direito”. “Essa moção e esse debate são uma declaração de guerra às nossas instituições”, reforçou o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, atualmente chefe do grupo dos deputados macronistas na câmara baixa.
Macron pode ser destituído?
A possibilidade de que a iniciativa resulte na destituição do presidente francês é mínima. Poucos parlamentares fora do grupo da esquerda acreditam que Macron tenha desrespeitado o resultado do segundo turno das eleições legislativas de 7 de julho.
Convocadas de maneira inesperada pelo chefe de Estado, a votação obteve uma vitória da aliança progressista Nova Frente Popular, que obteve 193 cadeiras na Assembleia, longe da maioria absoluta de 289 deputados.
Segundo a tradição republicana, Macron deveria nomear um primeiro-ministro oriundo da coligação vencedora. A Nova Frente Popular indicou a economista Lucie Castets para ocupar a posição de chefe de Governo.
No entanto, na ausência de uma regra clara sobre a questão, após mais de dois meses de suspense, o presidente escolheu o veterano Michel Barnier, membro do partido de direita Os Republicanos. A legenda conservadora obteve apenas 47 deputados nas últimas eleições legislativas.
Cabe, agora, à Comissão de Leis, na qual a esquerda não tem maioria, debater a proposta de destituição. Só depois ela poderá ser enviada ao plenário da Assembleia Nacional.