A entrevista exclusiva com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que Opera Mundi transmitiu em seu canal do YouTube nesta segunda-feira (27/01), abordou diversos temas, não só os assuntos políticos, como as tensões com o Brasil de Lula e as relações com os Estados Unidos de Trump. O programa falou até mesmo sobre futebol.
No trecho final, o jornalista Breno Altman lembrou que a seleção de futebol masculino da Venezuela vem mostrando, nos últimos anos, resultados muito mais convincentes, chegando inclusive a vencer o Brasil em alguns jogos. Em seguida, perguntou ao entrevistado a fórmula com a qual a Vinotinto (como é conhecida mundialmente) melhorou seu desempenho.

Segundo Maduro, houve uma massificação do futebol na Venezuela a partir do governo de Hugo Chávez (1998-2013). “Começaram a surgir clubes e escolas de futebol pelo país todo, de uma forma impressionante”, acrescentou.
“Depois do ano 2000, os clubes e as escolas se generalizaram, e creio que esta massificação resultou no surgimento de tantos bons jogadores de futebol, como os que a Venezuela tem atualmente. Falta à Venezuela chegar a uma Copa do Mundo, e ainda falta um bocadinho assim (faz um gesto com os dedos), para ter um big bang e ter grandes jogadores, para que um dia possa competir com as glórias da Argentina e do Brasil”, analisou Maduro.
Estilo como o de Sócrates
Ao falar sobre futebol, o líder bolivariano lembro que praticou o esporte durante sua juventude, a contragosto do pai, que preferia que ele jogasse beisebol, esporte que ainda é o mais popular da Venezuela.
“Quando eu tinha 10 anos, foi em 1972, havia o senhor Clemente Ortega, pai de um amigo meu, que era uruguaio, era um grande futebolista uruguaio. Ele costumava nos levar a jogar futebol numa quadra nos campos da escola de San Ignácio de Loyola, aqui em Chacao (região da Grande Caracas), esses campos já não existem porque construíram lá um centro comercial. E eu era bom, um meia, eu era bom, porque já era alto, corria muito”, contou Maduro.
O presidente venezuelano disse que seu estilo de jogo, quando jovem, era parecido ao de Sócrates, meia que se brilhou jogando pelo Corinthians e pela Seleção Brasileira, nos Anos 80. “O Sócrates era magrinho, alto, eu jogava como ele: elegante, punha a bola aqui, punha a bola ali, e se os outros erravam eu marcava um gol”, recordou.
Perguntado por Breno Altman sobre quem era seu ídolo no futebol, Maduro respondeu que admirava “Pelé, Garrincha, os grandes nomes da época, os brasileiros, principalmente”.
Contudo, o líder bolivariano também confessou que costuma usar um relógio que ganhou de presente do craque argentino Diego Armando Maradona, e o mostrou a Breno durante a entrevista. “Ele me deu após o encerramento da campanha eleitoral de 2018. Eu uso sempre, porque me dá sorte e sinto que Maradona está comigo”, contou.
Pelé ou Maradona?
Em outro momento, o presidente da Venezuela disse que, em seu país, era comum as pessoas que gostavam de futebol apoiarem a Seleção Brasileira em época de Copa do Mundo.
“Nós nascemos e crescemos apoiando o Brasil em todos os Mundiais de futebol, em 1970, em 1974, em 1978, em 1982, em 1986, depois chegou o Romário, chegou o Falcão, o Leão, o Dirceu… Dirceu não, Dirceu é da política (risos)”. Breno reagiu ao comentário dizendo que sim “havia um” Dirceu – em referência ao ponta-esquerda que se destacou nos Anos 70 e 80, jogando pela Seleção Brasileira, e passando por clubes como Coritiba, Botafogo, Fluminenses, Vasco da Gama e América.
Antes de encerrar o assunto, Breno perguntou a opinião de Maduro sobre quem foi o melhor futebolista da história, se Pelé, ídolo máximo do futebol brasileiro e do Santos Futebol Clube, ou Diego Maradona, ícone do futebol argentino e do Boca Juniors.
“Nos Anos 60 e 70, Pelé. Nos Anos 80, e parte dos Anos 90, Maradona. No final, os dois estão no céu, Pelé e Maradona, juntos. Acho que os dois estão empatados”, concluiu o presidente da Venezuela.

Breno Altman realizou entrevista com Nicolás Maduro direto de Caracas
Veja trechos da entrevista de Breno Altman com Nicolás Maduro (para a entrevista na íntegra, clique aqui):
Breno Altman: Uma última pergunta e estamos encerrando a entrevista. O senhor sabe, é uma curiosidade pessoal minha, porque a principal religião do meu país é o futebol. De repente, a Venezuela, que costumava ser um dos rivais mais fáceis para a nossa seleção, se tornou um osso duro de roer, chegando a nos vencer, vencendo o Brasil em alguns jogos. Como o futebol venezuelano conseguiu melhorar tão rapidamente?
Nicolás Maduro: Penso que, em geral, foi a massificação do esporte que o Comandante Chávez iniciou, e especialmente a massificação do futebol. Começaram a surgir clubes e escolas de futebol pelo país todo, de uma forma impressionante. Vou te dar um exemplo: quando eu tinha 10 anos, no ano de 1972…
Porque o grande esporte aqui continua sendo o beisebol.
A coisa é acirrada, vou te contar. Quando eu tinha 10 anos, foi em 1972, entre 1971 e 1972, eu fiz 10 anos em 1972. Nessa altura, o senhor Clemente, pai de um amigo meu, o “Pelusa”, que morreu há pouco tempo, era uruguaio, era um grande futebolista uruguaio, o senhor Clemente Ortega. E ele costumava nos levar a jogar futebol numa quadra nos campos da escola de San Ignácio de Loyola, aqui em Chacao, esses campos já não existem porque construíram lá um centro comercial. E eu era bom, era meia, porque já era alto, corria muito.
Quem era seu ídolo no futebol?
Pelé, Garrincha, os grandes nomes da época. Os brasileiros, principalmente. Claro que o ano de 1970 foi o primeiro mundial de futebol, o Mundial de Futebol do México, que o Brasil ganhou a final por 4×1 contra a Itália, inesquecível, foi o primeiro mundial de futebol que foi transmitido ao vivo na Venezuela, na televisão em preto e branco.
Deve ser por isso que eu gostava do futebol, e eu queria jogar futebol, mas só podia jogar futebol mais ou menos a sério, quando o senhor Clemente nos levava lá, em Chacao, na San Ignácio de Loyola. Eu queria jogar futebol, e um dia o meu pai me disse: “futebol, onde é que você vai jogar, Nico?”, dizia ele.
Não tinha muito o biotipo para um jogador de futebol, tinha? Qual é a sua altura?
Quando eu tinha 10 anos, acho que tinha 1,70 metros de altura, agora tenho 1,90. Agora, o que eu estava dizendo é que não havia quadras de futebol, o futebol não era uma questão das massas. Ele me disse, “você vai jogar beisebol”, me obrigou a jogar beisebol. Então, desisti do futebol, sempre gostei muito do futebol, mas não havia condições. Estou te contando minha experiência pessoal. Depois joguei beisebol, cheguei a uma seleção nacional, me ofereceram um contrato para jogar nos Estados Unidos, mas me dediquei à revolução, às lutas sociais.
Depois, o futebol começou a ganhar um grande impulso, depois do ano 2000. Os clubes e as escolas se generalizaram, e creio que esta massificação resultou no surgimento de tantos bons jogadores de futebol, como os que a Venezuela tem atualmente. Falta à Venezuela apenas um bocadinho assim. Ainda falta algo na Copa do Mundo de futebol, e ainda falta um bocadinho assim para ter um big bang, para ter grandes jogadores e um dia competir com as glórias da Argentina e do Brasil.
Olha o que eu tenho aqui. Sabe o que é isso?
Não
Olha para ele, o relógio que Diego Armando Maradona me deu de presente, no encerramento da campanha eleitoral de 2018. Eu uso sempre, porque me dá sorte e sinto que Maradona está comigo.
São grandes jogadores. Nascemos e crescemos apoiando o Brasil em todos os Mundiais de futebol, 1970, 1974, 1978, 1982, 1986, depois chegou o Romário, chegou o Falcão, o Leão, o Dirceu… Dirceu não, Dirceu é da política (risos).
Não, havia um!
Havia um Dirceu?
Claro, um Dirceu.
Como se chamava o que era médico, que morreu recentemente?
Sócrates.
Sócrates era um magrinho alto, eu jogava como o Sócrates, meu estilo era como o de Sócrates, elegante, punha a bola aqui, punha a bola ali, e se os outros erravam eu marcava um gol.
Portanto, nós crescemos sendo admiradores do Brasil, continuamos sendo grandes admiradores do Brasil, e agora temos a força para torcer pela Vinotinto, Vinotinto, Vinotinto… com fé.
Uma pergunta que gostaria que respondesse como torcedor de futebol e não como político: Diego Maradona ou Pelé?
Nos Anos 60 e 70, Pelé. Nos Anos 80, e parte dos Anos 90, Maradona. No final, os dois estão no céu, Pelé e Maradona, juntos. Acho que os dois estão empatados.