Com a justificativa de garantir o funcionamento dos serviços públicos e privados, o governo do Peru autorizou a intervenção das Forças Armadas nas regiões de Apurímac, Cusco e Junín, locais que vêm registrando conflitos sociais há vários dias. A medida, que estabelece a atuação das Forças Armadas junto à polícia, se aplica a partir de hoje (23) e seguirá ao longo de 10 dias.
Em outra ação, o governo levantou o estado de emergência que vigorava na região de Bagua e em outras zonas amazônicas, quatro dias após o Congresso peruano anular os decretos legislativos 1090 e 1064, normas sobre a exploração de recursos naturais que motivaram protestos dos indígenas. Trinta e quatro pessoas morreram durante os enfrentamentos entre índios e polícia.
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O estado de emergência continua, todavia, nas cidades de Quimbiri, La Convención e Cusco.
Conflitos entre cidadãos e polícia são verificados atualmente nas cidades de Andahuaylas, no estado de Apurímac, La Oroya em Junín e Sicuani, em Cusco, onde acontecem greves e bloqueios de estradas.
No ano passado, o governo de Alan García mudou a legislação para permitir a intervenção das Forças Armadas junto à polícia em zonas não declaradas no estado de emergência. Antes os militares só intervinham após prévia decisão do Conselho de Ministros e hoje, basta uma autorização do presidente.
Ao menos três vezes em 2008 o governo recorreu à norma – em maio, julho e outubro.
Tentativa de diálogo
O primeiro-ministro peruano, Yehude Simon, viajou esta manhã para Andahuaylas para tentar acabar com a paralisação na cidade, que já dura 12 dias. Ele ainda visitará a cidade de Sicuani.
“O importante é promovermos uma conversa direta com os camponeses e irei dialogar diretamente com eles, tanto em Andahuaylas como em Sicuani. Mostrarei que com o diálogo se pode resolver os problemas e que não é justo que se paralise uma cidade inteira”, afirmou Simon pouco antes de chegar ao aeroporto internacional Jorge Chávez, em Lima.
Centenas de camponeses protestaram ontem (22) por Andahuaylas, que se encontra paralisada há cerca de duas semanas devido ao bloqueio de vias, o fechamento de mercados e a tomada do aeroporto. Eles exigem a construção da estrada Ayacucho-Andahuaylas-Abancay, a anulação da Lei de Recursos Hídricos e a revisão das concessões dadas a mineradoras na região, entre outras demandas.
Na parte da tarde, Simon seguirá para a cidade de Cusco, para amanhã (24) seguir para Sicuani, onde também dialogará sobre a Lei de Recursos Hídricos, as concessões e a construção da hidrelétrica Salca-Pucará, a qual a população se opõe.
A Lei de Recursos Hídricos, promulgada em março deste ano, prevê o uso racionalizado da água, por meio do Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos, órgão governamental, encarregado de articular as ações do Estado para os processos de gestão e de conservação dos recursos da água. Os oposicionistas temem que os recursos hídricos sejam privatizados.
(Com reportagem de Jacqueline Fowks e informações do Peru 21 e El Comercio)
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