Pela primeira vez na história da Colômbia, um presidente participará de uma manifestação do 1º de maio reforçando as demandas de trabalhadores. O chefe do Executivo, Gustavo Petro, pediu para acompanhar e discursar no evento organizado por centrais sindicais e, nos últimos cinco dias, começou a convocar os colombianos para saírem às ruas no Dia Internacional dos Trabalhadores.
A marcha ganhou caráter político ainda mais forte com a entrada de Petro. Se em um primeiro momento o dia é marcado pelas reivindicações de trabalhadores por melhores condições de trabalho, a participação do presidente deu um giro na pauta das manifestações e colocou a disputa política em torno de seu governo como foco dos atos desta quarta-feira (01/05).
A decisão de Petro não foi calculada com antecedência, mas foi uma resposta às mobilizações de 22 de abril, quando opositores saíram às ruas para protestar contra as reformas propostas pelo governo. Se desde o começo do seu mandato o presidente colombiano enfrenta críticas e ataques da direita do país, a partir do momento em que o presidente propôs mudanças nas leis que regulamentam a saúde, educação, aposentadorias e nas leis trabalhistas, o tom dos ataques subiu.
O governo então institucionalizou as marchas do 1º de maio e convocou seus apoiadores para irem às ruas e defender o mandato de Petro.
Para o cientista político colombiano Alberto Villa, o isolamento de Petro na política interna faz com que ele tenha na população um oxigênio para continuar implementando políticas sociais no país e enfrentando as elites por meio das reformas.
“Petro se sente só e chama ao povo para acompanhar, para ajudar e mostrar apoio. É uma forma do governo se colocar em uma disputa muito acirrada com a direita. A disputa no campo narrativo é econômica, e o econômico é decisivo em última instância. As reformas sociais-democratas são centrais nessa disputa, isso incomoda a direita e a burguesia que não têm interesse nessa agenda”, disse ao Brasil de Fato.
Para ele, o governo de Petro tem que se equilibrar e fazer a disputa política em três eixos que tomam tempo, energia e habilidade política. O primeiro deles é a questão envolvendo milícias e grupos armados do país. Desde que assumiu em 2022, Petro implementou um diálogo permanente com os grupos armados. O presidente tornou oficial a busca pela paz ao transformar a ideia em política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.
Nesse contexto, o presidente tem que contornar acusações de que as Forças Armadas colombianas desrespeitam os acordos com grupos guerrilheiros, e as próprias medidas do Exército no interior do país.
O segundo ponto é a disputa política na Colômbia. O chefe de Estado enfrentou acusações da oposição, investigações do Ministério Público e manifestações de rua contra políticas implementadas por sua gestão.
A terceira disputa é contra a própria imprensa colombiana. Para Villa, as marchas contra as reformas de Petro do último dia 22 foram propagandeadas pelos jornais. Segundo o comunicador colombiano Hernan Durango, Petro tem que enfrentar uma “atuação midiática que defende os interesses das elites”. Para ele, os ataques “midiáticos são muito fortes contra o presidente a partir da mudança de foco dos assuntos e ampliação de investigações que não conseguiram chegar ao presidente”.
Golpe contra o governo?
Desde o ano passado, Petro denuncia a tentativa de golpe de Estado contra ele. De acordo com o presidente, há uma articulação entre as elites do país, a imprensa tradicional e outros atores políticos, como foi até março com o Ministério Público.
Para Villa, a tentativa de desestabilizar o governo é sistemática e acontece desde o início da sua gestão e o presidente usa do apoio popular para reforçar essa força. Segundo o cientista político, a concretização de um golpe depende do enfraquecimento do governo e da aliança ainda mais clara com agentes externos, como os Estados Unidos.
“Um golpe duro é pouco provável, pouco estético para agentes internacionais., Os Estados Unidos precisam estar alinhados a isso e eles não estão dispostos por ser uma ação muito impopular para um governo que precisa de popularidade. O peso de um golpe também seria questionado. Além disso, é mais barato preparar usar uma perseguição jurídica, como foi no caso do Brasil com Dilma e Lula, do que um golpe militar”, afirmou.
Para os especialistas, a manifestação desta quarta-feira é também uma forma de Petro se posicionar contra essa tentativa de golpe que o governo enfrenta.
“Petro vai ratificar a posição de um governo de transformação e colocar a Colômbia como um país que recupera a irmandade na região. Essa é a pauta desse momento, de defesa dos projetos do governo”, disse Durango.