A Polônia anunciou, nesta quarta-feira (10/11), uma operação contra os migrantes reunidos na fronteira com Belarus e a detenção de 50 pessoas, ao mesmo tempo que acusou Minsk e Moscou de terem organizado uma crise na entrada da Europa. De 3.000 a 4.000 migrantes, principalmente curdos do Oriente Médio, estão aglomerados há vários dias em uma área de bosques, na fronteira leste da União Europeia (UE), sob temperaturas gélidas e diante de tropas polonesas enviadas à região para impedir a passagem.
“Estamos muito preocupados com a situação humanitária e fazemos um apelo para os estados para garantir a segurança e o respeito aos migrantes e refugiados. Houve várias mortes trágicas nos últimos dias”, declarou à RFI Céline Schmitt, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que, junto com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) denunciam “a instrumentalização dos migrantes e refugiados para fins políticos.”
Os europeus acusam o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, aliado da Rússia, de atrair migrantes do Oriente Médio para seu país e depois enviá-los para a fronteira com a Polônia, em represália pelas sanções da UE contra seu país, impostas devido à repressão aos opositores, depois da eleição presidencial de 2020.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de “dirigir” a onda de migrantes que tentam entrar ilegalmente na Polônia a partir de Belarus. Ele disse que o “ataque” ameaça desestabilizar a UE.
Moscou chamou as acusações de “irresponsáveis e inaceitáveis”.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pediu ao presidente Putin “ação contra a instrumentalização dos migrantes por parte do governo de Belarus”, segundo o seu porta-voz, Steffen Seibert. Durante uma conversa telefônica, a chanceler considerou “inaceitável a instrumentalização dos migrantes” na fronteira entre Polônia e Belarus.
Travessia da fronteira
As autoridades polonesas anunciaram nesta quarta-feira que houve um aumento nas tentativas de atravessar a fronteira e que algumas pessoas conseguiram chegar ao país. Nas últimas 24 horas, a polícia prendeu mais de 50 pessoas perto da fronteira por entrada ilegal no território, informou à AFP Tomasz Krupa, porta-voz do departamento regional de Podlaskie.
Kancelaria Premiera/Flickr
primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, acusa o presidente russo, Vladimir Putin, de ‘dirigir’ onda de migrantes
Na mesma região, de acordo com a porta-voz dos guardas de fronteira, Katarzyna Zdanowicz, três pessoas – um russo, um lituano e um sueco – foram detidos por terem contribuído para a “organização de travessias ilegais”. Eles podem ser condenados a oito anos de prisão.
“A situação não é tranquila”, afirmou o ministro polonês da Defesa, Mariusz Blaszczak.
Ele acrescentou que pequenos grupos de migrantes tentam ultrapassar a fronteira do país, de “forma simultânea por diferentes lugares”.
Quase 15.000 soldados protegem as fronteiras polonesas, completou.
Intimidações
O ministério da Defesa também afirmou que as autoridades bielorrussas intimidam os migrantes para que atravessem a fronteira à força.
A pasta divulgou dois vídeos no Twitter que mostram um tiro supostamente disparado do lado bielorrusso da fronteira por um homem de uniforme.
Os vídeos mostram um grupo de migrantes perto da fronteira do lado bielorrusso, incluindo algumas crianças.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, deve conversar nesta quarta-feira, em Varsóvia, com o primeiro-ministro polonês sobre a situação.
Ao menos 10 migrantes morreram na região, desde o início da crise, sete do lado polonês, segundo o jornal Gazeta Wyborcza.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também falou sobre a crise. “Peço aos Estados envolvidos que adotem medidas imediatas para desativar e resolver esta situação intolerável, dentro de suas obrigações no direito internacional dos direitos humanos e dos direitos dos refugiados”.
Belarus acusa Ocidente
Diante de uma quinta rodada de sanções, que mencionam no Ocidente, o pretexto utilizado desta vez é a crise migratória provocada pela UE e seus membros limítrofes com Belarus”, afirmou o chefe da diplomacia bielorrussa, Vladimir Makei, em uma reunião com seu colega russo em Moscou.
Makei destacou que espera um “trabalho reforçado” com a Rússia, seu principal aliado, incluindo “uma reação conjunta a atos inamistosos” direcionados a Belarus.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, concordou e afirmou que Minsk e Moscou reforçaram a “colaboração efetiva para contra-atacar a campanha contra Belarus iniciada por Washington e seus aliados europeus nas organizações internacionais”.