Há uma semana, centenas de milhares de iranianos ocupam as ruas de Teerã pedindo pela anulação das eleições presidenciais que, oficialmente, deram outro mandato ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Mas os protestos não ficaram restritos ao país. Ao redor do mundo, a oposição iraniana saiu às ruas para fazer valer sua vontade. E, ao contrário do que se esperava, nos Estados Unidos os manifestantes não contaram com o apoio de Barack Obama.
O presidente norte-americano, que desde que chegou à Casa Branca, em janeiro, lançou uma campanha de aproximação com o regime de Teerã, adotou uma posição pragmática, deixando a oposição iraniana estupefata. A reação foi aproveitada de imediato por seus adversários republicanos.
Na segunda-feira (15), três dias depois das eleições e sentado na Casa Branca com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, a seu lado, Obama falou pela primeira vez sobre o tema.
“Os Estados Unidos continuam com os seus esforços de estabelecer uma relação normal com o Irã. Sempre foi nossa intenção e sempre será. Penso que diz respeito apenas aos iranianos solucionar seus problemas e não gostaria de ver o nome dos Estados Unidos presente nesta polêmica, porque cada vez que o nome dos Estados unidos aparece em coisas assim, já sabemos quais são as consequências”, afirmou o presidente, se desvinculado imediatamente dos acontecimentos.
E acrescentou: “Dito isto, e vendo as imagens que chegam pelas televisões, não posso deixar de mostrar o desagrado dos Estados Unidos pelas cenas de violência”.
Hoje (19) de manhã, dois altos funcionários da administração reuniram-se com vários jornalistas e voltaram a reafirmar a posição da Casa Branca.
“Eles voltaram a insistir que este assunto não tem nada a ver com os Estados Unidos, e sim com os iranianos”, afirmou Suzane Malvaux, correspondente da CNN na Casa Branca e um dos três jornalistas que participaram da reunião, onde os funcionários da administração pediram para não serem identificados, mas aceitaram ser citados.
“Também nos disseram que os Estados Unidos vão continuar a tentar melhorar as relações com o Irã”, acrescentou Malvaux.
Desconcerto
Desde o início da crise, a oposição iraniana que vive nos Estados Unidos começou a aparecer nas televisões, comentando o que acontece nas ruas de Teerã. Todos eles – homens –, já que as mulheres iranianas, mesmo vivendo nos Estados Unidos, permaneceram afastadas, são jovens profissionais que se apresentaram perfeitamente articulados em seus argumentos, mas visivelmente desconcertados com a posição assumida pela Casa Branca.
A CNN conseguiu até arrancar de seu silêncio o filho do xá do Irã, Reza Pahlevi, que vive exilado desde 1979, e se limitou a pedir o apoio da Casa Branca.
“Para nós é difícil entender que o presidente insista em manter seu silêncio e, em relação a países como o Iraque e o Afeganistão, esteja sendo bastante duro com o fundamentalismo religioso”, comentou Babak Talebi, um ativista iraniano-americano que ajudou a organizar ontem uma manifestação às portas da Casa Branca.
Em sua opinião, “[os manifestantes no Irã] colocaram suas vidas em jogo, suam e sangram por seus direitos, por princípios democráticos”.
A maioria dos norte-americanos de origem iraniana vive em Los Angeles e Boston. Mas a leitura dos resultados eleitorais não é unânime.
“Estou de acordo com que os iranianos quererem uma vida diferente, suas exigências são legítimas. Mas não confundamos as coisas. Há um fato irrefutável e é que as eleições foram abertas. Nunca houve eleições tão abertas no Irã como estas”, explicou Kavew Afrasiabi, ex-professor da Universidade de Teerã, que leciona atualmente em Boston.
“Não se pode confundir desejos democráticos com atitudes antidemocráticas para conseguir objetivos, como a mudança do regime”, acrescentou.
EUA e seus interesses
Segundo o analista Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida, a posição do presidente Obama tem uma razão de ser.
“Devemos entender os iranianos. Depois do grande apoio que a oposição recebeu da administração anterior, é lógico que esperam ver agora o presidente assumir uma posição mais firme e visível”, afirmou Alvarez.
No entanto, “devem ter em conta que os Estados Unidos se movem por seus interesses e o interesse da Casa Branca, neste momento, é pacificar sua relação com o mundo árabe. Está tudo definido no discurso que Obama pronunciou recentemente no Cairo”.
“De qualquer modo, em termos práticos, a oposição [iraniana] nos Estados Unidos percebe e está agradecida a Obama por sua neutralidade. Sabem que isso os ajuda. Não é uma reação unânime, mas majoritária”, acrescentou o analista.
Republicanos
A oposição republicana no Congresso não perdeu a oportunidade de criticar a imobilidade de Obama. “Quem realmente manda no Irã é seu ditador brutal, o líder supremo Ali Khamenei. Ahmadinejad é apenas um fantoche em suas mãos. Estas falsas eleições presidenciais acabam de ser esmagadas por Khamenei. E o povo iraniano apenas está aproveitando o momento de divisão dentro da ditadura para expressar heroicamente sua oposição à mesma”, considerou o deputado federal republicano, Lincoln Diaz-Balart.
“A questão é que o povo iraniano tem o direito de acabar com a ditadura […] e o presidente nos Estados Unidos tem se mantido em silêncio e confundido a todos. O Congresso dos Estados Unidos mantem-se claramente ao lado do povo iraniano”, acrescentou Diaz-Balart, numa declaração de adesão à oposição iraniana e de crítica ao presidente, que assinou e circulou entre os senadores e deputados federais, promovida pelos republicanos.
A declaração foi aprovada por unanimidade ao final de tarde de hoje nas duas casas do Congresso.
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