Sexta-feira, 18 de abril de 2025
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A polícia turca prendeu na manhã desta quarta-feira (19/03) o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, sob acusação de suspeita de corrupção e de ligação com uma organização terrorista.

Sua detenção ocorre quatro dias antes das primárias nas quais seu partido, o Partido Republicano do Povo (CHP), escolheria o candidato para as próximas eleições presidenciais. Estava previsto que Imamoglu fosse o escolhido da sigla social-democrata considerado de centro-esquerda.

Ele é o principal nome da oposição contra o presidente Recep Tayyib Erdogan, do islâmico Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que está no poder há duas décadas.

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Reeleito em 2023, a coalizão de Erdogan tem 323 dos 600 assentos do Parlamento unicameral turco e governa com uma orientação conservadora, nacionalista e com influência islâmica.

Além de Imamoglu, a política prendeu mais de 100 pessoas, incluindo outros dois prefeitos do CHP, sob a acusação de corrupção. Um forte esquema policial foi montado para a prisão do prefeito da capital turca, com centenas de agentes de choque e canhões de água.

Também foi bloqueado o acesso do transporte público à área da prefeitura e às principais praças de Istambul para dificultar manifestações públicas.

Em uma medida inédita há décadas, o governo também proibiu “reuniões, manifestações ou coletivas de imprensa” em toda a província até 23 de março. Este seria exatamente o dia das prévias do CHP.

O partido classificou a prisão de “golpe de Estado” e disse que manterá as primárias, embora a data prevista esteja dentro do período de proibição de reuniões. Constatou-se, ainda, uma redução da velocidade da internet, tornando lento o acesso às redes sociais e aplicativos de mensagens.

Processos contra Imamoglu

A prisão de Imamoglu está relacionada a dois dos cinco processos abertos contra ele nos últimos meses. Um deles o acusa de liderar “uma organização criminosa” desde sua época de prefeito distrital de Beylikdüzü. A rede, segundo a acusação, solicitou subornos de empresários, superfaturou despesas e manteve funcionários fantasmas em empresas municipais.

Outro processo acusa de “colaboração com a organização terrorista PKK/KCK” por supostamente incluir pessoas desse grupo armado nacionalista curdo em suas listas eleitorais. A acusação, no entanto, se refere às eleições de 2024, quando o partido de Imamoglu concorreu em solitário, sem repetir a aliança com os curdos que fizera em 2019.

O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu
Wikimedia Commons
O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu

Mesmo disputando sem alianças, Imamoglu venceu por ampla margem o candidato de Erdogan. Além disso, a prisão ocorre num momento em que o próprio governo iniciou negociações com o PKK para o seu desarmamento.

A prisão do prefeito de Istambul deu-se um dia após a Universidade de Istambul anular seu diploma superior. A universidade alegou supostas irregularidades em sua transferência, em 1990, de uma instituição privada no norte de Chipre para a sua faculdade de administração. Pela lei turca, é preciso ter curso superior para concorrer a um cargo público. Imamoglu disse que recorreria.

Condenado à prisão por insultar comissão que anulou sua eleição

Além desses processos, o prefeito de Istambul aguarda um recurso contra uma condenação por “insultar” membros da Comissão Eleitoral que cancelaram sua eleição em 2019. A comissão obrigou a que se repetisse o pleito, Imamoglu voltou a ganhar e, desde então, sua influência política só aumentou.

Nesse processo, ele foi condenado a dois anos e sete meses de prisão e proibição de concorrer a cargo público. Também o presidente Erdogan teve sua carreira política impulsionada, nos anos 90, por uma acusação quando era prefeito de Istambul.

Dentro de seu partido, o único rival que poderia disputar as primárias com Imamoglu seria o prefeito de Ancara, Mansur Yavas. Também popular, ele transita melhor entre os círculos da direita e os nacionalistas turcos. Ele se negou a participar das primárias, mas não descartou concorrer à eleição presidencial.

De qualquer forma, prestou solidariedade imediata a Imamoglu. “Nós o apoiaremos em sua luta justa até o fim”, disse.

Contrariando os procedimentos, a polícia levou Imamoglu diretamente para a delegacia e não para um hospital para fazer um exame médico. Na Turquia, esse exame inicial é obrigatório para todos os detidos.