O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, pediu nesta quinta-feira (08/08) que “não haja trégua” nos esforços para combater a violência da extrema direita que vem abalando o Reino Unido há uma semana, no dia seguinte a uma calmaria dramática marcada por manifestações pacíficas contra o racismo. Enquanto a polícia temia novos protestos anti-imigração na noite de quarta-feira (07/08), milhares de pessoas se manifestaram em várias cidades para marcar sua oposição ao racismo e à islamofobia.
“É importante que não relaxemos”, disse o chefe do governo britânico, anunciando que presidirá outra reunião de crise com policiais de elite nesta quinta-feira. Embora a noite de quarta-feira tenha transcorrido “muito melhor do que o esperado”, “não vamos desistir de nossos esforços”, continuou ele, martelando sua mensagem de firmeza, depois de visitar uma mesquita em Solihull (centro).
Por sua vez, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, agradeceu em uma mensagem no X àqueles que se manifestaram pacificamente para mostrar que a capital está “unida contra o racismo e a islamofobia”, bem como aos “heróicos policiais que trabalham dia e noite para manter os londrinos seguros”.
“Eu moro no bairro e não queremos essas pessoas (de extrema direita) em nossas ruas. Eles não nos representam”, disse Sara Tresilian, de 58 anos, uma das milhares de pessoas que se manifestaram no bairro londrino de Walthamstow na noite de quarta-feira.
Demonstração de unidade
Ativistas do Stand Up To Racism e moradores locais, alguns carregando bandeiras palestinas, seguravam cartazes com os dizeres “Parem a extrema direita” e “Refugiados são bem-vindos”, em forte contraste com os atos hostis que tiveram como alvo mesquitas e hotéis que abrigam requerentes de asilo na última semana.
O chefe da polícia de Londres, Mark Rowley, disse na manhã de quinta-feira que estava “muito satisfeito com a maneira como as coisas aconteceram”, graças à mobilização da polícia e do público.
Falando aos jornalistas, ele elogiou a “demonstração de unidade”, mesmo que “em alguns lugares os delinquentes locais tenham vindo” para praticar atos “anti-sociais”.
Em Birmingham (centro), centenas de pessoas se reuniram do lado de fora de um centro de ajuda a migrantes. Imagens de vídeo da agência AFP mostraram slogans como “Vamos dizer em alto e bom som, os refugiados são bem-vindos aqui”. Alguns portavam cartazes com os dizeres “O fascismo não é bem-vindo”.
Outras manifestações se dispersaram pacificamente em várias outras cidades, de Brighton (sul) a Bristol (oeste), passando por Liverpool (norte).
Informações falsas
No entanto, tensões e confrontos surgiram de tempos em tempos, como em Aldershot (sul), onde, de acordo com a agência de imprensa britânica PA, a polícia teve que intervir num conflito entre ativistas antirracistas e um grupo de pessoas que gritavam “Stop the boats” (parem os barcos), em referência aos migrantes que chegam ao Reino Unido pelo Canal da Mancha em barcos infláveis.
Em Belfast, a polícia anunciou que havia feito cinco prisões após a violência de quarta-feira, em uma noite marcada por novos atos racistas. Enquanto o parlamento local se reúne nesta quinta-feira devido à crise, a premiê da Irlanda do Norte, Michelle O’Neill, enfatizou que “não há lugar para o racismo, sob nenhuma forma, em nossa sociedade”.
Mais de 400 pessoas foram presas desde o início dos confrontos e mais de 120 pessoas foram acusadas na Inglaterra e no País de Gales, de acordo com os promotores. As primeiras condenações, de até três anos de prisão, começaram na quarta-feira. Nesta quinta-feira, dois homens presos durante incidentes na semana passada foram condenados a dois anos e oito meses de prisão.
Na última semana, o Reino Unido assistiu a cenas de violência racista, após a circulação de informações parcialmente negadas sobre o perfil do suposto autor de um ataque com faca em uma aula de dança, no qual três meninas com idades entre 6 e 9 anos foram mortas em Southport (noroeste da Inglaterra).
O suspeito foi apresentado como um solicitante de asilo de fé muçulmana. Na verdade, ele nasceu em Cardiff, País de Gales, e sua família é de Ruanda, de acordo com a mídia britânica.