O partido do presidente da Coreia do Sul, Partido do Poder Popular (PPP), da extrema direita, pediu nesta sexta-feira (06/12) que o mandatário, Yoon Suk-yeol, renuncie ao cargo em meio a um processo de impeachment após ter decretado lei marcial , que restringe direitos e atividades políticas, durou apenas seis horas e provocou protestos por todo o país.
“O presidente não tomou nenhuma ação pessoal contra funcionários militares que agiram ilegalmente. Além disso, não reconhece que essa lei marcial ilegal seja errada”, disse Han Dong-hoon, líder do PPP.
“Se Yoon continuar a exercer o cargo de presidente, existirá o risco de que ações extremistas similares possam se repetir, colocando a República da Coreia e seus cidadãos em grave perigo”, acrescentou o líder da legenda conservadora.
A legenda havia se manifestado contra o pedido de impeachment apresentado pela oposição, o Partido Democrata da Coreia, que detém a maioria no Parlamento, porém o posicionamento de Han pode indicar uma mudança.
Possível racha no PPP
Antes das declarações de Han, já havia indícios de que o impeachment pudesse ser aprovado também por parte da base governista. Ihn Yo Han, membro da Assembleia Nacional e um dos representantes mais renomados da sigla governista da Coreia do Sul, seria um dos líderes da situação que já não apoiam o presidente Yoon. A informação partiu de um alto funcionário próximo aos assuntos discutidos pelo Partido Democrata, da oposição sobre os bastidores da sigla governista.
Com exclusividade a Opera Mundi, indicou na última quarta-feira (04/12) um racha inédito dentro do próprio PPP, relatando que “todos os ministros e vice-ministros, exceto da Defesa Nacional e da Administração Pública e Segurança” rechaçaram o ato de Yoon, pedindo, portanto, a sua renúncia.
“O primeiro-ministro Han Duck Soo e o vice-primeiro-ministro Choi Sang Mook não reconhecem Yoon Suk Yeol como presidente”, revelou. Outras figuras-chave da situação estariam adotando posição semelhante.
Até o momento, a Assembleia contabiliza 192 pessoas que declaradamente apoiam o voto a favor do impeachment de Yoon: 170 membros do Partido Democrata da Coreia, 12 do Partido da Inovação da Pátria, três do Partido da Nova Reforma, três do Partido Progressista, um do Partido da Renda Básica, um do Partido Social Democrata, dois independentes. Ou seja, sendo necessária a aprovação de mais oito membros.
Han também se reuniu com o chefe de Estado nesta sexta, véspera da votação do impeachment no Parlamento, marcada para o próximo sábado (07/12). Em caso de aprovação, Yoon será julgado pela Corte Constitucional, mas ficaria suspenso do cargo durante o processo.
O Artigo 54 e 71 da Constituição sul-coreana afirmam que, se um projeto de impeachment for aprovado pela Assembleia, o presidente deverá “imediatamente” ser suspenso do cargo, e o primeiro-ministro, Han Duck Soo, assumiria o governo interino.
O presidente sul-coreano é acusado, pela oposição – que lidera o pedido de impeachment , com apoio de outras cinco agremiações – de traição e ato inconstitucional devido a sua decisão de decretar lei marcial no país, medida que foi rechaçada pelos deputados.
A crise foi desencadeada na última terça-feira (03/12), quando Yoon presidiu uma reunião extraordinária no gabinete na tentativa de proclamar o ‘Comando de Lei Marcial’ de emergência, alegando que tal medida seria necessária para garantir a “proteção” do país contra a “ameaça de forças comunistas norte-coreanas”, sem apresentar quais seriam tais ameaças, a oposição e a “ditadura legislativa do Partido Democrata”, que constitui a maioria no Parlamento.
Em seguida, o Exército determinou o fechamento do Parlamento, a proibição de protestos e a suspensão de atividades partidárias, porém a Assembleia Nacional aprovou por unanimidade a revogação da lei marcial e, diante da resistência política e popular, Yoon teve de recuar e agora arrisca perder o cargo.
A ação levou o Ministério de Defesa a anunciar, também nesta sexta-feira (06/12) a suspensão de três oficiais de alto escalão do Exército sul-coreano por sua participação na invasão ao Parlamento.
Em detalhes, a pasta informou que os três militares a serem punidos são o comandante militar de Seul, o comandante das forças especiais e o comandante de contraespionagem.
A lei marcial pode ser imposta apenas em situações de guerra ou de emergência nacional comparáveis a um conflito armado, e a tentativa de golpe ocorreu na esteira de disputas entre o governo e a oposição sobre a lei orçamentária e de acusações de corrupção envolvendo o entorno do presidente.
(*) Com Ansa e colaboração de Rocio Paik