O ex-militante italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua por supostos quatro assassinatos na década de 70, deu início a uma nova greve de fome para protestar contra seu isolamento em uma penitenciária na Calábria, Itália.
Condenado à prisão perpétua, Battisti, de 66 anos, escreveu em maio que iria recorrer, “a partir de 2 de junho”, “à greve de fome e à terapia”, e descreveu sua ala de segurança máxima na prisão de Rossano como um “túmulo”.
“Com a esperança de que a Justiça abra uma brecha no muro dos condenados, e até que Cesare Battisti tenha direito a um tratamento humano que deve ser garantido a todos os condenados”, diz o texto enviado pela sua filha.
Em outro documento, Battisti afirma que, “se necessário”, irá continuar a greve de fome “até último suspiro”, declarando que a sua “luta” é de “protesto e de reivindicação de direitos inalienáveis”. “Não há lugar na minha decisão para um desvio psicológico”, disse.
De acordo com informações coletadas por Opera Mundi, Battisti vem recusando atendimento médico após uma petição de transferência de presídio ser indeferida. A prisão de Rossano, na Calábria, fica cerca de 700km de distância dos familiares do italiano.
Além da petição, Battisti reivindica o fim do regime de alta segurança e do isolamento ao qual está submetido fazem dois anos e seis meses, que o impede de conviver com outros detentos e realizar atividades.
Segundo a advogada Sabrina Diniz, em entrevista a Opera Mundi, até o momento, ainda não há qualquer tipo de movimentação por parte da justiça italiana para reaver o caso de Battisti. Inclusive, de acordo com Diniz, a própria imprensa do país não repercutiu o protesto de Battisti.
Diniz ainda comenta que o ex-militante “não espera que sua liberdade seja aprovada, mas, na verdade, quer cumprir sua pena em condições dignas e que seja efetuado o acordo determinado na extradição com o Brasil”.
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Em janeiro de 2019, Battisti foi expulso da Bolívia e extraditado para a Itália
Em janeiro de 2019, Battisti foi expulso da Bolívia e enviado para a Itália, onde havia sido condenado em 1993 à prisão perpétua pela suposta participação em quatro assassinatos na década de 1970.
A advogada comenta que houve um acordo entre o Brasil e a Itália, após a entrega da Bolívia, com o objetivo de isentar o Estado italiano de “cumprir as condições impostas no regular processo de extradição do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, especialmente no que diz respeito ao limite de 30 anos de prisão para a entrega de Battisti ao país europeu.
Durante as eleições de 2018, o então candidato e hoje presidente Jair Bolsonaro defendia a extradição de Battisti. Ao assumir o poder, ele reiterou sua determinação em capturá-lo e enviar para a Itália para o cumprimento da pena.
Após a sua extradição para a Itália, o ex-membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) foi colocado, em 2019, na prisão de segurança máxima na região da Sardenha.
Em setembro de 2020, ele anunciou, por meio de sua defesa, que faria uma greve de fome em protesto contra o regime que estava submetido desde o inicio de 2019. Após quatro dias, Battisti foi transferido para a prisão de Rossano.
O Centro de Defesa dos Direitos Humanos Pedro Lobo (CDDH-PL) enviou nesta quinta-feira (10/06) uma carta à defensoria civil italiana pedindo apoio no caso de Battisti. De acordo com a organização, o ex-ativista coloca a vida em rico na tentativa de “garantir seus direitos e condições dignas de cumprimento de sua pena”.
“Temos informações que pouquíssima notícia sobre sua greve de fome saiu na imprensa italiana. […] Viemos por meio desta carta solicitar a parceria e o apoio de vocês nesse processo de luta pela garantia e efetivação do direito à dignidade humana de Cesare Battisti em solo italiano”, afirmou o CDDH-PL.