O primeiro presidente da Ucrânia independente, Leonid Kravchuk (1991-1994), afirmou nesta quarta-feira (29/01) que o país está muito próximo da eclosão de um conflito civil. Dirigindo-se a todas as forças políticas ucranianas, Kravchuk pediu que seja elaborado um “roteiro” para tirar o país da crise e reforçou a pressão pela aprovação de uma lei de anistia aos manifestantes ucranianos.
“A situação é dramática. O país está à beira da guerra civil”, disse Kravchuk, o primeiro presidente da Ucrânia após a independência, em um discurso na sessão extraordinária que realiza hoje a Rada Suprema, o Parlamento unicameral ucraniano.
Agência Efe
O ex-presidente da Ucrânia, em discurso no Parlamento: “A situação é dramática. O país está à beira da guerra civil”
“É preciso acabar com o processo de destruição do país”, acrescentou, dizendo ser necessário separar os grupos em conflito e dizer aos ucranianos que há um plano para sair da crise.
Kravchuk ressaltou que tanto os opositores quanto os governistas devem entender que nesta luta não pode haver vencedores.
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“Se a maioria parlamentar passar à oposição nada de bom sairá disso. O mesmo ocorrerá se os opositores insistirem em dar um ultimato”, advertiu.
O ex-presidente convocou todos a superar suas desconfianças, já que “a Ucrânia é mais importante que as ambições dos políticos”.
Mediação externa
“Aqui não têm voz nem Estados Unidos nem Rússia, aqui fala a Ucrânia”, disse Kravchuk ao expressar sua rejeição a uma mediação estrangeira para os problemas do país.
Acrescentou que opositores e governistas devem estabeleecer consensualmente, e com urgência, um “roteiro” para apresentar aos ucranianos. Por seu papel na história política da Ucrânia independente, Kravchuk ofereceu-se ainda para atuar como fiadores do cumprimento dos acordos — ele mencionou o também ex-presidente Leonid Kuchma, presente na sala.
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Anistia aos manifestantes
Para tentar debelar a crise, o Parlamento ucraniano está considerando medidas que concedam anistia aos manifestantes detidos durante os protestos. O Legislativo, entranto, está mais inclinado a fixar condições para o benefício; o que seria inaceitável para a oposição.
São duas as propostas de lei de anistia que estão na pauta para serem votadas hoje pelo Parlamento. Uma delas, mais restrita, garante a imunidade judicial apenas após os manifestantes desfazerem as barricadas que tomam Kiev e esvaziarem os prédios públicos ocupados.
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Agência Efe
Manifestantes pró-UE continuam a tomar as ruas da capital ucraniana, Kiev
Nesse contexto, o ex-presidente Kravchuk fez uma convocação aos deputados para aprovar de maneira consolidada a lei de anistia aos participantes dos recentes distúrbios na capital ucraniana e outras cidades do país.
Após o discurso de Kravchuk, o presidente do Parlamento, Vladimir Ribak, decretou um recesso, até as 14h locais (10h de Brasília), para pactuar as posturas dos grupos parlamentares sobre a lei de anistia.
Panorama
Desde novembro, a Ucrânia tem vivido uma onda de protestos depois que o governo Yanukovich se recusou a assinar um acordo com a União Europeia. Desde então, milhares de pessoas saem às ruas diariamente para criticar — e também apoiar, no começo dos protestos — a decisão do presidente. Yanukovich argumenta que o acordo proposto pelo bloco europeu criaria dificuldades para a parcela mais pobre da população de seu país.
Para tentar conter a crise, a Ucrânia assinou um acordo comercial com a Rússia em que Moscou autoriza o envio de US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões) à Ucrânia. A proximidade ou não do vizinho russo também é um elemento importante para a oposição ucraniana pró-UE e os manifestantes que tomaram as ruas de Kiev.
(*) Com informações da Agência Efe