Projeto orçamentário de Trump é aprovado na Câmara dos Representantes
Democratas reagem: 'ataque brutal aos mais pobres e um presente bilionário para os ricos'
O projeto orçamentário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou na Câmara dos Representantes por uma margem apertada de 218 votos a 214, sem o apoio de nenhum democrata e com apenas duas dissidências republicanas — os deputados Thomas Massie (PR – Kentucky) e Brian Fitzpatrick (PR – Pensilvânia).
Chamado por Trump de “One Big Beautiful Bill”, a aprovação provocou reações inflamadas dos democratas. Enquanto o presidente comemorava em Iowa a vitória legislativa com ataques à oposição e promessas de UFC nos jardins da Casa Branca, líderes democratas reagiram, classificando o projeto como um ataque brutal aos mais pobres e um presente bilionário para os ricos.
“Hoje, Donald Trump e o Partido Republicano mandaram uma mensagem aos americanos: se você não é bilionário, nós não damos a mínima para você”, declarou Ken Martin, presidente do Comitê Nacional Democrata. “Os democratas vão se mobilizar e lutar para que todos saibam quem é responsável por um dos piores projetos da história do nosso país”, afirmou.
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez (Partido Democrata, Nova York) alertou os riscos da mudança: “isso não é um simples aumento de orçamento. É uma explosão — tornando o ICE maior que o FBI, o DEA e o sistema penitenciário federal juntos. E as pessoas estão desaparecendo.”
Reações
Lideranças democratas também denunciaram a crueldade das medidas e a frieza de declarações republicanas. O senador Mitch McConnell (Partido Republicano, Kentucky) minimizou as preocupações com o corte do Medicaid: “Eles vão superar isso”, teria dito. Já a senadora Joni Ernst (Partido Republicano, Iowa), em uma reunião pública, rebateu gritos de alerta sobre mortes por falta de cobertura afirmando: “Todos vamos morrer” — provocando reações indignadas.

Trump comemora aprovação da proposta: ‘não poderia haver presente de aniversário melhor para os EUA’
Molly Riley / White House
“Republicanos deveriam se envergonhar por dizerem ‘superem isso’ porque ‘todos vamos morrer’. Eles são responsáveis pelas 50 mil mortes desnecessárias que ocorrerão todo ano por causa deste orçamento mortal”, declarou a deputada Rashida Tlaib (Partido Democrata, Michigan). “É repugnante. Um ato de violência contra nossas comunidades.”
A oposição promete fazer do projeto uma bandeira nas eleições legislativas de 2026. “Os republicanos votaram — de novo — para aumentar os custos, destruir o sistema de saúde e premiar a elite com isenções fiscais”, declarou o House Majority PAC, grupo ligado aos democratas.
Para a deputada Jasmine Crockett (Partido Democrata, Texas), o pacote deixa claro o verdadeiro objetivo da proposta: “Os republicanos não aprovaram este projeto pelo povo. Eles o aprovaram para agradar Trump, proteger os poderosos e promover crueldade disfarçada de política.”
O pacote
O pacote estende os cortes de impostos de 2017, destina centenas de bilhões de dólares ao Pentágono e ao controle de fronteiras, e impõe cortes significativos em programas sociais como o Medicaid, o SNAP (programa de assistência alimentar) e os créditos fiscais para energia limpa. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estima que a medida elevará o déficit em US$ 3,3 trilhões na próxima década.
O texto introduz novos requisitos de trabalho para beneficiários do Medicaid e do SNAP. Pela primeira vez, os estados terão que custear parte do programa alimentar. O CBO estima que até 11,8 milhões de pessoas podem perder a cobertura do Medicaid, enquanto o Centro de Orçamento e Prioridades Políticas projeta que cerca de 8 milhões — um em cada cinco beneficiários — perderão o acesso ao SNAP.
Mudanças nos impostos sobre prestadores de serviços também afetarão o financiamento estadual do Medicaid, agravando a situação dos hospitais rurais, apesar da inclusão tardia de um fundo de US$ 50 bilhões para essas unidades.
As medidas voltadas à imigração estão entre as mais polêmicas. O projeto destina US$ 45 bilhões para instalações de detenção do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Aduanas), US$ 14 bilhões para operações de deportação e bilhões adicionais para contratar 10 mil novos agentes até 2029. Outros US$ 50 bilhões serão aplicados na construção de muros e fortificações na fronteira com o México.
UFC na Casa Branca
“Não poderia haver presente de aniversário melhor para os EUA do que a fenomenal vitória que alcançamos com a aprovação do One Big Beautiful Bill”, comemorou Trump, vestindo um boné vermelho com a inscrição “USA”, durante um comício em Des Moines, no Iowa.
“165 dias após o início do governo Trump, a América está em uma sequência de vitórias como, francamente, ninguém jamais viu antes na história da presidência”, gabou-se.
O comício abriu, oficialmente, o começo das comemorações do 250º aniversário da independência norte-americana, que acontece no próximo ano. Em seu discurso, Trump zombou de Joe Biden, repetindo teorias infundadas sobre fraude eleitoral.
Como parte das comemorações, ele anunciou uma “Grande Feira Estadual Americana” e uma luta do Ultimate Fighting Championship (UFC) para 25.000 espectadores nos jardins da Casa Branca.
Com The Guardian e NYT