A promessa eleitoral mais importante do presidente norte-americano, Barack Obama, a reforma do sistema público de saúde, está fragilizada, ao que indica o posicionamento do Partido Republicano e de parte do Democrata.
A ideia em princípio era que a mudança do sistema partisse do resultado de um consenso político. No entanto, desde a sugestão do plano, houve oposição dos republicanos. Restava a Obama o apoio do seu partido, mas agora, os democratas estão divididos. E como se não fosse suficiente, uma sondagem do instituto de pesquisa Rasmussem Reports revelou que 70% dos norte-americanos estão contentes com o seu seguro pessoal e não sentem necessidade de uma reforma do sistema de saúde.
Obama fez da reforma do sistema de saúde a sua grande bandeira eleitoral, prometendo um seguro subsidiado pelo governo para todos os cidadãos, incluindo a diminuição do preço dos medicamentos, mais opções ao público em termos de cobertura médica e acessível para todos.
Obama fala sobre a reforma no sistema de saúde, após manter encontro com representantes do setor em Washington – EFE/Matthew Cavanaugh
(12/05/2009)
O presidente foi eleito, mas quando começou a expor suas ideias, no mês passado, de como implementar a reforma, começaram a aparecer divergências. O problema básico, dizem os críticos, é que o plano do presidente ameaça a indústria privada da saúde, já que Obama quer que o governo cubra o seguro de cerca de 50 milhões de pessoas que vivem sem essa proteção; cidadãos que seriam atendidos em hospitais do estado.
Além disso, Obama pretende obrigar os empregadores a fornecerem seguros de saúde a todos seus empregados. Caso contrário, pagariam ao governo uma porcentagem de suas receitas para cobrir as despesas daqueles que teriam de recorrer ao seguro estatal. Por outro lado, permitiria que aqueles que já tem um seguro privado passassem a receber um seguro governamental, mais barato.
O problema não é a qualidade dos serviços médicos públicos, dizem os críticos, mas o fato de que todos devem ter a opção de escolher onde cuidar de sua saúde.
“Se o governo se apodera da atenção médica, vamos começar a ser governados por burocratas que tomarão decisões que competem apenas aos médicos e às famílias, e isto limitaria as opções de tratamento, que será racionado”, afirmou ao Opera Mundi o deputado federal republicano Charles Boustany, do estado da Luisiana.
Mesma regras
O plano de Obama não impede especificamente que cada um escolha seu médico, mas ameaça a industria farmacêutica, já que na campanha o presidente deu a entender que autorizaria a compra de medicamentos no exterior, caso os hospitais públicos não recebessem descontos substanciais
Tanto Boustany como outros deputados e senadores afirmam que a reforma do sistema de saúde acarretaria um aumento dos impostos porque quando um seguro estatal fica mais barato que o privado, a tendência é a migração do setor privado para o estatal, e as despesas governamentais aumentariam.
Para frustração de Obama, a oposição republicana também conta com a ajuda de quase metade dos deputados e senadores federais democratas, para quem a proposta presidencial também é vista quase como uma “heresia socialista”.
O senador Charles Schumer, democrata por Nova York, acha que um sistema de saúde controlado nesses termos pelo Estado representa “uma concorrência desleal” para a iniciativa privada. “Penso que um plano de saúde governamental deve ser subsidiado diretamente com o dinheiro que o público pagaria pelo seguro estatal, não com o dinheiro de nossos impostos”, afirmou.
Além disso, “uma seguradora estatal deve operar com as mesmas regras de proteção ao consumidor a que estão obrigadas as privadas”, acrescentou Schumer. “Se isto se cumpre, então o plano estatal será um êxito, terá uma alta qualidade e como não tem um objetivo de lucro, poderia investir na investigação e prevenção de doenças”, sublinhou.
O problema para Shumer é que em 1994 o então presidente Bill Clinton tratou de fazer o mesmo, “mas seu plano fracassou precisamente pelas críticas da direita, republicana e democrata, porque não prestava atenção a este ponto (da iniciativa privada)”.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos anunciou em janeiro o cálculo do nível de pobreza para 2009. Todo indivíduo que ganha menos de 10,83 mil dólares por ano é considerado pobre. Pelo governo, todos os que ganham menos de 20 mil dólares estão protegidos pelo sistema estatal atual, que inclui a terceira idade e os deficientes.
O plano de Obama é oferecer o seguro estatal a todos os que ganhem o equivalente a quatro níveis de pobreza e às famílias composta por quatro pessoas cujos salários em conjunto não ultrapassem os 88,2 mil dólares.
Pesquisa
Mas a sondagem do Rasmussen Reports afirma que pelo menos 35% dos norte-americanos pensam que seu sistema de saúde é bom ou excelente, enquanto que 34% acha que é ruim.
Em principio, estimaram analistas, isto seria suficiente para facilitar a reforma do sistema, no entanto o grande problema surgiu quando a sondagem descobriu que 70% dos norte-americanos estão contentes com o seu seguro de saúde. E 45% deles acreditam que uma reforma do sistema de saúde poderia aumentar os custos do seguro.
Segundo a sondagem, 56% dos norte-americanos que ganham menos de 20 mil dólares anuais tem seguro de saúde. O número sobe para 75% para os que ganham entre 20 mil e 40 mil e acima disso, praticamente todos estão cobertos por algum tipo de seguro.
Campanha
Ante este cenário, a Casa Branca acaba de lançar uma campanha de relações públicas, enviando seus mais altos funcionários ao Capitólio, em Washington, para reuniões com os democratas que se opõem ao plano.
No dia 14 de abril, o principal assessor político do presidente, David Axelrod, reuniu-se com um grupo de senadores democratas para lhes dizer que o Obama quer é o plano aprovado o mais depressa possível e para desenharem uma estratégia para recuperar o voto dos democratas que se opõem ao plano.
“Axelrod nos disse que a Casa Branca tem uma estratégia, e desta vez não vai acontecer o mesmo que aconteceu com Clinton”, acrescentou o senador democrata por Indiana, Evan Bayh.
Obama já deu três discursos defendendo o plano. “Esta reforma tem de ser aprovada este ano”, afirmou numa reunião na Casa Branca. A presidente de Câmara de Deputados, Nancy Pelosi, garantiu que o plano será discutido em agosto.
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